Estamos sendo bombardeados por dezenas de manifestações de gente deslumbrada com humoristas ruins, performances pobres, arte de quinta categoria, rebeldes de araque e manifestações supostamente transgressoras em festivais e na televisão. Transgressores, é? Sei…
Posso entrar?
Amigo, amiga, não importa quem seja, bom dia, boa tarde, boa noite, este é o Café Brasil e eu sou o Luciano Pires.
Antes de começar o show, um recado: preparamos um resumo do roteiro deste programa com as principais ideias apresentadas. É um guia para você complementar aquelas reflexões que só o Café Brasil provoca. Para baixar gratuitamente acesse o roteiro deste programa no portalcafebrasil.com.br/592.
E quem vai levar o e-book Me engana que eu gosto é o Adriano Cabral, de Goiânia.
“Aqui quem está falando é Adriano Cabral, eu falo de Goiânia, uma manhã quentíssima pra variar, né? Seca. Seca. A umidade do ar aqui tá pra 15% e olhe lá. Deixa eu ver… Estamos com bandeira…. não dá pra ver a bandeira, mas está muito quente. Muito seco. E além de estar muito seco, ainda tem o pessoal das queimadas que adoram fazer queimadas nesta época do ano. Legal. Interessante isso, né? Pessoal que não tem cuidado aqui, então o cerrado além de ter uma questão biológica, eu li uma vez, dizem que ele tem uma combustão… auto combustão, já faz parte do sistema do cerrado, né? E ainda tem um pessoal que ajuda, né? Fazendo queimada aí, queimando parque a torto e a direito.
Mas eu não cheguei aqui pra falar a respeito disso. Cheguei pra falar a respeito do Despacito. Por acaso Luciano teve a, como é que se diz… a inspiração baseado num dos quadros do Zorra? Eu estou considerando o Zorra um quadro muito bom, um programa muito bom que deixou de ser humorístico, pra ser quase jornalístico, crônica do dia a dia, né? Não dá nem pra rir. A gente não sabe se ri ou se chora, me lembra lá a TV Pirata na época, né? E num desses aí, foi exatamente isso que ele escreveu, que foi descrito no programa sabe, aquela coisa, aquela música. Se tiver oportunidade aí de poder rever esse quadro do Zorra total, ilustra muito bem esse podcast aí, a respeito do Despacito. Muito interessante. Muito interessante.
E agora também, eu estava vendo Manu Chao, que também, vai se chiclete assim lá na vendinha da esquina, viu? Pela madrugada…e ele cai direitinho naquelas características que o seu Luciano passou pra gente aí. Como sempre né? Um programa com mais um grande aprendizado pra gente poder tentar filtrar as coisas que a gente vai ouvindo, né?
É isso aí. Era só pra comentar esse programa. Eu tinha mais coisa agora esqueci, senão vai ficar muito longo. Um abraço pro senhor, seu Luciano, Lalá, todos os ouvintes aí. E pra senhora dona Ciça. Beijão. Tchau.”
Boa Adriano! Olha, eu não assisto o Zorra não, ainda não superei as temporadas antigas… Eu preciso dar uma olhada uma hora destas, tenho ouvido falar bem. Aliás é no humor que estiveram grandes transgressores, não só no Brasil, mas no mundo! Vamos que vamo, vai!
Muito bem. O Adriano receberá um KIT DKT, recheado de produtos PRUDENCE, como géis lubrificantes e preservativos masculino e feminino. PRUDENCE é a marca dos produtos que a DKT distribui como parte de sua missão para conter as doenças sexualmente transmissíveis e contribuir para o controle da natalidade. O que a DKT faz é marketing social e você contribui quando usa produtos Prudence. facebook.com/dktbrasil
Vamos lá então! Lalá: na hora do amor…
Lalá – Não dá pra ser um transgressor, né? Tem que usar Prudence.
E o Café Brasil Premium, hein? A nossa “Netflix do Conhecimento”. Cara: o negócio está indo super bem lá. São mais de mil inscritos, recebendo todo o material, já botamos no ar dez kits com sumários, com videocast, com uma pancada de coisas ali e o retorno está sendo sensacional, cara! As pessoas estão adorando, estão gostando e o mais legal de tudo, a gente criou uma área no Telegram, um grupo fechado onde as coisas que acontecem ali, você não acredita. Esses caras chegaram a criar um podcast dentro do grupo do Café Brasil Premium, cara! Pode? Tá esperando o que, hein? Vem, vem, vem: cafebrasilpremium.com.br
Conteúdo extra-forte.
You Don’t Know Me
Caetano Veloso
You don’t know me
Bet you’ll never get to know me
You don’t know me at all
Feel so lonely
The world is spinning round slowly
There’s nothing you can show me
From behind the wall
Show me from behind the wall
Show me from behind the wall
Show me from behind the wall
Nasci lá na Bahia de mucama com feitor
O meu pai dormia em cama, minha mãe no “pisador”
Laia ladaia sabadana Ave Maria
“Eu você nos dois, já temos um passado meu amor
Um violão guardado, aquela flor
e outras mumunhas mais”
Eu agradeço ao povo brasileiro
Norte, centro, sul inteiro
Onde reinou o baião
Começo com Nicolas Fresard, arrasando com You don’t know me do Caetano Veloso. Aliás, cara, procura esse sujeito aí: Nicolas Fresard no Youtube. Tem coisas ali do arco da velha.
No dia 20 de Setembro de 2017 publiquei uma série de vinte e um posts marcados com a hashtag #TransgressaoEhIsso (Transgressão É Isso). Fui motivado a postar após ser bombardeado por dezenas de manifestações de gente deslumbrada com uns humoristas ruins aí, cara, com gente fazendo performances paupérrimas, arte de quinta categoria, uns rebeldes de araque com manifestações supostamente transgressoras em festivais por aí, na televisão. Gente que se diz inovadora, transgressora atrás da justiça social.
