Café Brasil 457 – Va Pensiero

Amigo, amiga, não importa quem seja, bom dia, boa tarde, boa noite. Este é o Café Brasil e eu sou o Luciano Pires. Há muito tempo eu sonho trazer ópera para o Café Brasil… e hoje surgiu a oportunidade. Eu diria, a inspiração. Se você odeia ópera, faça um esforço. É possível que passe a ouvir com outros ouvidos a partir deste programa

Posso entrar?

O podcast Café Brasil chega até você com o apoio do Itaú Cultural e do Auditório Ibirapuera que, estão aí olha só, a um clique de distância. facebook.com/itaucultural e facebook.com/auditorioibirapuera.

E quem vai ganhar o exemplar de meu livro ME ENGANA QUE EU GOSTO hoje é o Leonardo que, ao se emocionar ouvindo o Café Brasil, também nos emociona…

“Olá Luciano. Bom dia, boa tarde, boa noite. Eu tô ouvindo o seu programa de dez anos, muito feliz, muito alegre e compartilhando contigo dos teus sentimentos. Eu tive que parar, eu estou dirigindo o carro, indo para a faculdade, ouvindo como eu sempre faço e queria compartilhar contigo da emoção que eu senti ouvindo essa moça falar sobre a situação… sobre a história do 275. Eu sou quase pai, a minha esposa está grávida de nove meses, prestes a ganhar a minha primeira filha e… eu estou chocado, emocionado… to chorando muito. Eu não sei, não conheço outra forma de me comunicar com ela, mas queria dizer que sinto muito por ela e que ela tenha muita força para passar por esse momento, que eu sei que já foi há um tempo mas, perder um filho não é a ordem natural das coisas. Então, se você puder pelo menos encaminhar essa mensagem pra ela, diga que estamos sentindo a dor dela e junto com ela. Muito obrigado. Valeu aí. Abraço.”

É, Leonardo… a Jiane fez de sua dor um presente a todos nós. Não há muito que comentar, apenas agradecer, sempre, às pessoas que, como ouvintes, nos dão essas demonstrações de que o que a gente faz aqui, vale a pena. Sempre.

Muito bem. Além do livro o Leonardo receberá um KIT DKT, recheado de produtos PRUDENCE, como géis lubrificantes e preservativos masculino e feminino. Eu sei que você já sabem, mas não custa lembrar sempre:  PRUDENCE é a marca dos produtos que a DKT distribui como parte de sua missão para conter as doenças sexualmente transmissíveis e contribuir para o controle da natalidade. O que a DKT faz é marketing social e você contribui quando usa produtos Prudence.

Vamos lá então! Ô dois! Dessa vez eu quero sensual, hein?

Na hora do amor, use:

Lalá e Ciça – Prudence.

E quem também está ajudando a gente a trazer pra você este cafezinho é a Nakata, que até junho botou no ar a promoção Pistas dos Sonhos. Você e um acompanhante podem ganhar a oportunidade de assistir a uma corrida Nascar em Miami, ou Daytona, ou Las Vegas ou Indianápolis. que tal, hein?

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Tudo azul, tudo Nakata.

Em 1976, o cineasta Bernardo Bertolucci lançava Novecento , um filme inesquecível que faz uma retrospectiva histórica da Itália desde o início do século XX até o término da Segunda Guerra Mundial. Para definir com exatidão o lugar e o tempo onde a história se passava, logo no começo, aos 13 minutos do filme, uma espécie de bufão, um palhaço, um Rigoletto, com um significado simbólico caminha bêbado, lamentando-se e exclamando sua dor profunda. Com a voz alquebrada, ao som dos acordes de abertura da ópera Rigoletto, ele repetia: Verdi morreu! Verdi Morreu!

https://www.youtube.com/watch?v=g721yKOLMYo

https://www.youtube.com/watch?v=ZKauYcaEo3U

Bertolucci definia assim o começo do século 20 com a dolorosa notícia do falecimento do italiano mais querido e venerado em sua pátria: Giuseppe Verdi.

