Café Brasil 513 – O valor da arte

Hummm… quanto vale uma música, hein? E um filme? E uma peça de teatro? Quanto vale um momento que leva você para outra dimensão, que muda seu jeito de ver o mundo? Essas coisas têm preço, hein? Bem, este programa complementa uma discussão que comecei no Podcast 471 – A revolução.

Posso entrar?

Amigo, amiga, não importa quem seja, bom dia, boa tarde, boa noite, este é o Café Brasil e eu sou o Luciano Pires.

Este programa chega até você com o apoio do Itaú Cultural e do Auditório Ibirapuera que, como sempre, estão aí, a um clique de distância. facebook.com/itaucultural e facebook.com/auditorioibirapuera.

E quem vai levar o exemplar de meu livro Me engana que eu gosto é o Eduardo do Rio de janeiro

“Bom dia, boa tarde, boa noite, Luciano. Tudo bom? Meu nome é Eduardo e eu sou professor de física aqui do Rio de Janeiro numa escola pública federal chamada Colégio Pedro II. Eu acabei de escutar seu programa A revolução, o 471 e me identifiquei muito com tudo o que você disse. Aliás eu me identifico bastante com muitas das coisas que você diz. Algumas eu não concordo, mas eu aprendo pra caramba ouvindo o teu programa. E eu descobri essa coisa de crowdfunding que você comentou no seu programa tem pouco tempo e sempre achei que participar da produção intelectual ou cultural de alguma coisa deve ser tão incrível quanto estar criando também. Quer dizer, fazer parte, ajudar na criação, ajudar na construção. Eu descobri o crowdfunding la no Kickstarter, que é um… acho que é como esse que você colocou também pra poder fazer o lançamento do seu livro, o crowdfunding que você se filiou, ele também tem um monte de projetos lá e a gente pode contribuir com o projeto que a gente se identificar, com o projeto que a gente achou legal enfim, eu acabei ajudando lá num projeto que era a construção de uma… de um equipamento de mídia pra difundir arte digital em vários museus ao longo do mundo e eu achei que era um projeto incrível, fiquei a fim de participar, dei a minha contribuição e os caras se comunicam comigo e convidam pra evento, quer dizer, não me inscrevi por causa disso mas, isso faz a gente se sentir parte. Aliás, eu acho que o crowdfunding, no sentido de que a gente pode participar da construção, ele serviria, por exemplo, se a gente usasse numa escala diferente, pra mudar a própria sociedade que a gente vive, você imagina: se eu não gostar de um produto que tem num determinado supermercado, se eu achar que estão abusando de um serviço ou de um preço, bastava que um percentual muito grande daqueles que frequentam o local, que utilizam o serviço ou que consomem o produto, simplesmente parassem de usar. Eu sempre achei que os preços são altos das coisas e aumentam, porque as pessoas continuam pagando por ele. Ontem eu fui ao cinema e o preço de um MM era R$ 16 reais. Eu não vou pagar R$ 16,00 por um MM, mas eu acho que ninguém devia pagar. Se ninguém pagasse, o preço do MM ia baixar. Mas assim como é difícil, como você disse no seu programa a gente criar essa cultura de contribuir para participar, de contribuir porque dá valor e porque enxerga que aquilo é importante para gente e a nossa contribuição faz aquilo acontecer, difícil também as pessoas entenderem do poder que a gente tem quando a gente faz as coisas em conjunto. Fazer individualmente também é muito poderoso, porque a gente segue o caminho que a gente quiser mas, quando a gente age coletivamente, a gente possibilita a construção de um mundo do jeito que a gente gostaria. Achei incrível tem programa, achei incrível a tua abordagem, parabéns e uma coisa que eu acho incrível no seu programa sempre é que ele está sempre propondo sugestões pra gente poder sair da nossa zona de conforto e ir pra zona de esforço.  Eu acho incrível transformar problema em possibilidade. Transformar dificuldade em capacidade e habilidade, enfim, descobrir coisas novas e perceber que sair do lugar que a gente está e ir para um lugar melhor, embora dê trabalho é sempre um lugar melhor. Então, parabéns pelo teu programa, parabéns por tudo que você contribui aí e o que eu puder ajudar com você aí eu vou estar ajudando porque realmente eu valorizo muito o que você produz e eu acho que muita gente aproveita muito e cresce muito com o que você traz pra gente, tá bom? Um grande abraço e até a próxima. 

Perfeito, Eduardo! É isso mesmo, viu? A força que nós temos quando agimos em conjunto. É assim que mudaremos a sociedade, juntando forças. Mas pra isso, meu caro, nós temos de ir pra zona do esforço! E não é muito esforço, não… E este programa aqui vai tratar disso!