Olha cara, é preciso ter memória, viu? Uma coisa é “transgredir” diante de uma plateia a favor do transgressor. Outra coisa é transgredir num ambiente completamente contra aquilo a que você se propõe. Entenda “ambiente contra” como um público não receptivo que reagirá com raiva e até violência, um governo ditatorial e empresas e organizações sociais que pensam diferente de você. Num ambiente assim, cara, os riscos eram imensos, inclusive para a integridade física do transgressor. Foi assim nos anos 30, 40, 50, 60, 70, 80 e até nos 90, quando algumas pessoas corajosamente quebraram regras sociais e políticas, impactando enormemente na cultura brasileira.
Vou aqui neste programa elencar os 21 transgressores que eu citei naqueles posts lá. Vamos a eles. Aqui eu vou numa ordem que é a mesma dos posts, não tem uma sequência lógica, foi pela memória mesmo.
E olha: antes que eu me esqueça, baseado em alguns comentários que recebi por conta daquele post, deixa eu já colocar aqui um #TutorialParaEntenderOPost Não estou interessado neste momento nas causas que esses brasileiros defendiam. Eu estou interessado em demonstrar que eles tiveram coragem, originalidade e, acima de tudo, persistência e um propósito em suas manifestações. É muito diferente das manifestações rasas e marqueteiras de muitos dos “transgressores” que hoje aí estão por aí, tá?
Entendeu? Ao falar aqui de um transgressor não quer dizer que assino em baixo das coisas que ele defendia. Estou falando do processo. Vamos lá:
… passa a me conhecer através do que eu faço. Porque na realidade eu não sei o que eu sou. E se é invenção eu não posso saber. Se eu já soubesse o que seriam essas coisas, já não seriam mais invenção.
Hélio Oiticica – 1968 – artista plástico, criador de performances anarquistas. Hélio frequentava a Mangueira e conhecia muito bem o mundo da marginalidade. Conforme algumas pessoas, ele conhecia bem até demais, cara. Dentro de uma lógica de transgressão de valores burgueses, tinha certo fascínio pelos tipos marginais e malandros. O marginal Cara de Cavalo, acusado de matar um policial, foi uma das primeiras vítimas do esquadrão da morte carioca, em outubro de 1964. Hélio criou então um banner com a imagem do corpo do bandido e a frase “Seja marginal, Seja Herói”. Esta obra é marcante no movimento chamado de marginália ou cultura marginal, que passou a fazer parte do debate cultural brasileiro, a partir do final de 1968, durando até meados da década de setenta. O artista foi acusado de fazer apologia ao crime. Esse banner, exposto num show de Caetano Veloso, Gil e Os Mutantes na boate Sucata em 1968, foi uma das razões de Caetano ser “convidado” a deixar o Brasil junto com Gilberto Gil para cumprir exílio em Londres.
https://www.youtube.com/watch?v=K3gcujb4N1s
… eu pertencia a uma sociedade esotérica na época, em 74, que me deu um terreno em Minas Gerais. Eu construi uma cidade chamada Cidade das Estrelas, onde o advogado era o não advogado, o policial era não policial, os conceitos e valores trocados, né?
Raulzito, cara! Não precisa de apresentações. O baiano que tem as raízes no rock, surge como um meteoro para impactar a música brasileira com canções, letras (em parceria com Paulo Coelho) e performances absolutamente transgressoras. Mesmo quem não gosta dele sabe de sua importância.
Os Mutantes com Gilberto Gil em 1967.
Domingo no Parque
Gilberto Gil
O rei da brincadeira
Ê, José!
O rei da confusão
Ê, João!
Um trabalhava na feira
Ê, José!
Outro na construção
Ê, João!…
A semana passada
No fim da semana
João resolveu não brigar
No domingo de tarde
Saiu apressado
E não foi prá Ribeira jogar
Capoeira!
Não foi prá lá
Pra Ribeira, foi namorar…
O José como sempre
No fim da semana
Guardou a barraca e sumiu
Foi fazer no domingo
Um passeio no parque
Lá perto da Boca do Rio…
Foi no parque
Que ele avistou
Juliana
Foi que ele viu
Foi que ele viu Juliana na roda com João
Uma rosa e um sorvete na mão
Juliana seu sonho, uma ilusão
Juliana e o amigo João…
O espinho da rosa feriu Zé
(Feriu Zé!) (Feriu Zé!)
E o sorvete gelou seu coração
O sorvete e a rosa
Ô, José!
A rosa e o sorvete
Ô, José!
Foi dançando no peito
Ô, José!
Do José brincalhão
Ô, José!…
O sorvete e a rosa
Ô, José!
A rosa e o sorvete
Ô, José!
Oi girando na mente
Ô, José!
Do José brincalhão
Ô, José!…
Juliana girando
Oi girando!
Oi, na roda gigante
Oi, girando!
Oi, na roda gigante
Oi, girando!
O amigo João (João)…
O sorvete é morango
É vermelho!
Oi, girando e a rosa
É vermelha!
Oi girando, girando
É vermelha!
Oi, girando, girando…
Olha a faca! (Olha a faca!)
Olha o sangue na mão
Ê, José!
Juliana no chão
Ê, José!
Outro corpo caído
Ê, José!
Seu amigo João
Ê, José!…
Amanhã não tem feira
Ê, José!
Não tem mais construção
Ê, João!
Não tem mais brincadeira
Ê, José!
Não tem mais confusão
Ê, João!…
Êh! Êh! Êh Êh Êh Êh!