 

Giuseppe Verdi, que viveu entre 1813 e 1901, foi o músico italiano autor das óperas, “Otello”, “La Traviata”, “Rigoletto”, “Il Trovatore” e “Aída”, entre outras. Foi o maior músico italiano do século XIX. Nasceu em Roncole, ducado de Parma, Itália, quando a cidade estava ocupada pelos franceses. Giuseppe Fortunino Francesco foi obrigatoriamente registrado como Joseph Fortunin François. Estudou música com Ferdinando Povesi, regente da orquestra de Roncole.

Se você não conhece Verdi, certamente conhece seu trabalho…

La donna è mobile
Verdi

La donna è mobile qual piuma al vento,
muta d’accento e di pensiero.
Sempre un amabile leggiadro viso,
in pianto o in riso, è menzognero.
La donna è mobil qual piuma al vento,
muta d’acc…ento e di pensier, e di pensier,
e… e di pensier.

È sempre misero chi a lei s’affida,
chi le confida mal cauto il core!
Pur mai non sentesi felice appieno,
chi su quel seno non liba amore!
La donna è mobil qual piuma al vento,
muta d’acc…ento e di pensier, e di pensier,
e……….e di – pensier.

A mulher é volúvel

A mulher é volúvel como pluma ao vento,
muda de acento e de pensamento.
Sempre um amável, gracioso rosto,
em pranto ou em riso, é mentiroso.
A mulher é volúvel como pluma ao vento,
muda de acento e de pensamento, e de pensamento
e… e de pensamento.

É sempre um infeliz quem a ela se entrega,
quem lhe confia incautamente o coração!
Também nunca sente-se feliz em cheio,
quem naquele seio não saboreia amor!
A mulher é volúvel como pluma ao vento,
muda de acento e de pensamento, e de pensamento,
e………. e de pensamento

Esse é Luciano Pavarotti com La donna e mobile, que faz parte da ópera Rigoletto. Essa você conhece, não?

Verdi não foi aceito pelo Conservatório de Milão. Quando atingiu a fama, o diretor do Conservatório foi criticado pela falta de visão, que teria fechado as portas para o maior músico italiano do século XIX. O lançamento de sua primeira ópera, “Oberto, conde de San Bonifácio”, veio acompanhado de seguidas tragédias. Em 1838, morre a filha Virgínia, em 1839, morre o filho Icílio e em 1840, morre a sua esposa. Quanta tragédia!

Sua óperas eram inspiradas no patriotismo, narrando batalhas e a luta pela liberdade. Sua ópera “Nabucodonosor” narrava a escravidão do povo judeu e sua libertação. Em 1848, abandonou o gênero patriótico em suas óperas e escreveu “Rigoletto”, “Il Trovatore”, “La Traviata” e “Um Ballo in Maschera”. Em 1859, foi eleito deputado de uma Itália que ressurgia, unificada, no cenário político europeu.

Giuseppe Verdi influenciado por temas shakespearianos compôs as óperas “Otello” e “Falstaff”. Em 1871 levado pela inauguração do Canal de Suez, escreveu “Aída”, atingindo o auge de sua carreira. Em 1879, após 20 anos de convívio, perde sua segunda esposa e em 27 de janeiro de 1901, em Milão, cercado de respeito de toda a Itália morre Giuseppe Verdi.

Então. Eu quero apresentar a você o tema “ópera”, descrevendo um daqueles momentos que ficam gravados não só na memória, mas no coração e na alma da gente.

