Café Brasil 368 – Sobre amor e paixão

Bom dia, boa tarde, boa noite… Paixão…quem não já? Paixão é aquela coisa que consome a gente, que dá falta de ar, aumenta os batimentos cardíacos, dilata a pupila, dá arrepios. É algo tão intenso que só pode existir por pouco tempo, como uma espécie de gozo. E com o tempo vai acabando… É sobre isso que vamos tratar hoje. Prepare-se.

Pra começar, uma frase do historiador e religioso inglês Thomas Fuller:

Quando a paixão entra pela porta da frente, o juízo foge pela porta de trás.

Este programa chega até você com o suporte do Itaú Cultural, um empreendimento voltado à valorização da arte, a forma que o homem encontrou para dizer aquilo que só com palavras, não conseguiria. Viste o site www.itaucultural.org.br, dê uma olhada na agenda. Tem alguma coisa acontecendo perto de você.

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E o exemplar de meu livro NÓIS…QUI INVERTEMO AS COISA, além do apimentado kit DKT vai para…para…André Rezende, que mandou já faz um bom tempo um comentário em áudio. Ouça só, que legal…

(gravação da mensagem de André Rezende)

Valeu André, obrigado por mandar o comentário em áudio. Você é o segundo ouvinte que faz isso e é sempre enriquecedor. Assim você incentiva outros ouvintes a fazer o mesmo. Obrigado mesmo.

O André ganhou o livro e o kit DKT, pois comentou um programa. E você aí hein?

Tá curioso pra saber do kit, é? Então conheça a DKT, que distribui no Brasil  a mais completa linha de preservativos e géis lubrificantes do mercado, com a marca PRUDENCE. Para aqueles momentos de amor e momentos de paixão. Sabe como é, hein? Acesse o www.facebook.com/dktbrasil e dê uma olhada nas coisas que a turma da DKT faz. Tem umas iniciativas de marketing social por lá que são geniais. E não esqueça:

Na hora do amor, na hora da paixão, use PRUDENCE.

E você já visitou a página da Nakata no Facebook? Ô meu, nós lançamos lá os Videocasts Nakata, uma série de vídeos que eu ia dizer que foram estrelados por mim, mas a torcida aqui reclamou. Então, são humildemente feitos por mim, dando dicas para sua carreira. Vale dar uma olhada e até mesmo usar para botar fogo naquelas reuniões insuportáveis que você participa na empresa, sabe? Acesse www.facebook.com/componentesnakata.
Arriscado é não usar Nakata. Exija a tecnologia original líder em componentes de suspensão.

Tudo azul. Tudo Nakata

Amor demais
Eliezer Setton

É muito amor, é amor demais
Amor que fica é amor que satisfaz
É muito amor, é muita paixão
É muita areia pro meu caminhão

É hoje que eu vou me invocar
Vou lhe pegar no arrastão
Vou inverter a brincadeira
Apagar fogueira
Derrubar balão

É muito amor, é amor demais…

Se acaso você não gostar
Aí eu canto outro refrão
Lhe dou um buquê de flor que cheira
E pela vida inteira
Vou beijar seu chão

É muito amor, é amor demais…

Se achegue tome o seu lugar
De dona do meu coração
Em vez de chuva passageira
Seja cachoeira
Seja inundação

Hummmm…que entrada, hein? Primeiro meu amigo Eliezer Setton com seu AMOR DEMAIS e agora Sivuca com TU E EU… Muito apropriado…

Bem, dei uma olhada no arquivo do podcast Café Brasil e descobri que nunca fiz um programa sobre amor e paixão. Eu acho que todo mundo passa por isso pelo menos uma vez na vida, não é?

Apaixona-se perdidamente, vive um período de intensidade de emoções que depois esfriam. Em alguns casos acabam, noutros transformam-se em amor, que é diferente de paixão. Mas qual será a diferença mesmo?

Bem, vamos ver o que tem a dizer nosso mestre de sempre Rubem Alves, que escreveu um texto com o título de PAIXÃO.

A paixão é emoção gratuita. Não há causas que a expliquem. Mas, quando acontece, ela age como uma artista: da paixão surgem cenas de beleza. Os amantes se imaginam andando de mãos dadas por campos floridos abraçados numa rede silenciosos, diante do fogo da lareira contemplando o rosto de um nenenzinho adormecido… Paisagens de paixão

Dedico esta crônica aos apaixonados, mesmo sabendo que servirá para nada: é inútil falar aos apaixonados. Os apaixonados só ouvem poemas e canções. A paixão, experiência insuperável de prazer e alegria, pelo fato mesmo de ser uma experiência insuperável de prazer e alegria, coloca o apaixonado fora dos limites da razão. Todo apaixonado é tolo.