Êh! Êh! Êh Êh Êh Êh!
Gil ganhou o segundo lugar no III Festival de Música Popular da TV Record, com a canção Domingo no parque, acompanhado dos Mutantes, com moderno arranjo de Rogério Duprat, também premiado em primeiro lugar nesse quesito. Ao lado de “Alegria, Alegria”, de Caetano, Domingo no parque se tornou um divisor na música brasileira. Gil buscava um som mais universal para a música que se fazia naquela época e usou elementos baianos, como o som do berimbau e a roda de capoeira, misturados com as guitarras dos mutantes. A história de José e João tem narrativa cinematográfica e o arranjo orquestral de Duprat quebrou tudo num tempo em que a música era bem quadradinha.
Paulo Cesar Cajú em 1969.
https://www.youtube.com/watch?v=A8RzZwQUG8I
… Dentro da minha vida profissional, que fazem onze anos, eu sempre fui uma pessoa polêmica, sempre fui uma pessoa que tive uma imagem deturpada. E eu acho até importante isso, porque 50% da população do Brasil gosta de mim e a outra metade tem certas restrições ao tipo de vida que eu levo ou à minha vida profissional. então isso pra mim é importante. É sinal de que as pessoas pelo menos se preocupam comigo.
Jogador de futebol, craque da bola, foi reserva na seleção que ganhou o tri em 1970. Playboy, rico, circulava com carrões do ano, cabelo black power, pintado em acaju, namoradas brancas, jóias e… drogas, cara! Marrento, briguento, não levava desaforo para casa e ajudou, ao transgredir as regras sociais da época, o movimento black a se firmar no país.
Dzi Croquettes – 1972 – Grupo performático criado pelo coreógrafo Lennie Dale, que você ouve aí ao fundo interpretando LOVER. As apresentações andróginas transgressoras dos Dzi Croquettes levaram seu primeiro espetáculo, Gente computada igual a você, a ser censurado pelo regime militar. O grupo exilou-se em Paris, onde fez grande sucesso.
Clovis Bornay – anos 1960 e 1970 – Museólogo e carnavalesco, criador dos bailes de carnaval de gala em 1937 e dos famosos concursos de fantasias, vários dos quais ele venceu. Foi o introdutor da figura do destaque nos carros das escolas de samba. Foi jurado de programas de televisão, sempre exuberante no figurino e nos trejeitos assumidamente gays. Numa época cara, em que sair do armário era complicado…
Beija Flor de Nilópolis – 1989
Ratos e urubus, larguem a minha fantasia
G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis
Reluziu… É ouro ou lata
Formou a grande confusão
Qual areia na farofa
É o luxo e a pobreza
No meu mundo de ilusão
Xepa de lá pra cá xepei
Sou na vida um mendigo
da folia eu sou rei
Sai do lixo a pobreza
Euforia que consome
Se ficar o rato pega
Se cair urubu come
Vibra meu povo
Embala o corpo
A loucura é geral
Larguem minha fantasia
Que agonia… Deixem-me
Mostrar meu carnaval
Firme… Belo perfil!
Alegria e manifestação
Eis a Beija-flor tão linda
Derramando na avenida
Frutos de uma imaginação
Leba – laro – ô ô ô ô
Ebó lebará – laiá – laiá – ô
No desfile das escolas de samba na Sapucaí, a Beija Flor foi proibida por uma liminar obtida pela igreja católica de apresentar uma réplica do Cristo Redentor caracterizado de mendigo. O enredo chamava-se “Ratos e urubus, larguem a minha fantasia”, do carnavalesco Joãosinho Trinta. A alegoria entrou na Sapucaí, mas coberta por sacos plásticos de lixo preto e uma faixa com a mensagem “Mesmo proibido, olhai por nós”. A Beija-Flor fez um desfile memorável e acabou como vice-campeã do carnaval, perdendo o título para a Imperatriz Leopoldinense.
Zuzu Angel – Anos 1960 e 1970.
Ela nunca arregou. Ela ia pra avião, pegava o microfone e dizia assim: mataram meu filho, assim, assim, assim. Na rua ela se vestia de preto: olha! Sabe que a ditadura matou meu filho? Era uma coisa assim… ela queria enterrar o filho dela, né?
Angélica
Chico Buarque
Quem é essa mulher
Que canta sempre esse estribilho?
Só queria embalar meu filho
Que mora na escuridão do mar
Quem é essa mulher
Que canta sempre esse lamento?
Só queria lembrar o tormento
Que fez o meu filho suspirar
Quem é essa mulher
Que canta sempre o mesmo arranjo?
Só queria agasalhar meu anjo
E deixar seu corpo descansar
Quem é essa mulher
Que canta como dobra um sino?
Queria cantar por meu menino
Que ele já não pode mais cantar
Quem é essa mulher
Que canta sempre esse estribilho?
Só queria embalar meu filho
Que mora na escuridão do mar
Pesado né? Você ouviu outra transgressora, Elke Maravilha, falando da busca de Zuzu Angel, estilista que ficou conhecida nacional e internacionalmente não apenas por seu trabalho inovador na moda mas também por sua procura pelo filho. Stuart Angel participou da luta armada contra o regime militar e foi assassinado pelo governo e transformado em desaparecido político.
https://www.youtube.com/watch?v=2njisDw3HmA
Ao fundo você ouve ANGÉLICA, canção que Chico Buarque escreveu em homenagem a Zuzu, que enfrentou as autoridades da época e levou sua busca a se tornar conhecida no exterior.
Em setembro de 1971, ela chegou a realizar um desfile-protesto no consulado do Brasil em Nova York, tecnicamente território brasileiro, pois uma lei da ditadura militar impedia que brasileiros criticassem o país no exterior. Fazendo o desfile no consulado – que foi pego de surpresa pelo tema – ela não podia ser acusada de criticar o país fora dele.
