Café Brasil 365 – Outrospecção

Bom dia, boa tarde, boa noite! Você já teve a sensação, quando está lendo um livro ou ouvindo ou então assistindo uma narrativa, de se envolver de forma tão intensa que acaba entrando no corpo do narrador e sente como se estivesse por lá? Eu já… Quero tratar disso no programa de hoje, que no fundo tem a ver com alguns programas anteriores onde tratei dos conflitos e confrontos. Estar no lugar do outro é o primeiro passo para o entendimento.

Vou começar com uma frase do escritor francês Marcel Proust:

A única jornada verdadeira, o único banho na fonte da juventude, não é visitar terras estranhas, mas possuir outros olhos, ver o universos através dos olhos de outro, de uma centena de outros, ver as centenas de universos que cada um deles vê. Que cada um deles é.

O programa de hoje chega, como sempre, com o apoio do Itaú Cultural, que sabe como ninguém transportar a gente para ver o mundo pelos olhos dos outros. Especialmente nas questões relacionadas à cultura. Acesse o www.facebook.com/itaucultural e dê uma olhada na proposta e na programação deles. É uma oportunidade única de fazer o que Marcel Proust recomenda: ver as centenas de universos pelos olhos dos outros.

[dmSSlideDown]

E o exemplar de meu livro NÓIS…QUI INVERTEMO AS COISA, mais o saboroso kit DKT, vai para…para… o Isaias Silva da Costa, que comentou assim o programa VIVENDO NO TEMPO DO OUTRO:

“Em minha opinião, um dos homens mais éticos e respeitosos desde planeta é o grande Dalai Lama. Quero compartilhar algumas palavras inspiradoras dele:

“Às vezes sou tão flexível que sou acusado de não ter coerência política. Alguém pode vir a mim e apresentar uma ideia. E eu vejo a razão para aquilo que a pessoa diz e concordo com ela, comentando que é ótimo… Mas então aparece outra pessoa com um ponto de vista contrário, eu também vejo a razão para o que está dizendo e concordo também com ela. Às vezes sou criticado por isso e preciso me relembrar que estamos comprometidos com tal e tal conduta e que por enquanto devemos nos ater a esse lado”.

Depois que li esse relato, passei a viver muito mais o respeito ao próximo, a não achar que as minhas verdades são absolutas e ver a visão dos outros apenas como diferentes da minha.

Acho que todos nós podemos assimilar essas ideias tão simples e ao mesmo tempo tão profundas. O convívio entre as pessoas pode se tornar muito mais frutuoso e feliz.”

Valeu grande Isaias! Eu acho que o Dalai Lama está falando de outrospecção…acompanhe o programa pra ver!

O Isaias ganhou o meu livro e o kit DKT por comentar o programa. Quer saber o que tem no kit? A DKT fornece a mais completa linha de preservativos e géis lubrificantes do Brasil, com a marca Prudence. E além disso, desenvolve um trabalho de marketing social que é o máximo. Acesse www.facebook.com/dktbrasil, com k de Nakata  para conhecer e aproveite pra deixar lá um recado.

Na hora do amor, use Prudence!

E tem também a Nakata, que fornece componentes de suspensão e freios da melhor qualidade, e que colocou no ar dicas de gerenciamento de negócios, sabe com quem? Comigo! Acesse o www.facebook.com/componentesnakata e clique na área do videocast. Tem uns vídeos lá com algumas provocações que eu faço e que acho que tem tudo a ver com você e com seu negócio.
Arriscado é não usar Nakata. Exija a tecnologia original líder em componentes de suspensão.

Tudo azul. Tudo Nakata.

Quando Proust fala em buscar novos olhos, novas perspectivas do mundo, ele está falando de empatia. Vamos ver o que quer dizer empatia, recorrendo aos dicionários: capacidade de compreender o sentimento ou reação da outra pessoa imaginando-se nas mesmas circunstâncias. Ou seja: capacidade de colocar-se no lugar do outro o que, acredite, é muuuuuiiito difícil!