Pode ser que ele escute a fala da razão. Escuta mas não acredita. Diz ele: O meu caso é diferente! Tolo mesmo é quem tenta argumentar com os apaixonados.

Começa, pois, assim, minha inútil meditação com um verso terrível de T. S. Eliot. Ele está rezando. Ele sabe que somente Deus tem poder para lidar com a loucura da paixão. Ele reza assim: . . . livra-me da dor da paixão não satisfeita e da dor muito maior da paixão satisfeita.

Todo mundo sabe que paixão não satisfeita dói. Mas poucos sabem que a paixão só existe se não for satisfeita. A paixão é fome. Ela só floresce na ausência do objeto amado. Mais precisamente, ela vive da ausência do objeto amado. Não se trata de ausência física, do objeto amado distante, longe. A dor da ausência física tem o nome de saudade.

Saudade tem cura. A saudade é curada quando o seu objeto volta. A dor da paixão é diferente. Não tem cura. A saudade do objeto amado, mesmo quando ele está presente, é o perfume característico da paixão.

Cassiano Ricardo sabia disso e escreveu assim:

Por que tenho saudade
de você, no retrato
ainda que o mais recente?
E por que um simples retrato
mais que você, me comove,
se você mesma está presente?

Que coisa mais esquisita! Como pode ser isso? Como se pode sentir saudade de algo que está presente? A resposta é simples: a gente sente saudade de uma pessoa presente quando ela está se despedindo.

Cecilia Meireles, desenhando sua avó morta, a quem ela muito amava, disse: Tu eras uma ausência que se demorava uma despedida pronta a cumprir-se. Dirão: é natural um dia ela possuirá o objeto da sua paixão. Mas a ‘dor muito maior’, da paixão satisfeita, não tem mais esperanças. O objeto se desfez. Ela vive na tristeza do objeto perdido.

Escrevi uma história sobre isso. A Menina era apaixonada pelo Pássaro Encantado. Mas ela sofria porque o Pássaro era livre, O Pássaro Encantado era sempre uma ausência que se demorava, uma despedida pronta a cumprir-se. O Pássaro lhe disse que era preciso que fosse assim, para que eles continuassem apaixonados. Ele sabia que a paixão não ama pássaros em vôo. Mas a Menina não acreditou. Prendeu-o numa gaiola.

Gaiola? Há as feitas com ferro e cadeados. Mas as mais sutis são feitas com desejos. Esquisito o que vou dizer: a alma é uma biblioteca. Nela se encontram as estórias que amamos Romeu e Julieta, Abelardo e Heloisa, O paciente Inglês, As Pontes de Madison, A Menina e o Pássaro Encantado. As estórias que amamos revelam a forma do nosso desejo. Delas escolhemos uma, é a nossa gaiola. Gaiola na mão, saímos pela vida à procura do nosso Pássaro. Quando imaginamos havê-lo encontrado, uh, que felicidade! Ficará feliz em nossa gaiola. Será o amante da nossa estória de amor: eu prá você, você prá mim. . . Nós colocamos lá dentro e pedimos que nos cante canções de amor.

Acontece que o Pássaro também tinha a sua estória. E era outra. Todo Pássaro deseja voar. Ele bate suas asas contra as grades, suas penas perdem as cores e o seu canto se transforma em choro. E, de repente, ele se transforma. Não mais o reconhecemos, é um outro. Essa é a razão por que a dor da paixão satisfeita é muito maior.

Meu tango
Luciana Pires

Não posso mais falar por mim
Fui ao teu lar
Rasguei teus documentos
E me vi livre, eu tive paz
Teu nome eu risquei daqui
Li num cartaz
Que estavas procurado
Eras tão atirado
Que nem me lembro mais
Do quanto me usou, me abusou, me destratou!
Do quanto me calou, se entregou e me enganou!
Do quanto eu comi
Na tua mão sem graça
Cai na tua lábia
Nem nome eu tenho mais!
Tuas roupas eu tirei daqui
Não te poupei
Virei todos os copos
E agora? quem é o rei?
Quero longe daqui
Tua voz de galã
As marcas da saudade
Afasta tua vaidade, que sóbria eu fico sã!
Do quanto me usou, me abusou, me destratou!
Do quanto me calou, se entregou e me enganou!
Do quanto eu comi
Na tua mão sem graça
Cai na tua lábia
Nem nome eu tenho mais!