Eu coloquei o vídeo do desfile-protesto de Zuzu em Nova York, no roteiro deste programa no Portal Café Brasil.
Zuzu Angel só foi calada ao morrer num suspeitíssimo acidente de trânsito em 1976.
Vida Alves e Georgia Gomide em 1963 – No teleteatro A Calúnia, na TV Tupi, as duas atrizes protagonizaram aquele que seria considerado o primeiro beijo gay na televisão brasileira. É sim, cara. Você aí todo assanhado com a novelinha da Globo e as duas se beijando em 1963… Mais de cinquenta anos atrás. E sem torcida a favor. A própria Vida Alves conta como foi…
O beijo gay foi uma história anos depois.Era uma história bem escrita, bem feita, adaptação de um filme A Calúnia. E esse filme, era um colégio com duas moças diretoras e uma menina lança a calúnia de que elas eram amantes. Não eram. Mas, eram muito interessadas no colégio, naquelas coisas, muito unidas. Nos Estados Unidos a história se passa. Os meninos foram saindo, saindo, saindo, porque era uma vergonha duas mulheres… e hoje, que se rasga o verbo no palco……. Mas, é uma coisa fora do comum, então é estranhável. E aí, elas ficam quietas, tristes, sozinhas, solitárias, se olham e percebem que se amam.
Agora a gente vem com o Abelardo Barbosa, o Chacrinha Anos 1940 a 1980.
A gente não botou a vinheta dele aqui, pra não quebrar o clima, né? Chacrinha foi um apresentador de programas de auditório primeiro no rádio e depois na televisão. Quebrou todas as regras. Todas as regras. Cara, ele é conhecido, não é preciso falar muito dele, não.
Dercy Gonçalves – a partir de 1929, mas em especial em 1991.
Jura
Sinhô
Jura
Jura, jura pelo Senhor
Jura,
Pela imagem da Santa Cruz do Redentor
Pra ter valor
A tua jura,
Jura, jura de coração
Para que um dia
Eu possa dar-te o meu amor
Sem mais pensar na ilusão
Daí então dar-te eu irei
Um beijo puro na catedral do amor
Dos sonhos meus,
Bem juntos aos teus
Para fugir das aflições da dor
Jura
Jura, jura pelo Senhor
Jura,
Pela imagem da Santa Cruz do Redentor
Pra ter valor
A tua jura,
Jura, jura de coração
Para que um dia
Eu possa dar-te o meu amor
Sem mais pensar na ilusão
Daí então dar-te eu irei
Um beijo puro na catedral do amor
Dos sonhos meus,
Bem juntos aos teus
Para fugir das aflições da dor
Daí então dar-te eu irei
Um beijo puro na catedral do amor
Dos sonhos meus,
Bem juntos aos teus
Para fugir das aflições da dor
Na Marquês de Sapucaí, aos 83 anos, Dercy desfila no topo do carro abre-alas da escola Viradouro, com os seios à mostra. Ninguém, cara, ninguém foi mais transgressor que Dercy.
https://www.youtube.com/watch?v=EhlrRJJA73M&feature=youtu.be
… quem é que tem moral de vir me prender? Ninguém…. Uma mulher vivida como eu, trabalhei a vida inteira, sempre trabalhei, sempre fiz bom procedimento, bom comportamento, exemplar de vida como mulher, como brasileira, tem moral? Alguém tem moral pra me prender? Venha!!! Venha que eu dou-lhe uma bucetada…..
Caetano Veloso – 1968 – na terceira edição do Festival Internacional da Canção, o FIC, da TV Globo, Caetano Veloso participou já como um “tropicalista”, em função do álbum Tropicália ou Panis et Circensis, gravado por ele e outros artistas do recém-criado movimento, em maio do mesmo ano. Caetano trouxe para o festival “É Proibido Proibir”, uma canção que evocava um dos gritos da juventude que havia virado Paris de cabeça para baixo em maio de 1968. Caetano já imaginava que transformaria sua apresentação em um acontecimento. A canção se classificou para a final paulista do festival, que foi realizada no teatro TUCA, da PUC. Acompanhado pelos Mutantes, que traziam guitarras para a MPB, Caetano foi vaiado selvagemente. Enfrentou a plateia com um discurso inflamado que entrou para a história como um dos momentos mais emblemáticos dos tempos do governo militar.
Cara! Você quer ver o que é ter culhão?