A ópera Nabbuco, composta por Giuseppe Verdi, evoca o episódio dos judeus escravos na Babilônia e tem como ponto alto uma famosa canção, Va Pensiero, entoada pelo coro dos  hebreus que foram derrotados pelos Assírios, deportados para a Babilônia e escravizados. Na época da sua primeira apresentação  em Milão, em 1842, também o povo italiano estava sofrendo a dominação austríaca, por isso o Hino tornou-se o canto dolorido dos italianos contra o opressor austríaco e difundiu-se rapidamente por toda a Itália, numa época em que não se sonhava com o Facebook, os satélites e a televisão. A Opera despertou o patriotismo dos italianos e logo nos muros das casas e dos palácios apareceu a escrita “VIVA VERDI” que na realidade era o anagrama de “Viva Vitorio Emanuele Rei D’ Itália”. Com este truque os lutadores pela liberdade driblaram a censura dos opressores.

A melodia, composta quando Verdi tinha por volta de 28 anos de idade. é maravilhosa. E a letra, de autoria do também compositor italiano Temistocle Solera, que tinha na época por volta de 26 anos de idade, é inspiradora….

A letra diz assim:

Vá pensamento, sobre as asas douradas,
vá, pousa-te sobre as encostas e as colinas,
onde perfumam mornas e macias
as brisas doces do solo natal!

Saúda as margens do rio Jordão,
as torres derrubadas de Sião.
Oh minha pátria tão bela e perdida!
Oh lembrança tão cara e fatal!

Harpa dourada dos fatídicos poetas,
porque agora está muda?
Reacenda as memórias no nosso peito,
fala-nos do tempo que foi!

Lembra-nos o destino de Jerusalém
traga-nos um som de triste lamentação.
Que o Senhor lhe inspire uma harmonia
que transforme a nossa dor em virtude!

Que transforme a nossa dor,
nossa dor em virtude.
Que transforme a nossa dor,
nossa dor em virtude.

Nossa dor em virtude!

Em 2011, por ocasião da comemoração dos 150 anos da  unificação da Itália, a ópera foi apresentada no Teatro dell’Opera di Roma.

Com a orquestra sob condução do maestro Riccardo Muti, aquela foi uma noite de gala, emocionante, aberta com o Hino da Itália…

https://www.youtube.com/watch?v=G_gmtO6JnRs

 

Antes do início da ópera, Gianni Alemanno, prefeito de Roma, subiu ao palco e fez um discurso denunciando os cortes que o governo do então primeiro ministro Silvio Berlusconi  havia feito no orçamento para o setor cultural. Aquela intervenção política do prefeito foi surpreendente, especialmente porque o primeiro ministro Berlusconi estava no teatro… No princípio houve fortes aplausos do público. E então começou a ópera.

Tudo correu muito bem durante os primeiros 90 minutos da peça, até chegar na famosa Va Pensiero.

De imediato o maestro sentiu que o ambiente era tenso na audiência.”Há coisas que não se pode descrever, mas que se sentem.” Ele disse tempos depois.

Aquele contexto foi mágico. As palavras do prefeito, o corte das verbas para a cultura, a presença de Berlusconi, o hino à liberdade, a plateia composta de gente que apreciava a cultura… aconteceu então uma comunhão, um fervor entre o coro cantando “Oh, minha pátria, tão bela e perdida” e as lamentações do público na platéia.

Quando Va pensiero chegou ao final, aconteceu o momento mágico… enquanto algumas pessoas gritavam “Bis!Bis” e “Viva a Itália. Viva Verdi!”, as que estavam nos pisos superiores do teatro jogavam pedaços de papel picado.

A reação da platéia, somada à emoção do momento, despertou o sentido patriótico do maestro que, num gesto teatral, virou-se para o público e, parece que olhando para onde estava Berlusconi, disse:

“Sim, estou de acordo com isso de “Viva itália”, mas…”

“Tenho mais de 30 anos e vivi minha vida viajando extensamente por todo mundo, e como italiano me envergonho do que está acontecendo em meu país. Assim, aceito o pedido de vocês para tocar Va Pensiero mais uma vez. E não apenas pela alegria patriótica que sinto, mas porque esta noite, enquanto eu dirigia o coro cantando ‘ Oh, minha pátria bela e perdida’, pensei que se continuar assim e se não ajudarmos a cultura, nossa pátria será verdadeiramente ‘bela e perdida'”.