Muito bem. O Eduardo receberá um KIT DKT, recheado de produtos PRUDENCE, como géis lubrificantes e preservativos masculino e feminino. PRUDENCE é a marca dos produtos que a DKT distribui como parte de sua missão para conter as doenças sexualmente transmissíveis e contribuir para o controle da natalidade.  O que a DKT faz é marketing social e você contribui quando usa produtos Prudence. www.facebook.com/dktbrasil.

Vamos lá então, Lalá! Hoje nós vamos em conjunto, vem cá, vem cá…

Luciano e Lalá – Na hora do amor, use Prudence.

 

It’s too late
Carole King

Stayed in bed all mornin’
Just to pass the time
There’s somethin’ wrong here
There can be no denying
One of us is changin’
Or maybe we just stopped trying

And it’s too late, baby
Now it’s too late
Though we really did try to make it
Somethin’ inside has died
And I can’t hide and I just can’t fake it
Oh, no, no, no, no, no, no

It used to be so easy
Livin’ here with you
You were light and breezy
And I knew just what to do
Now you look so unhappy
And I feel like a fool

And it’s too late, baby
Now it’s too late
Though we really did try to make it
Somethin’ inside has died
And I can’t hide and I just can’t fake it
Oh, no, no

There’ll be good times again
For me and you
But we just can’t stay together
Don’t you feel it too?
Still I’m glad for what we had
And how I once loved you

But it’s too late, baby
Now it’s too late
Though we really did try to make it
Somethin’ inside has died
And I can’t hide and I just can’t fake it
Oh, no, no, no, no, no, no

It’s too late, baby
It’s too late, now, darlin’
It’s too late

É tarde demais

Fiquei na cama toda a manhã
Só para passar o tempo
Há algo errado aqui
Não se pode negar
Um de nós está mudando
Ou talvez apenas paramos de tentar

E é tarde demais, baby
Agora é tarde demais
Embora nós realmente tenhamos tentado
Algo dentro de mim morreu
E eu não posso esconder, eu simplesmente não consigo fingir
Oh, não, não, não, não, não, não

Costumava ser tão fácil
Viver aqui com você
Você era leve e alegre
E eu sabia exatamente o que fazer
Agora você parece tão infeliz
E eu me sinto como um tolo

E é tarde demais, baby
Agora é tarde demais
Embora nós realmente tenhamos tentado
Algo dentro de mim morreu
E eu não posso esconder, eu simplesmente não consigo fingir
Oh, não, não, não, não, não, não

Haverá bons momentos novamente
Para mim e para você
Mas nós não podemos ficar juntos
Você não sente isso também?
Ainda estou contente pelo que nós tivemos
E como eu amei você

E é tarde demais, baby
Agora é tarde demais
Embora nós realmente tenhamos tentado
Algo dentro de mim morreu
E eu não posso esconder, eu simplesmente não consigo fingir
Oh, não, não, não, não, não, não

É tarde demais, baby
É tarde demais agora, querida
É tarde demais

Ufa.. você está ouvindo IT´S TOO LATE, um clássico da Carols King 1971. Quando essa música foi lançada eu tinha 15 anos de idade cara, e a cada vez que a ouço vem um turbilhão de lembranças, em especial uma tarde, eu no diretório dos estudantes da minha escola de comunicação no Mackenzie, com várias pessoas. No violão, meu amigo Alaor Coutinho e todo mundo cantando It´s Too Late…

Cara… quanto vale despertar essas lembranças que me enchem de saudades, hein? Quanto vale essa música que é capaz de me encher os olhos d´água? Bom, no iTunes eu compro por 90 centavos de dólar. É isso que vale, hein?

 

Bastidores
Chico Buarque

Chorei, chorei
Até ficar com dó de mim
E me tranquei no camarim
Tomei o calmante, o excitante
E um bocado de gim

Amaldiçoei
O dia em que te conheci
Com muitos brilhos me vesti
Depois me pintei, me pintei
Me pintei, me pintei

Cantei, cantei
Como é cruel cantar assim
E num instante de ilusão
Te vi pelo salão
A caçoar de mim

Não me troquei
Voltei correndo ao nosso lar
Voltei pra me certificar
Que tu nunca mais vais voltar
Vais voltar, vais voltar

Cantei, cantei
Nem sei como eu cantava assim
Só sei que todo o cabaré
Me aplaudiu de pé
Quando cheguei ao fim

Mas não bisei
Voltei correndo ao nosso lar
Voltei pra me certificar
Que tu nunca mais vais voltar
Vais voltar, vais voltar

Cantei, cantei
Jamais cantei tão lindo assim
E os homens lá pedindo bis Bêbados e febris
A se rasgar por mim

Chorei, chorei
Até ficar com dó de mim…

E me lembro da cena que descrevi no Café Brasil 306 – Chorei, Chorei, quando no Auditório Ibirapuera, assistindo a um show voz e violão de Cauby Peixoto, caí no choro cara, quando ele cantou Bastidores, de Chico Buarque…

Quanto valeu aquele momento, aquela emoção? Os 10 reais que paguei de ingresso?