https://www.youtube.com/watch?v=Od_4eaH3J7A
Mas é isso que é a juventude que diz que quer tomar o poder? Vocês têm coragem de aplaudir, este ano, uma música, um tipo de música que vocês não teriam coragem de aplaudir no ano passado! São a mesma juventude que vão sempre, sempre, matar amanhã o velhote inimigo que morreu ontem! Vocês não estão entendendo nada, nada, nada, absolutamente nada. Hoje não tem Fernando Pessoa. Eu hoje vim dizer aqui, que quem teve coragem de assumir a estrutura de festival, não com o medo que o senhor Chico de Assis pediu, mas com a coragem, quem teve essa coragem de assumir essa estrutura e fazê‑la explodir foi Gilberto Gil e fui eu. Não foi ninguém, foi Gilberto Gil e fui eu! Vocês estão por fora! Vocês não dão pra entender. Mas que juventude é essa? Que juventude é essa? Vocês jamais conterão ninguém. Vocês são iguais sabem a quem? São iguais sabem a quem? Tem som no microfone? Vocês são iguais sabem a quem? Àqueles que foram na Roda Viva e espancaram os atores! Vocês não diferem em nada deles, vocês não diferem em nada. E por falar nisso, viva Cacilda Becker! Viva Cacilda Becker! Eu tinha me comprometido a dar esse viva aqui, não tem nada a ver com vocês. O problema é o seguinte: vocês estão querendo policiar a música brasileira. O Maranhão apresentou, este ano, uma música com arranjo de charleston. Sabem o que foi? Foi a Gabriela do ano passado, que ele não teve coragem de, no ano passado, apresentar por ser americana. Mas eu e Gil já abrimos o caminho. O que é que vocês querem? Eu vim aqui para acabar com isso! Eu quero dizer ao júri: me desclassifique. Eu não tenho nada a ver com isso. Nada a ver com isso. Gilberto Gil. Gilberto Gil está comigo, para nós acabarmos com o festival e com toda a imbecilidade que reina no Brasil. Acabar com tudo isso de uma vez. Nós só entramos no festival pra isso. Não é Gil? Não fingimos. Não fingimos aqui que desconhecemos o que seja festival, não. Ninguém nunca me ouviu falar assim. Entendeu? Eu só queria dizer isso, baby. Sabe como é? Nós, eu e ele, tivemos coragem de entrar em todas as estruturas e sair de todas. E vocês? Se vocês forem… se vocês, em política, forem como são em estética, estamos feitos! Me desclassifiquem junto com o Gil! junto com ele, tá entendendo? E quanto a vocês… O júri é muito simpático, mas é incompetente. Deus está solto! Fora do tom, sem melodia. Como é júri? Não acertaram? Qualificaram a melodia de Gilberto Gil? Ficaram por fora. Gil fundiu a cuca de vocês, hein? É assim que eu quero ver.
Chega!
Uau, cara! Big Boy nos anos 1970 – Newton Alvarenga Duarte, o Big Boy, brilhou nas rádios Mundial e Eldo pop, do Rio de Janeiro. Foi o mais famoso disc-jockey de sua época, mudando a forma de apresentar as músicas, trazendo para o Brasil artistas de vanguarda e transformando completamente a plástica das rádios brasileiras.
Helter Skelter
John Lennon
Paul McCartney
When I get to the bottom I go back to the top of the slide
Where I stop and I turn and I go for a ride
Till I get to the bottom and I see you again
Do you, don’t you want me to love you?
I’m coming down fast but I’m miles above you
Tell me tell me tell me come on tell me the answer
You may be a lover but you ain’t no dancer
Helter skelter helter skelter
Helter skelter
Will you, won’t you want me to make you
I’m coming down fast but don’t let me break you
Tell me tell me tell me the answer
You may be a lover but you ain’t no dancer
Look out helter skelter helter skelter
Helter skelter
Look out, cause here she comes
When I get to the bottom I go back to the top of the slide
And I stop and I turn and I go for a ride
And I get to the bottom and I see you again
Well do you, don’t you want me to make you?
I’m coming down fast but don’t let me break you
Tell me tell me tell me the answer
You may be a lover but you ain’t no dancer
Look out helter skelter helter skelter
Helter skelter
Look out helter skelter
She’s coming down fast
Yes she is
Yes she is
I got blisters on my fingers!
Tobogã
Quando eu chego ao fundo, eu volto ao topo do escorregador
Onde eu paro e me viro e dou uma volta
Até eu chegar ao fundo e te ver novamente
Você não quer que eu te ame, quer?
Estou descendo rápido mas estou milhas acima de você
Me diga, me diga, me diga, vamos, me diga a resposta
Você pode ser uma amante, mas não é nenhuma dançarina
Tobogã, tobogã
Tobogã, yeah!
Você não vai querer que eu te faça, vai?
Estou descendo rápido mas não me deixe te quebrar
Me diga, me diga, me diga a resposta
Você pode ser uma amante, mas não é nenhuma dançarina
Preste atenção! Tobogã, tobogã!
Tobogã!
Preste atenção, porque ai vem ela!
Quando eu chego ao fundo eu volto ao topo do escorrega
E eu paro, me viro, e dou uma volta
E eu chego ao fundo e te vejo novamente!
Bem, você não quer que eu te faça, quer?
Estou descendo rápido mas não me deixe te quebrar
Me diga, me diga, me diga, a resposta
Você pode ser uma amante, mas não é nenhuma dançarina
Preste atenção! Tobogã, tobogã
Tobogã, tobogã!
Preste atenção! Tobogã
Ela está descendo rápido
Sim, ela está
Sim, ela está
Eu estou com bolhas no dedos!
Sangue Latino
João Ricardo
Paulinho Mendonça
Jurei mentiras e sigo sozinho, assumo os pecados
Os ventos do norte não movem moinhos
E o que me resta é só um gemido
Minha vida, meus mortos, meus caminhos tortos,
Meu sangue latino, minha alma cativa
Rompi tratados, traí os ritos
Quebrei a lança, lancei no espaço
Um grito, um desabafo
E o que me importa é não estar vencido
Minha vida, meus mortos, meus caminhos tortos,
Meu sangue latino, minha alma cativa
Secos e Molhados – anos 1970 – Ney Matogrosso, João Ricardo e Gerson Conrad formaram o Secos e Molhados no começo dos anos 70. Figurino e maquiagem extravagantes, a postura andrógina e provocativa de Ney e músicas e sonoridades fantásticas e letras que incluíam poemas de Cassiano Ricardo, Vinícius de Moraes, Oswald de Andrade, Fernando Pessoa e João Apolinário, fizeram desta talvez a mais revolucionária banda brasileira de todos os tempos. Em fevereiro de 1974, realizaram um concerto no Maracanãzinho que bateu todos os índices de público jamais visto no Brasil. O estádio comportava 30 mil pessoas e outras 90 mil ficaram do lado de fora. Aliás, a apresentação de Ney Matogrosso no primeiro Rock In Rio em 1985 deixa qualquer “transgressor” de 2017 no chinelo.