Muitos aplausos, inclusive dos artistas no palco. E o maestro continua:

“Me mantive em silêncio durante muitos anos. Eu gostaria agora… devemos dar um sentido a esta canção, já que estamos em nossa casa, no teatro da capital e com um coro que canta muito bem e é muito bem acompanhado pela orquestra. Se vocês não se importarem, sugiro que se unam a nós e que cantemos juntos.”

E então o momento mágico. As pessoas se levantam e cantam junto com o coro e a orquestra, produzindo um momento emocionante que sempre, eu digo sempre, me leva às lágrimas.

Va pensiero
Verdi

Va’, pensiero, sull’ali dorate.
Va’, ti posa sui clivi, sui colli,
Ove olezzano tepide e molli
L’aure dolci del suolo natal!
Del giordano le rive saluta,
Di sionne le torri atterrate.
O mia patria, sì bella e perduta!
O membranza sì cara e fatal!
Arpa d’or dei fatidici vati,
Perché muta dal salice pendi?
Le memorie del petto riaccendi,
Ci favella del tempo che fu!
O simile di solima ai fati,
Traggi un suono di crudo lamento;
O t’ispiri il signore un concento
Che ne infonda al patire virtù
Che ne infonda al patire virtù
Al patire virtù!

É impossível explicar o que aconteceu lá, naquela noite.Você precisa assistir o vídeo, que está no roteiro deste programa, publicado no portalcafebrasil.com.br .

Esse foi um daqueles momentos em que é possível compreender o valor, a importância da arte. Um compositor, inspirado por uma história de resistência, de luta pela liberdade, acontecida séculos antes, compõe uma ópera e dentro dela uma canção que se transforma num hino à liberdade. E 170 anos depois de composta, a canção tem força para mais uma vez unir as pessoas em torno de um ideal. É o que eu chamo de CEUS: Va Pensiero é Criativo, Emocional, Único e Sensorial.

Se eu, que sou brasileiro, chego às lágrimas, imagine um italiano…

Se você não quiser assistir o vídeo da ópera completa, pule para os 1:32:44 e deixe-se tomar pela emoção.

Bem, eu fiz questão de relembrar esta história, neste momento, como uma inspiração para todos nós, brasileiros, que vivemos numa democracia e não sabemos o que é não ter liberdade. É claro que virá gente dizer que não somos livres, que não somos donos de nossas escolhas, aquela conversa de sempre, mas… eu posso dizer o que quero, posso ir para onde quero, posso comprar e vender o que quero, posso ser dono do que quero, trabalhar onde quero. Isso é liberdade. Só quem um dia a perdeu consegue dar valor à ela. Quem nunca perdeu acha que pode negociar um pouco da liberdade em troca de promessa de estabilidade.

Não. Não pode.

E é assim então, ao som de Va Pensiero com um coral de crianças cambojanas e tibetanas que vamos saindo inspirados.

Com o emocionado Lalá Moreira na técnica, a lacrimosa Ciça Camargo na produção e eu, este guerreiro da liberdade, Luciano Pires na direção e apresentação.

Estiveram conosco o ouvinte Leonardo, Giuseppe Verdi, Luciano Pavarotti, um coral de crianças cambojanas e tibetanas e o maestro Riccardo Muti.

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Este é o Café Brasil, que chega a você com o apoio do Itaú Cultural e do Auditório Ibirapuera. De onde veio este programa tem muito mais. Visite para ler artigos, para acessar o conteúdo deste podcast, para visitar nossa lojinha no … portalcafebrasil.com.br.

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E aproveite para instalar o Viber, aquele aplicativo no seu celular …. Uma série de informações, a gente só passa por ali.

E para terminar, uma frase de Giuseppe Verdi que, de certa forma, explica tudo…

Não sou um compositor culto, sou experiente.