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Alguns anos atrás eu visitei o Museu do Louvre em Paris. E nunca mais vou me esquecer quando, na ala do Egito, me deparei com a estátua do escriba sentado, que algum artista esculpiu quase 5 mil anos atrás. Paralisado diante dela, olhando os olhos que pareciam vivos daquela estátua, quase hipnotizado, meu pensamento viajou no tempo. Eu não conseguia me mover cara, fiquei ali longos minutos…

Quanto valeu aquele momento? Os 15 euros do ingresso no Louvre?

Como é possível colocar preço em algo assim, hein?

O mesmo se passa comigo. Considero o Café Brasil como uma obra de arte. E cheguei a essa certeza pelas dezenas de manifestações dos ouvintes e leitores, relatando as emoções, as reflexões, os arrepios, os insights que recebem ao ouvir o programa. E, não raro, ao ouvir mais de uma vez!

Escrever, selecionar as músicas, gravar, editar o programa, tem um monte de arte envolvida no processo viu…  E mesmo nas minhas palestras. No palco, sou um artista, conduzindo as pessoas, despertando nelas reflexões e, não raro, emocionando-as. Quanto será que vale isso, hein?

Sempre que faço o trabalho de briefing com meus clientes, converso sobre a empresa, sobre o conteúdo da palestra, sobre a dinâmica da apresentação. Quando a conversa passa para as questões comerciais, eu tenho uma resposta padrão:

– Olha, eu sou o artista. Os detalhes sórdidos você precisa tratar com meu pessoal comercial.

Sacou, hein? Trato as questões da grana como “detalhes sórdidos”.  E por uma razão simples… me considero um artista, sim senhor, criando momentos mágicos. E quando estou no momento de criação e da entrega, faço um baita esforço para manter minha arte e o dinheiro em compartimentos separados em minha mente. Se um entrar em contato com outro, haverá uma contaminação… e eu já sei quem vai perder: a mágica.

Já tenho um bom tempo de estrada. Eu sei o tipo de conteúdo que atrai audiência. Recentemente me reuni com uma assessoria de comunicação e, quando falamos do Facebook, eles deram uma olhada na página e viram posts com milhares de likes e outros com centenas ou apenas dezenas. E me recomendaram que eu selecionasse melhor os posts,  pois aqueles com pouca resposta dos leitores dariam uma brochada no cliente. E aí começou o conflito.

Eu sei muito bem que tipo de post dá resultado. Sei que hoje, se for metendo a boca em politico vai dar audiência. Se for sobre machismo e feminismo, idem. E se eu fizer um post perguntando de que lado você come a coxinha, vai pegar fogo… mas isso é um limitante.

Se eu abandonar os posts mais reflexivos, aqueles de fina ironia, os que trazem temas mais, digamos “áridos”, abordando apenas os temas da hora, o ponto de vista da hora, a música da hora, seguindo as modinhas… eu me tornarei escravo das modinhas.

Até consigo a audiência, mas eu emburreço.

Tenho plena consciência de que pela escolha de meus temas, pela forma como entrego, a maioria das pessoas não vai querer o que eu faço. Não é  palatável, não é confortável. Não é engraçadinho, não tem pessoas expostas a situações constrangedoras, não tem audiocassetadas… Meu conteúdo obriga a pessoa a prestar atenção, a pensar…  Ofereço um conteúdo que tem baixa demanda, que nunca terá milhões de likes, milhões de curtidores, milhões de acessos. No entanto, o que eu faço me é absolutamente gratificante. Um “gratificante” que é muito difícil de ser traduzido em bens e serviços.

Olha aqui, a minha ambição nunca foi o dinheiro, viu. Se fosse eu trabalharia no mercado financeiro. Ou seria outro daqueles políticos lá, jamais trabalharia com o que eu faço hoje.

Não trabalho por dinheiro. Mas não consigo trabalhar sem dinheiro.

Equilíbrio é o nome do jogo e é aí que surge a questão fundamental: como colocar preço na arte que eu faço?