Rosa
Pixinguinha
Tu és divina e graciosa
Estátua majestosa do amor
Por Deus esculturada
E formada com ardor
Da alma da mais linda flor
De mais ativo olor
Que na vida é preferida pelo beija-flor
Se Deus me fora tão clemente
Aqui nesse ambiente de luz
Formada numa tela deslumbrante e bela
Teu coração junto ao meu lanceado
Pregado e crucificado sobre a rósea cruz
Do arfante peito teu
Tu és a forma ideal
Estátua magistral. Oh, alma perenal
Do meu primeiro amor, sublime amor
Tu és de Deus a soberana flor
Tu és de Deus a criação
Que em todo coração sepultas um amor
O riso, a fé, a dor
Em sândalos olentes cheios de sabor
Em vozes tão dolentes como um sonho em flor
És láctea estrela
És mãe da realeza
És tudo enfim que tem de belo
Em todo resplendor da santa natureza
Perdão se ouso confessar-te
Eu hei de sempre amar-te
Oh flor meu peito não resiste
Oh meu Deus o quanto é triste
A incerteza de um amor
Que mais me faz penar em esperar
Em conduzir-te um dia
Ao pé do altar
Jurar, aos pés do onipotente
Em preces comoventes de dor
E receber a unção da tua gratidão
Depois de remir meus desejos
Em nuvens de beijos
Hei de envolver-te até meu padecer
De todo fenecer
Astolfo Barroso Pinto – anos 1960 até 2017 – Astolfo foi uma atriz, cantora, maquiadora e drag queen brasileira, que entrou para a história como Rogéria. Começou como maquiadora na TV Rio, de onde saiu para uma carreira longa no teatro, cinema e televisão. “Quiseram que eu fosse um transsexual na Espanha. Eu tenho uma mulher em mim, mas não sou. O Astolfo me dá muito orgulho, ele dizia. E é o nome da família que sempre figurou em sua carteira de identidade, a despeito da diva loira que todos conhecemos. “Consegui fazer meu nome, ser respeitada, sou chamada hoje de senhora. Eu peitei e consegui artisticamente meu lugar ao sol. Já fui muito truculenta, mas não tenho mais idade.”
Leila Diniz anos 1970.
Coqueiro verde
Erasmo Carlos
Em frente ao coqueiro verde
Esperei uma eternidade
Já fumei um cigarro e meio
E Narinha não veio
Como diz Leila Diniz
O homem tem que ser durão
Se ela não chegar agora
Não precisa chegar
Pois eu vou me embora
Vou ler o meu Pasquim
Se ela chega e não me vê
Sai correndo atrás de mim
Eu acho teatro um saco. eu digo essas coisas todas. Eu não posso dizer, agora, eu acho teatro chato. Não tenho muito saco não. Esse negócio de toda noite fazer aquela mesma coisa. O que eu acho bacana de cinema e televisão, é isso. Que eu me divirto muito trabalhando. Geralmente eu faço uma zona incrível onde eu trabalho e trabalho sempre com gente que eu gosto.
Eu leio O Pasquim porque é divertido. Eu gosto de me divertir. Porque é inteligente, porque são vocês que fazem, além de serem meus amigos todos, contam coisas que me interessam. O resto eu já sei e nem quero saber.
Leila Diniz – Anos 1970 – Ex professora, depois atriz, Leila Diniz quebrou tabus de uma época em que a repressão dominava o Brasil, escandalizou ao exibir a sua gravidez de biquini na praia, e chocou o país inteiro ao proferir a frase: “Transo de manhã, de tarde e de noite”. Considerada uma mulher à frente de seu tempo, ousada e que detestava convenções, foi invejada e criticada pela sociedade conservadora das décadas de 1960 e 1970 e pelas feministas, que consideravam que ela estava a serviço dos homens. Leila falava de sua vida pessoal sem nenhum tipo de vergonha ou constrangimento. Concedeu diversas entrevistas marcantes à imprensa, mas a que causou um grande furor no país foi a que deu ao jornal O Pasquim em 1969 onde, a cada trecho, falava palavrões que eram substituídos por asteriscos. Depois dessa publicação foi instaurada a censura prévia à imprensa, mais conhecida como Decreto Leila Diniz. Desbocada, insolente, independente, Leila morreu num acidente aéreo, voo JAL471, da Japan Airlines, no dia 14 de junho de 1972, aos 27 anos, no auge da fama, quando voltava de uma viagem à Austrália.
Fernando Gabeira – 1980.
No verão de 1980 explodia Freak Le Boom Boom com Gretchen. Aquele foi o primeiro verão após a anistia política assinada pelo presidente João Figueiredo em 1979 e depois da volta dos exilados ao Brasil. Acostumado a ir à praia nu, na Grécia, o ex-guerrilheiro anistiado Fernando Gabeira, autor do livro “O que é isto, companheiro?” resolveu frequentar o Posto Nove, em Ipanema, com a peça emprestada de sua prima, a também jornalista Leda Nagle. Um maiozinho de crochê minúsculo, cara! Não se falou em outra coisa nas filas de cinema e teatros, onde se viam os recém-liberados “O último tango em Paris”, de Bernardo Bertolucci, e “Rasga coração”, de Oduvaldo Vianna Filho. Gabeira e sua tanga buscavam discutir o machismo e movimentos pela defesa da variedade sexual. Em plenos anos de chumbo.
Jorge Lafond. Anos 1970 a 2000.