Que tal essa? Você ouve MEU TANGO de e com minha sobrinha, Luciana Pires, que lá de Bauru sabe tratar muito bem das coisas do coração…

E então meu amigo Nailor Marques Jr também aborda o tema, falando do O amor viabilizador.

Ao fundo você ouvirá A FALA DA PAIXÃO, com Egberto Gismonti….

Os filósofos doidos, os poetas místicos, as mulheres de olhar perdido na janela, os homens de sangue nos olhos costumam dizer que o amor verdadeiro é aquele sentimento compartilhado, é aquela energia que damos e também recebemos, a situação em que entregamos o nosso coração e o nosso empenho e recebemos como paga a dedicação, a fidelidade e o sentimento alheio, na mesma intensidade, mas em sentido contrário. Pois todos estão enganados. O amor verdadeiro não é nada do que dizem.

O amor verdadeiro é a maior manifestação de egoísmo a que os seres humanos estão expostos. E é tão grande e intenso esse sentimento, que com medo de assumi-lo, criamos uma série de eufemismos. Fingimos a reciprocidade, dizemos sofrer pelas traições, elaboramos poemas e obras de arte para tentar sublimar o que na verdade não passa de um desejo solitário de ser dono de nós mesmos, alardeamos que queremos o outro, mas no fundo desejamos apenas fazer aflorar em nós o que cremos que temos de melhor, o outro é apenas um catalisador para essa reação. O amor verdadeiro não é nada do que dizem.

O amor verdadeiro não é apenas cristão, é budista, maometano, xintoísta, platônico, voltairiano, nietzschiano, por que não? É freudiano, é krishna, o amor é, enfim, humano. Uma manifestação exclusivamente humana. Humana e solitária. Gostamos mesmo é de amar a nós e projetar um pouco dessa sombra em coisas ou pessoas. Por isso podemos verdadeiramente amar uma casa, um cachorro, uma cadeira, alguém que já morreu ou alguém que não sabe que existimos ou mesmo que nos detesta. O amor não precisa do outro, ele se projeta no outro. O amador, como diz o poeta, se transforma na coisa amada, se abastece dela. O amor verdadeiro não é nada do que dizem.

O amor verdadeiro não é mais do que um viabilizador da vida individual (e no somatório das partes, acaba por criar o todo). Quando encontramos alguém ou alguma coisa para amar ou quando temos um filho, passamos a entender melhor quem somos e esperamos que esse filho, essa coisa, ou esse ente amado devolva alguma sombra para nós, mas sabemos no fundo que não precisamos dela para seguir amando. É complicado, justo por isso é simples. Uma equação: o amor que sinto menos o amor que me é retribuído é igual ao amor em estado puro, o que independe de medida, o que existe por si, o que é e se basta. O amor verdadeiro é, enfim, a única coisa sobre a face da terra capaz de tornar viável a nossa frustrada aventura chamada natureza humana.

Sufoco
Antonio José
Chico da Silva

Não sei se vou aturar
Esses seus abusos
Não sei se vou suportar
Os seus absurdos
Você vai embora
Por ai afora
Distribuindo sonhos
Os carinhos que você me prometeu
Você me desama
E depois reclama
Quando os seus desejos
Já bem cansados
Desagradam os meus

Não posso mais alimentar
A esse amor tão louco
Que sufoco
Eu sei que tenho mil razões até
Para deixar de lhe amar
Não, mas eu não quero
agir assim, meu louco amor
Eu tenho mil razões
Pra lhe perdoar
Por amar

Que sufoco…
Não, mas eu não quero
Agir assim, meu louco amor
Eu tenho mil razões
Para lhe perdoar
Por amar

Gostou dessa? É uma releitura que o TRASH POUR 4 fez de SUFOCO, de Antonio José e Chico da Silva, que se transformou num dos grandes sucessos de Alcione.

Pois é… Mas um dia a paixão acaba. E quem sabe como isso acontece é outro amigo, o Minás Kuyumjian Neto. Ouça o que ele tem a dizer,

ao som de LUIZ BONFÁ com AMOR QUE ACABOU.

Não há originalidade alguma em se dizer que a paixão é o amor desprovido de razão. Mas é interessante notar que a paixão só dura pouco porque as pessoas não suportam conviver muito tempo com a ausência da razão. A falta da razão incomoda no sentido de que nos retira as possibilidades de racionalizar: em outras palavras, ficamos sem possibilidade de paz.

Refiro-me, naturalmente, a todos nós – os medíocres da afetividade – e não aos gênios ou aos loucos, gente es¬pecial e que nos diminui com sua mera e nem sempre pacífica existência. De qualquer forma, é visível que numa ligação amorosa vigorosa, a paixão é quase sempre a faísca inicial. E persiste por apenas algum tempo. Depois, resta o amor.