Os produtos digitais estão cada vez mais acessíveis, baratos e práticos, o que nos leva a uma reflexão interessante sobre o valor monetário das coisas.

Olha só: valor monetário sempre depende da comparação entre os produtos e o contexto da compra. Por exemplo, em meu livro Meu Everest eu comento que num determinado ponto da viagem eu pagaria 100 dólares por um Big Mac… O contexto faz com que repensemos o que é importante e revisemos o valor que damos às coisas.

Retornando então àqueles momentos de emoção que comentei, quando se coloca em questão o valor da arte, da cultura, do que é que estamos falando, hein? Provavelmente do valor monetário, nunca do valor cultural. O valor da cultura jamais deve ser colocado em questão, apenas o seu preço. Sacou? Vou repetir.

O valor da cultura jamais deve ser colocado em questão, somente o seu preço.

Aquelas dezenas de posts que você faz recomendando músicas, filmes e livros; aquele apoio que o político ou as marcas buscam na imagem dos artistas, são indicadores de um valor muito maior que o valor monetário. E é um valor difícil de compreender.

Veja só… você está ouvindo este podcast, que baixou de graça. Não sei o que você tem em mãos. Provavelmente uma lata de refrigerante ou cerveja, um frasco de Gatorade, um saco de batatas fritas. Ali do lado tem uma revista de variedades, ou a TV ligada sem som no canal a cabo. Ou então você está dentro do carro ou do busão. Em nenhum momento você hesitou em pagar pela lata de refrigerante ou cerveja, o Gatorade, o saco de batatas, a assinatura da revista ou da TV a cabo, a gasolina ou pelo passe do busão. Você está habituado a pagar por isso, sempre foi assim, não é?

Aí eu digo que este podcast vai custar dois reais e cinquenta centavos. E tem gente que fica indignada.  Como assim, Meu? Pagar para ouvir um programa que posso conseguir de graça, cara? Pagar por uma música que baixo de graça? Cê louco, meu?

E se eu baixar o preço para um real, a indignação não vai passar…

Mas por que a pessoa acha normal pagar pela cerveja, mas não admite pagar pelo podcast, hein?

Talvez porque a cerveja tem embalagem, ela pega na mão, sente o gosto, tem a sensação da posse. E já criou a cultura do “se eu não pagar, não tomo”, né? E o podcast? Ah, esse sempre foi de graça, cara… Pra mim é essencial, mas sempre foi abundante, taí, de graça…

Muita gente dirá que a culpa é da internet, que ela é quem criou essa cultura de não pagar por arte, não pagar por cultura. Que foram os caras do Napster lá em 1999 que estragaram tudo… Você quer uma música? Baixe de graça. Quer um filme? Baixe de graça. Quer um livro? Baixe de graça. É tudo abundante… e de graça…

Mas foi o Napster que abriu caminho para libertar a música da tirania das gravadoras, assim como a NetFlix está abrindo caminho para nos libertar da tirania das tevês, dos estúdios e das distribuidoras. Isso é inevitável e é muito bom. Pago hoje menos de 20 reais por minha assinatura da NetFlix e obtenho um valor inestimável. A Netflix mudou minha cultura de consumo de filmes.  Eu não compro mais DVDs. Vou muito menos ao cinema. Me desloco menos, crio menos lixo, e pago muito mais barato. E acho até que eu não preciso mais de minha TV a cabo…

A internet não fez mal para a cultura, pelo contrário. Ela popularizou e democratizou o acesso, reduziu os custos, ampliou o alcance… É só por causa dela que você está me ouvindo aqui, viu? E isso faz parte da transição. De um novo contexto. Caminhamos para a independência, o boca a boca, o marketing feito pelos ouvintes e não pelas agências de publicidade através das mídias tradicionais.

É a forma como me relaciono com minha audiência que vai definir o valor de minha arte. E consequentemente, o seu preço. E é minha audiência que um dia financiará minha arte.

Esse é o contexto dos sonhos.

Mas de onde vem o dinheiro gasto com a produção do programa, com o pagamento dos profissionais envolvidos? No começo, vinha de meu bolso. Depois começou a vir de patrocinadores. Com esse dinheiro a gente produz o Café Brasil, o LíderCast, mantém a estrutura do portal e outras paradas aí. Se as pessoas consumirem e os patrocinadores pagarem, conseguiremos fazer mais programas. E toca misturar os compartimentos na mente, né?

Semanalmente sou obrigado a deixar de ser o artista para ser o vendedor. Lá vou eu com meu laptop visitar um potencial patrocinador para tentar conseguir mais recursos. É o momento em que o dinheiro ocupa a mente, expulsando a mágica. Deixo de aplicar o tempo na arte para aplicar o tempo na venda.