Todo mundo nasceu nu
G.R.E.S. Beija-Flor de Nilópolis
A luz resplandeceu no caos
Anunciando um novo dia
Haja terra, água, fogo e ar
Imensas florestas, terríveis animais
Surge o homem…
Todo mundo nasceu nu
Criou seu aparato, que barato!
Começando o rebu
Vestiu a frente
Cobriu atrás
Por baixo dos panos
Sacanagem…
Trepado no cangote
Dos pecados capitais
Galopou a humanidade
Um lindo paraíso descobriu
Sou eu este gigante “Brasil”
Tropeço do meu caminhar
Monstros de aço, em selvas de pedra
Ninho de famintas serpentes
Devoram toda riqueza e beleza
Que sufoco, minha gente!
Hei de vencer, de vencer
No carnaval extravaso o meu canto
Vale o que está escrito, é o grito:
“Olhai os lírios do campo”
Toca fogo no rabo
De quem nada faz
Eu sou povo, me acabo
E não agüento mais
Paulo Jorge Ribeiro Sousa Lima, saiu do corpo de bailarinos do Fantástico em 1974 para trabalhar como ator no Viva o Gordo de Jô Soares e posteriormente em especiais e novelas e até nos Trapalhões. Além disso, Jorge Lafond saía como destaque em carros alegóricos de escolas de samba do Rio de Janeiro e de São Paulo. Em 199o, quando a Escola de Samba Beija Flor saiu com o enredo Todo Mundo Nasceu Nu, Lafond desfilou como destaque num carro alegórico quase totalmente nu, apenas com um disfarce na genitália. Mas foi como Vera Verão, a “quase mulher” do humorístico A Praça é Nossa que Lafond ficou eternizado.
Hoje ele seria execrado pelo deboche do gay afetado que virou sua marca.
Clodovil e Denner anos 160 a 1980
Ne me quitte pas
Jacques Brel
Ne me quitte pas
Il faut oublier
Tout peut s’oublier
Qui s’enfuit déjà
Oublier le temps
Des malentendus
Et le temps perdu
À savoir comment
Oublier ces heures
Qui tuaient parfois
À coups de pourquoi
Le coeur du bonheure
Ne me quitte pas
Moi je t’offrirai
Des perles de pluie
Venues de pays
Où il ne pleut pas
Je creuserai la terre
Jusqu’après ma mort
Pour couvrir ton corps
D’or et de lumière
Je ferai un domaine
Où l’amour sera roi
Où l’amour sera loi
Où tu seras reine
Ne me quitte pas
Ne me quitte pas
Je t’inventerai
Des mots insensés
Que tu comprendras
Je te parlerai
De ces amants là
Qui ont vu deux fois
Leurs coeurs s’embraser
Je te raconterai
L’histoire de ce roi
Mort de n’avoir pas
Pu te rencontrer
Ne me quitte pas
On a vu souvent
Rejaillir le feu
De l’ancien volcan
Qu’on croyait trop vieux
Il est paraît-il
Des terres brûlées
Donnant plus de blé
Qu’un meilleur avril
Et quand vient le soir
Pour qu’un ciel flamboie
Le rouge et le noir
Ne s’épousent-ils pas
Ne me quite pas
Ne me quite pas
Je ne vais plus pleurer
Je ne vais plus parler
Je me cacherai là
À te regarder
Danser et sourire
Et à t’écouter
Chanter et puis rire
Laisse-moi devenir
L’ombre de ton ombre
L’ombre de ta main
L’ombre de ton chien
Ne me quitte pas
Não Me Deixe
Não me deixe
Devemos esquecer
Tudo pode ser esquecido
Que já tenha passado
Esquecer o tempo
Dos mal-entendidos
E o tempo perdido
Tentando saber como
Esquecer as horas
Que as vezes matavam
Com golpes de porquê
O coração da felicidade
Não me deixe
Eu te oferecerei
Pérolas de chuva
Vindas de países
Onde não chove
Eu vou cavar a terra
Até após a minha morte
Para cobrir o seu corpo
De ouro e de luzes
Eu farei um reino
Onde o amor será rei
Onde o amor será lei
Onde você será rainha
Não me deixe
Não me deixe
Eu inventarei
Palavras sem sentido
Que você compreenderá
Eu te falarei
Sobre os amantes
Que viram duas vezes
Seus corações se incendiarem
Eu te contarei
A história deste rei
Morto por não poder
Te conhecer
Não me deixe
Muitas vezes vimos
Renascer o fogo
Do vulcão antigo
Que pensávamos estar velho demais
Dizem que existem
Terras ardidas
Onde nasce mais trigo
Do que num melhor Abril
E quando vem a noite
Para que o céu flameja
Não é que o vermelho e o negro
Se casam
Não me deixe
Não me deixe
Não vou mais chorar
Não vou mais falar
Me esconderei aqui
Para te contemplar
Dançar e sorrir
E para te ouvir
Cantar e depois rir
Deixe que eu me torne
A sombra da sua sombra
A sombra da sua mão
A sombra do seu cão
Não me deixe
Num tempo em que ninguém sabia o que era fashion week”, a grife Clodovil Hernandes era a paixão de um seleto grupo de mulheres abastadas. Ao lado do colega Denner Pamplona de Abreu, o estilista formou nos anos 60, 70 e começo dos 80 a dupla de luxo da alta-costura nacional. Com presença constante na televisão, ambos eram estrelas. Denner morreu muito cedo, mas Clodovil seguiu com programas de televisão e até como Deputado Federal, sempre assumindo sua posição como homossexual de forma elegante, contida e extremamente combativa. Mas sem se aliar ao gaysismo, movimento com cujos métodos não concordava. “Eu não tenho orgulho de ser gay. Tenho orgulho de ser quem eu sou,” era o que ele dizia.