Racionalizado, responsável, cauteloso, já matizado pelos primeiros tons cinzentos do hábito. Mas como identificar essa transição gradativa pela qual a paixão cede lugar ao amor ou à mera convivência? Alguns indícios podem ser anotados. A paixão está acabando (ou já acabou) quando:

• O cego entusiasmo sexual dá vez a pequenos planejamentos: “Não será um exagero fazer amor todos os dias?”.

• O beijo na boca fica relegado ao passado. Começa-se a sentir as secreções do outro. A saliva incomoda. O cheiro dos pés. O odor da transpiração. Será que isso não é mau-hálito?

• O sexo se torna, com frequência, obrigação. Ou atividade mecanizada, semelhante ao ato de escovar os dentes.

• As brincadeiras de amor começam a irritar ou a mostrar exclusivamente seu lado ridículo.

• No ato sexual, a variedade de posições vai minguando, até ceder lugar quase exclusivo à ortodoxia do papai-mamãe.

• O ciúme se transforma em amor-próprio ferido. Porque o apaixonado sente realmente ciúme – um desespero por acreditar estar sendo preterido de alguma forma pela pessoa amada -, enquanto o não-apaixonado sente-se apenas ultrajado.

• As pequenas atenções já não resultam em lisonja, mas na sensação de que o outro está incomodando ou demonstrando que fez algo de errado, como quem se enternece motivado pela culpa.

E assim por diante, até que se fica reduzido a um mecânico e insípido cumprimento dos chamados deveres conjugais.

Pô, MInás…que triste…

O Café Brasil chega até você com o suporte sempre bem vindo da Pellegrino, que distribui no Brasil as melhores marcas de componentes automotivos, desde os anos 40, sabia? E se você visitar a página da Pellegrino no Facebook ainda vai encontrar diversas dicas muito legais sobre gestão. Experimente: www.facebook.com/pellegrinodistribuidora. Pellegrino sempre com dois eles.

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Pois é… Primeiro vem a paixão que queima, devora, tira o ar, acelera o coração, arrepia… depois vem o amor, mais calmo, mais frio, mais profundo. Acho que se não fosse assim, se a paixão permanecesse, seria como um motor na rotação máxima. Uma hora queima, funde, se acaba… Se a paixão não acabasse, mataria… Pois é. O problema é que a paixão vicia…

Paixão de um homem
Waldick Soriano

Amigo,
Por favor, leve essa carta
E entregue àquela ingrata
E diga como estou
Com os olhos rasos d’água
E o coração cheio de mágoa
Estou morrendo de amor

Amigo,
Eu queria estar presente
Para ver o que ela sente
Quando alguém fala em meu nome
Eu não sei se ela me ama
Eu só sei que ela maltrata
O coração de um pobre homem

Amigo,
Se essa cartinha falasse
Pra dizer àquela ingrata
Como está meu coração
Vou ficar aqui chorando
Pois um homem quando chora
Tem no peito uma paixão
Vou ficar aqui chorando
Pois um homem quando chora
Tem no peito uma paixão

Pois então, é assim, ao som de Waldick Soriano com PAIXÃO DE UM HOMEM, você pensou que era Eu não sou cachorro não né? Clássico de sua autoria que este Café Brasil apaixonado vai saindo de mansinho.

Com o também apaixonado Lalá Moreira na técnica, a amorosa Ciça Camargo na produção e eu o poeta Luciano Pires na direção e apresentação.

Estiveram conosco o ouvinte André Rezende, Luciana Pires, o conjunto TrashPour 4, Eliezer Setton, Sivuca e seu Conjunto, Egberto Gismonti, Luiz Bonfá e…Waldick Soriano.

O Café Brasil chega até você com o suporte do Auditório Ibirapuera, com quem eu tenho um caso de amor e paixão. É lá que eu faço meu coração bater mais forte, que chego às lágrimas, que perco o fôlego diante de apresentações de artistas que sabem muito bem como seduzir. Acesse www.facebook.com/auditorioibirapuera para saber das artes que eles andam aprontando. Acredite: vale muito a pena, e você ainda corre o risco de se apaixonar. Tá esperando o que?

Este é o Café Brasil De  onde veio tem muito mais. Vem pra cá, apaixone-se conosco: www.portalcafebrasil.com.br.

Pra encerrar, que tal uma frase do poeta Mario Quintana?

Amor é quando a paixão não tem outro compromisso.

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