Então… o que vale mais, hein? Voar ou fazer mel? Bem, os dois têm seu valor, depende do que você quer da abelha, não é?

– Mas, Luciano, porque você não bota alguém pra fazer isso pra você?

Olha, na verdade já tem… Se eu estivesse vendendo propaganda em rádio, televisão, jornal ou revista, até daria para colocar. Mas eu vendo podcast, cara. Aquela coisa que, quando falo, o potencial patrocinador diz: “Pode o quê?”… Descobri que se eu não estiver empenhado na venda, com sangue nos olhos, entusiasmo que contagia e uma boa dose de loucura, a coisa não anda…

Lembra? Não trabalho por dinheiro. Mas não consigo trabalhar sem dinheiro.

Amor de índio
Beto Guedes
Ronaldo Bastos

Tudo que move é sagrado
e remove as montanhas com todo o cuidado, meu amor.

Enquanto a chama arder, todo dia te ver passar
tudo viver a teu lado
com o arco da promessa
no azul pintado pra durar.

Abelha fazendo o mel vale o tempo que não voou
A estrela caiu do céu, o pedido que se pensou

O destino que se cumpriu de sentir seu calor e ser todo
Todo dia é de viver para ser o que for e ser tudo

Sim, todo amor é sagrado
e o fruto do trabalho é mais que sagrado, meu amor.

A massa que faz o pão vale a luz do seu suor
Lembra que o sono é sagrado
e alimenta de horizontes
o tempo acordado de viver.

No inverno te proteger, no verão sair pra pescar
no outono te conhecer, primavera poder gostar

No estio me derreter pra na chuva dançar e andar junto
O destino que se cumpriu de sentir seu calor e ser todo

Você está ouvindo ao fundo Beto Guedes com um clássico: AMOR DE ÍNDIO, dele e Ronaldo Bastos. Cara! Como essa fez a minha cabeça viu…

E aí o sujeito diz assim:

– Mas olha cara, tem podcasts aos montes, cara! Porque pagar o seu se posso ter outros de graça, hein?

Bem, aí voltou a comparação do valor monetário da arte. sabe. Três minutos de Bohemian Rahpsody do Queen valem o mesmo que três minutos de Wesley Safadão? Três minutos de Giuseppe Verdi valem o mesmo que três minutos de McBinLaden?

Chegamos então à raiz da questão.

Quem dá valor à arte, não é o artista. É você.

De novo: minha arte valerá tanto quanto o valor que você enxerga nela. Tem gente que se apaixonou pelo Café Brasil. Tem gente que nem aguenta ouvir a minha voz. Tem gente que só dá valor para as reflexões que eu proponho. Tem gente que só dá valor para o outro podcast de besteirol.

Eu volto então àquela historinha da moça no museu, emocionada diante de um quadro, quando o marido impaciente vira pra ela e diz assim: “Não sei o que você enxerga nisso!”.

E a moça responde:

– Você não pode ver o que não existe dentro de você.

Bohemian Rhapsody
Freddie Mercury

Is this the real life?
Is this just fantasy?
Caught in a landslide
No escape from reality

Open your eyes
Look up to the skies and see
I’m just a poor boy
I need no sympathy

Because I’m easy come, easy go
A little high, little low
Anyway the wind blows
Doesn’t really matter to me, to me

Mama, just killed a man
Put a gun against his head
Pulled my trigger, now he’s dead
Mama, life had just begun

But now I’ve gone and thrown it all away
Mama, oh
Didn’t mean to make you cry
If I’m not back again this time tomorrow

Carry on, carry on
As if nothing really matters

Too late, my time has come
Sends shivers down my spine
Body’s aching all the time
Goodbye everybody, I’ve got to go

Gotta leave you all behind
And face the truth
Mama, oh, I don’t want to die
But sometimes wish I’d never been born at all

I see a little silhouetto of a man
Scaramouche, Scaramouche will you do the Fandango
Thunderbolt and lightning, very, very frightening me
Galileo, Galileo
Galileo, Galileo
Galileo, Figaro, magnifico

I’m just a poor boy and nobody loves me
He’s just a poor boy from a poor family
Spare him his life from this monstrosity

Easy come, easy go, will you let me go?
Bismillah! No, we will not let you go
Let him go

Bismillah! We will not let you go, let him go
Bismillah! We will not let you go, let me go
Will not let you go, let me go, never
Never let you go, let me go

Never let me go, oh
No, no, no, no, no, no, no
Oh mama mia, mama mia, mama mia let me go
Beelzebub has a devil put aside for me