Tony Tornado e Arlete Salles – final dos anos 70 e começo dos 80.
https://www.youtube.com/watch?v=wO3spqTgmcI
Tony Tornado, cantor e ator, explodiu com a famosa BR 3, no V Festival da canção de 1970, tornando-se um dos ícones do movimento black no Brasil. No final dos anos 1970 casou-se com a louríssima atriz Arlete Salles, famosa pela participação no teatro, televisão e cinema. O casal inter-racial estampou capas e mais capas de revistas com seu “amor proibido”, título de uma fotonovela que ambos protagonizaram.
Madame Satã – anos 1940 a 1970 – João Francisco dos Santos, mais conhecido como Madame Satã, foi uma drag queen brasileira, vista como personagem emblemática da vida noturna e marginal carioca na primeira metade do século XX. A ficha criminal ao longo de sua vida é vasta: no total foram 27 anos e 8 meses de prisão, 13 agressões, 4 resistências à prisão, 2 furtos, 2 recepções de furtos, 1 ultraje público ao pudor, 1 porte de arma, resistência à prisão entre outros. Ele definia-se como “Filho de Iansã e Ogum, devoto de Josephine Baker”.
Ufa! Cara! Que programão! Esses foram os transgressores que lembrei, assim, de bate pronto, de memória. Claro, claro que existem muitos, muitos outros… Esses foram os que surgiram assim, rapidamente.
Olha, transgredir é muito mais que pintar o cabelo, urinar na rua ou expor uma pintura de mau gosto. Transgredir é ultrapassar os limites, o que é muito positivo quando quebra tabus e destrói preconceitos de uma cultura. Quando simplesmente quebra a lei, é só um crime. quando é marketing então, não é nada.
Essa ambiguidade sabe, de ser bom de um lado, ruim do outro, quebra a lei, não quebra, permite que a transgressão seja considerada crime conforme o olho de quem julga.
A linha é muito fina, especialmente quando a “transgressão” é feita para vender um produto…
Boneca de piche
Ary Barroso
Venho danado com meus calo quente
Quase enforcado no meu colarinho
Venho empurrando quase toda a gente
Eh! Eh!
Pra ver meu benzinho
Eh! Eh! Eh!
Pra ver meu benzinho
Hum! Hum! Hum!
Pra ver meu benzinho
Nego, tu veio quase num arranco
Cheio de dedo dentro dessas luva
Bem que o ditado diz: nego de branco
Eh! Eh!
É sinar de chuva
É sinar de chuva
É?
É sinar de chuva
Da cor do azeviche, da jabuticaba
Boneca de piche, é tu que me acaba
Sou preto e meu gosto
Ninguém me contesta
Mas há muito branco com pinta na testa
Tem português assim
Nas minhas água
Não!
Que culpa eu tenho
De ser boa mulata?
Nego se tu burrece
As minhas mágoa
Eh! Eh!
Eu te dou a lata
Não!
Eu te dou lata
Não!
Eu te dou lata
Não me farseia
Ó, muié canaia,
Se tu me engana
Vai haver banzé
Eu te sapeco
Dois rabo-de-arraia
Eh!, Eh!
E te piso o pé
Eh! Eh! Eh!
E te piso o pé
Hum! Hum! Hum!
E te piso o pé
Da cor do azeviche, da jabuticaba
Boneca de piche, sou eu que te acaba
Tu é preto e tem gosto
E o programa vai terminando ao som de uma transgressora, com uma raridade, cara! Josephine Baker interpretando Boneca de Pixe, de Ary Barroso. Josephine visitou o Brasil pela primeira vez em 1939 e se apresentou no famoso Cassino da Urca, junto com Grande Otelo num quadro chamado Casamento de Preto, em que ambos cantavam Boneca de Pixe, que acabou se transformando num grande sucesso de Josephine.
Mas por que trazer de volta essas histórias antigas “com cheiro de naftalina” como alguns comentaram nos posts que eu fiz, hein? Porque é preciso conhecer a história, saber da luta, do sofrimento e até do sangue de quem lutou para que hoje pudéssemos estar aqui falando o que nos der na cabeça. Alguém lá atrás pagou caro para você ter a liberdade de me xingar num comentário. Reconhecer essas pessoas e suas lutas nos inspira, motiva e, principalmente, ensina a honrar quem teve peito para enfrentar ameaças reais. e tem um efeito didático de comparar esses que tiveram peito e coragem de colocar a vida em risco com os que hoje fazem mimimi, bláblábla, nhémnhémnhém pra ganhar um dindin.
Com o transgressor de áudios Lalá Moreira na técnica, a transgressora de costumes Ciça Camargo na produção e eu, um transgressorzinho, só zinho, cara, do bem, Luciano Pires, na direção e apresentação.
Estiveram conosco, senta aí ó: o ouvinte Adriano, Nicolas Fresard, Dercy Gonçalves, Elke Maravilha, Vida Alves, Paulo César Cajú, Lennie Dale, Caetano Veloso, Chico Buarque, Mutantes com Gilberto Gil, Trio Mocotó, Leila Diniz, Gretchen, Secos e Molhados, Beija Flor de Nilópolis, Raul Seixas, Big Boy, Beatles, Rogéria, Clodovil, Toni Tornado, Jorge Lafond e Josephine Baker.
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Conteúdo provocativo, grupos de discussão e uma turma da pesada, reunida para trocar ideias de forma educada, compartilhando conhecimento pra no fim crescer todo mundo junto!
E para terminar, uma frase de um transgressor, Alberto Santos Dumont
“Não se espante com a altura do voo. Quanto mais alto, mais longe do perigo. Quanto mais você se eleva, mais tempo há de reconhecer uma pane. É quando se está próximo do solo que se deve desconfiar.”