Cafezinho 678 – Doisladismo – Canalhice ou ignorância?

Vivemos tempos curiosos: ninguém mais chama as coisas pelo nome. Agora tudo vem embrulhado com celofane da “neutralidade” e laço de “equilíbrio”. Fica bonito na vitrine, parece sensato, mas é só rasgar o pacote pra sentir o cheiro da covardia. Aí aparecem os diplomatas de rodinha, a turma do “os dois lados têm razão.” Na teoria, parece sábio. Na prática, é uma zona. É o velho truque da falsa equivalência, que no jornalismo americano virou “bothsidesism”.
Em português: doisladismo. Ouviu? Dois-la-dis-mo.
Doisladismo é o vício de fingir simetria onde não existe. Tudo fica no mesmo nível: o fato e o absurdo, lado a lado, com o mesmo peso, num falso equilíbrio que acaba legitimando absurdos, confundindo quem quer clareza. No fim, quem ganha é quem lucra com a confusão.
O doisladismo não é isentismo — é covardia intelectual.
Reconhecer o valor do ser humano é uma coisa. Fingir empate técnico em todo conflito, ignorando evidências, é outra. Colocar achista e cientista na mesma prateleira não esclarece — embaralha. E essa pose de “isento” só serve para quem foge do peso da honestidade. Ou para oportunistas.
Doisladismo é desculpa de quem não quer se comprometer — e vira cúmplice da mentira. Buscar justiça é uma coisa; fugir da responsabilidade, outra. Querer entender os lados é importante, mas não é desculpa para negar o óbvio. Quando ambos os lados são tratados com o mesmo peso, mesmo que só um deles tenha fundamento, nem um nem outro são vistos sob a luz real. O jornalismo, por exemplo, vira um teatro de sombras, e quem está de fora, querendo informação para decidir, só recebe mais fumaça.
Em vez do doisladismo, faça o seguinte: dê mais valor para quem tem provas de verdade, não para quem só fala da boca para fora. E, especialmente, olhe para as consequências do que cada lado defende — pense no que é certo, não só no que é popular.
Tenha coragem de apontar o direito sem se preocupar com o que os tortos vão pensar. Porque, no fim das contas, insistir que todos são igualmente culpados quando não são… não é justiça, não é ponderação. É traição à verdade. É um convite ao cinismo.
Deixe de ser doisladista.