For me
For me

So you think
You can stone me and spit in my eye
So you think you can love me
And leave me to die

Oh baby, can’t do this to me baby
Just gotta get out
Just gotta get right outta here

Oh, oh yeah, oh yeah

Nothing really matters
Anyone can see
Nothing really matters
Nothing really matters to me

Anyway the wind blows

Rapsódia Boêmia

Isto é a vida real?
Isto é apenas fantasia?
Soterrado num deslizamento
Sem saída da realidade

Abra seus olhos
Olhe para o céu e veja
Eu sou apenas um menino pobre
Eu não necessito de nenhuma simpatia

Porque eu venho fácil, vou fácil
Um pouco elevado, pouco baixo
Em qualquer lugar que o vento sopre
Isso realmente não importa para mim, para mim

Mamãe, acabei de matar um homem
Coloquei uma arma contra a sua cabeça
Puxei o gatilho, agora ele está morto
Mamãe, a vida tinha acabado de começar

Mas agora eu estou acabado e joguei tudo fora
Mamãe, ooh
Não quis te fazer chorar
Se eu não estiver de volta a esta hora amanhã

Continue, Continue
Como se nada realmente importasse

Tarde demais, minha hora chegou
Sinto arrepios em minha espinha
O corpo doendo o tempo todo
Adeus a todos, eu preciso ir

Tenho que deixar vocês todos para trás
E enfrentar a verdade
Mamãe, oh, eu não quero morrer
Mas às vezes desejo que eu nunca tivesse nascido

Eu vejo uma pequena silhueta de um homem
Palhaço, Palhaço você vai dançar Fandango
Trovões e relâmpagos me assustando muito
Galileo, Galileo
Galileo, Galileo
Galileo Figaro, magnifico

Mas eu sou apenas um pobre menino e ninguém me ama
Ele é apenas um menino pobre de uma família pobre
Poupe a sua vida desta monstruosidade

Venho fácil, vou fácil, vocês me deixarão ir?
Bismillah! Não, nós não o deixaremos ir
Deixe-o ir

Bismillah! Nós não o deixaremos ir, deixá-lo ir
Bismillah! Nós não o deixaremos ir, deixem-me ir
Não o deixaremos ir, deixe-me ir, nunca
Não o deixe ir, deixem-me ir

Nunca me deixe ir
Não, não, não, não, não, não, não
O mamãe minha, mamãe minha, mamãe minha deixe-me ir
Belzebu deixou um diabo reservado para mim

Para mim
Para mim

Então você pensa
Que pode me apedrejar e cuspir no meu olho
Então você pensa que pode me amar
E me deixar morrer

Oh garota – não pode fazer isto comigo garota
Tenho apenas que sair
Tenho apenas que sair daqui agora mesmo

Oh, oh yeah, oh yeah

Nada realmente importa
Qualquer um pode ver
Nada realmente importa
Nada realmente importa para mim

Em qualquer lugar que o vento sopre

Esse é Randy Coleman, que provavelmente você não conhece… E aí? Quanto vale isso que você está sentindo agora?

Quando criei o Café Brasil em 2003 com a intenção de oferecer um ambiente onde ideias fossem debatidas fora das amarras das mídias tradicionais, eu sabia que teria de focar em três pilares: criação de conteúdo, distribuição e audiência.

A criação de conteúdo era o mais fácil, essa é a minha praia. A distribuição envolvia basicamente tecnologia e marketing. E aí foi uma questão de erros e acertos até encontrar o parceiro que conseguisse suprir não só as necessidades básicas, mas acompanhasse as mudanças que aconteceram a cada minuto. Do marketing falo depois.

Já a audiência…

Comecei com cerca de 300 contatos que eu tinha, que com tempo cresceram para 3 mil, depois 30 mil e por aí em diante. Com a chegada das mídias sociais a coisa ampliou, os podcasts ajudaram e pronto! Eu tinha uma audiência proprietária, que não dependia de alugar um espaço num jornal, numa revista, numa rádio ou televisão para ser alcançada. Surgiu então um novo desafio: que tipo de audiência interessa, hein? Volume ou qualidade? Volume de audiência é focado no mínimo divisor comum: o suficiente pra agradar o maior número possível de pessoas. É a videocassetada. Traz grana e emburrece a gente. Qualidade de audiência cara isso faz a gente crescer… e pode dar grana. E foi aí que botei meu foco: qualidade da audiência. O que aprendi, hein? Que a audiência que interessa quer conteúdo provocativo, com opinião, que não fique em cima do muro, que fuja do senso comum.

Que a audiência que interessa contesta, discute, fica brava e me obriga a ficar atento todo o tempo.

Que a audiência que interessa quer participar, quer compartilhar uma visão, quer opinar, quer se sentir parte do processo.

Que a audiência que interessa aceita, e de certa forma até mesmo exige, ideias que sejam contrárias às suas, pois sabe que são elas que ampliam sua visão de mundo.

Que a audiência que interessa é extremamente receptiva aos meus chamados para colaborar.

Que a audiência que interessa sabe que a discussão produtiva das ideias exige educação e respeito.

Que a audiência que interessa tem a consciência de que, como disse Aristóteles: “Não se pode conceber o ‘muitos’ sem o ‘um’”.

Por fim, que a audiência que interessa é generosa e se diverte comigo.

Percebeu, hein? A audiência que me interessa é muito diferente daquela que assiste o Faustão e para quem os marqueteiros vendem xampu. E a audiência que interessa faz o marketing que interessa, num nível de engajamento impensável quando comparado àquele obtido pelas mídias tradicionais.

Muito bem. Foi assim então que chegamos a alguns números expressivos: 170 mil curtidores no Facebook, 200 mil ouvintes nos podcasts, 8 milhões de downloads por ano, 100 mil ouvintes nas rádios, 100 mil visitantes únicos por mês no Portal Café Brasil. Olha! Números expressivos, mas tímidos diante dos campeões das mídias sociais e celebridades. Mas isso não importa, viu?  Pelo nível de engajamento, interesse e vontade de se incomodar, cada componente da minha audiência que interessa vale por mil daqueles que buscam apenas passatempos.

A audiência que interessa valoriza seu tempo de vida.

Bom, agora que eu já fiz a malhação intelectual aqui, vamos à venda, vai! Lançamos oficialmente a Confraria Café Brasil, um lugar para reunir pessoas que compartilham um interesse comum: fazer com que seu tempo de vida valha a pena compartilhando ideias e conhecendo gente com o mesmo interesse.  Cada Confrade recebe um feed individual, que é algo novo, levando os conceitos de liberdade, exclusividade e comodidade a um outro patamar. O feed individual é um endereço exclusivo, só seu, na Confraria.

Ele dá liberdade, porque o ouvinte, o leitor ou o espectador pode determinar o que vai receber.

Dá exclusividade, pois alguns conteúdos são exclusivos para assinantes da Confraria que, num próximo passo, poderão ser segmentados ainda mais.

E finalmente, dá a comodidade de receber automaticamente no smartphone ou computador, sem qualquer esforço extra, conteúdos exclusivos, personalizados, de forma rápida e sem complicações.

Semanas atrás vivemos um momento fascinante no período entre onze e meia da noite e uma e quarenta e cinco da manhã em que fizemos os testes do feed individual com 30 “confrades” dentro de nosso grupo no Telegram. Foi sensacional. O feed proporcionaria o download da terceira temporada completa do LíderCast, com 20 programas. Todo mundo participando, vibrando, dando retorno imediato, as mensagens entrando freneticamente no aplicativo, olha, dava pra sentir o entusiasmo das pessoas reportando os problemas e reagindo conforme amarrávamos as pontas. E dava pra sentir a alegria genuína quando o sistema funcionou!

Foi então que me deu uma luz!

Cara, eu descobri que não tenho audiência! Tenho torcida.

E isso muda tudo.

Nossa noção de valor existe somente dentro de nossos parâmetros culturais. Se estamos falando sobre quanto vale um podcast, talvez dois reais e cinquenta não seja muito. Dez reais também não é muito vai. Dá até para dizer que mil reais não é muito por um programa que muda sua vida para melhor, não é? Mas dá pra botar preço numa memória hein? Num momento de emoção, numa reflexão que muda o seu jeito de ver o mundo? Dá pra botar preço num por do sol que te deixa de queixo caído, hein? Num abraço da pessoa que você ama? Não dá né? Pois é.

Um trabalho de arte, como considero que o Café Brasil é, tem mais a ver com essas coisas do que com uma lata de cerveja.

A noção de valor cultural muda com cada passo da atividade humana, mas existe um valor intrínseco que permanece constante. A sociedade sempre encontrará um meio de colocar um preço nas coisas que nos inspiram e sempre encontraremos um jeito de conseguir essas coisas de graça. Isso é cíclico e assim permanecerá até o fim dos tempos. Cabe a você dar valor às coisas que colocam valor em sua vida. E contribuir para que elas permaneçam.

E então? Vamos à provocação? Você já está enjoado do nhémnhémnhem do Facebook, hein? Com as mídias sociais que gastam seu tempo de vida? O que é que você pretende fazer, hein? Vai continuar aí recebendo passivamente os conteúdos gratuitos ou quer fazer parte ativa de um projeto que pretende mudar vidas? Quer se juntar a uma turma legal que não tem nada de pocotó?

Então entre para a Confraria Café Brasil, cara! O preço é de um pão de queijo por semana, mas o valor cultural entregue é INCALCULÁVEL. Você duvida é?

“E ai, Luciano? Bom dia, boa tarde, boa noite. Meu nome é Guilherme de Sanches, eu tenho 22 anos, sou estudante de engenharia de produção e moro em uma pequena cidade mineira chamada Cabeceira Grande, que tem aproximadamente cinco mil habitantes. Eu estou enviando essa mensagem pra poder agradecer, pois eu acabei de reouvir o episódio João Brasileiro  Médio, eu não lembro o número mas, eu gostaria de agradecer pois eu sempre fui uma pessoa que gosta de flar que as nossas escolhas mudam o undo à nossa volta e tal e alguns meses atrás eu reparei que minhas atitudes, a forma como eu vivia, não condiziam com isso que eu estava falando. E eu então iniciei um processo que era buscar conteúdo, buscar coisas que me ajudassem a desenvolver mais o meu intelecto pra que eu pudesse viver aquilo que eu estava falando. E nesse processo, eu encontrei o Café Brasil. Que é tipo assim, uma luz no fim do túnel. E eu estou mandando essa mensagem simplesmente pra agradecer pois vocês me estimulam a buscar mais informações, a querer aprender mais, a tentar ver o mundo de uma outra forma. Bom. A mensagem era só um agradecimento e, nesse momento, sem nenhuma música aqui eu, esse louco que se arrasta para fora da caverna diz tchau!”

Sacou, hein? Um menino de 22 anos, morador de uma cidade de 5 mil habitantes na divisa de Minas com o Distrito Federal, tendo no Café Brasil uma luz que o ajuda a enxergar o mundo. Como este do Guilherme, recebemos dezenas de depoimentos toda semana… estamos construindo uma onda, uma espiral construtiva ao conectar pessoas e ideias pelo Brasil e pelo mundo.

É parte disso que você pode ser.

Vá até o portalcafebrasil.com.br, clique no banner FITNESS INTELECTUAL PARA QUEM QUER O CÉREBRO TANQUINHO e assine a Confraria Café Brasil. Venha dividir conosco momentos que tiram o fôlego, emocionam, provocam reflexões e transformam a gente. Venha compartilhar de um propósito.

Ajude a gente a voar.

Quanto custa isso, hein? Dez reais por mês. Um pão de queijo por semana.

Quanto vale isso? Eu não sei pra você. Pra mim não tem preço…

Pássaro

Guarabyra

um tocador de violão
não pode cantar prosseguir
quando lhe acusam de estar mentindo
quer virar pássaro e voar no ar no ar
quer virar pássaro e sumir ir
quer virar pássaro e sumir!

E é assim então, ao som de Pássaro,  nome que Sá e Guarabyra deram para a canção “Um cantador”, censurada durante o regime militar, que este Café Brasil vai saindo de mansinho.

Com o voador Lalá Moreira na técnica, a avoada Ciça Camargo na produção e eu, que junto com você quero ir láááá pra cima, Luciano Pires, na direção e apresentação.

Estiveram conosco  os ouvintes Eduardo e Guilherme, Randy Coleman, Beto Guedes, Sá e Guarabyra, Cauby Peixoto e Carole King.

O Café Brasil só chega até você porque a Nakata, também resolveu investir nele.

A Nakata, você sabe, é uma das mais importantes marcas de componentes de suspensão do Brasil, fabricando os tradicionais amortecedores HG. E tem uma página no Facebook repleta de informações interessantes para quem gosta de automóveis. Dê uma olhada lá, vale a pena: facebook.com/componentesnakata.

Tudo azul? Tudo Nakata!

Este é o Café Brasil. Que chega a você orgulhoso do apoio do Itaú Cultural e do Auditório Ibirapuera.

De onde veio este programa tem muito mais. Visite para ler artigos, para acessar o conteúdo deste podcast e para visitar nossa lojinha no … http://portalcafebrasil.com.br

Mande um comentário de voz pelo WhatSapp no 11 96429 4746. E se você está fora do país: 55 11 96429 4746. E também estamos no Telegram, com o grupo Podcast Café Brasil.

E para terminar, uma adaptação de uma frase de Ariano Suassuna

Arte para mim não é produto de mercado. Podem me chamar de romântico. Arte para mim é missão, vocação e festa.