Com as novas tecnologias, as redes sociais e tal, temos hoje a capacidade de espalhar nossas histórias como nunca antes na história desta humanidade. Alguns bilhões de pessoas podem hoje compartilhar seus “olhos para o mundo” com outras pessoas, dividindo com elas seus pontos de vista e proporcionando a pessoas que jamais terão as oportunidades que você teve, de vivenciar o mundo a partir dos seus olhos. Nunca foi tão fácil distribuir seu olhar pelo mundo. Estar aqui neste podcast, falando com você, é para mim um privilégio. São milhares de pessoas que estão neste momento tendo a chance de enxergar o mundo a partir dos meus olhos, sacou? Dá até medo…

O filósofo Roman Krznaric cunhou então o termo outrospecção para designar essa atividade de ler, ouvir, assistir e compartilhar as histórias de outras pessoas do mundo todo, como um processo de autoconhecimento.

Outrospecção. Guarde essa.

Roman diz que o processo de outrospecção experimental exige que deixemos de lado os manuais de auto ajuda e agucemos a curiosidade por outras vidas e lugares que estão além de nossa experiência.

Eu tenho levado essa atividade ao extremo. Fui para o Everest, fui para o Polo Norte, por exemplo, para passar pelos caminhos que os caras sobre os quais eu li passaram. Eu quis ver ao vivo como era o lugar por onde eles passaram, e assim entender o contexto e as razões para que eles fizessem o que fizeram. Só agora estou sabendo que sou um outrospectador…

O filósofo Roman aconselha a, em sua próxima viagem, em vez de você perguntar “para onde vou agora?”, perguntar no lugar de quem eu posso estar agora?, embarcando numa jornada pelas vidas de pessoas estranhas. Não é o máximo?

Dono dos teus olhos
Humberto Teixeira

Não te esqueças
Que eu sou o dono dos teus óio
Faz favor de num espiá pra mais
ninguém
Esse azul cor de promessa nos teus óio
Faz qualquer cristão gostar de tu também
Que Nosso Senhor perdoe os meus ciúme
Quando pensa em cegar os óio teus
Pra que eu
Somente eu
Seja o teu guia
Os óio dos teus óio
A luz dos óio teu

Você está ouvindo DONO DOS TEU OLHOS, composição maravilhosa de Humberto Teixeira, primeiro com o violão maravilhoso de Nonato Luiz, e agora com Tétty, do Pessoal do Ceará. É uma delícia…

Uma das viagens que está na minha lista e que ainda farei é assim: visitar o campo de concentração de Auschwitz como se eu fosse um judeu, imaginano que eu fosse um judeu lá em 1940. Eu li e eu leio tudo que me cai às mãos a respeito e tenho certeza que a perspectiva, certamente, será outra.

Mas Roman faz uma outra proposta: “Imagine que você vê um mendigo debaixo da ponte. Você pode ficar penalizado e dar-lhe uma esmola. Isso é piedade, não é empatia. Se, por outro lado, você fizer um esforço para ver o mundo através dos olhos daquele mendigo, tentando perceber como é a vida para ele, quem sabe até conversando com ele e transformando aquele estranho num indivíduo único, aí sim você estará lidando com a empatia.”

Oh! E não é fácil…

E agora você está ouvindo É EU E VOCÊ, com José Abdias de Farias, que veio lá de Taperoá na Paraíba para se transformar no Abdias dos 8 Baixos. Olha só…

Voltando para o século 18, vamos encontrar outro filósofo, o escocês David Hume, que criou um conceito interessante, o dos “círculos concêntricos de empatia”. Vou descrevê-lo para você.

O primeiro e menor círculo, no centro, é aquele que contém as pessoas que nós amamos, com as quais temos contato direto, com as quais dividimos nossas vidas. Esse círculo está dentro de outro maior, onde estão as pessoas com as quais nos importamos a maior parte do tempo. Amigos, colegas de trabalho, etc. Não é gente que a gente ama, é gente que a gente gosta.

Esse segundo círculo está dentro de outro ainda maior, onde estão as pessoas pelas quais podemos sentir alguma empatia em algum momento. Dentro dele estão inclusive personagens de séries que assistimos. E em alguns pontos, desse círculo externo, estarão pessoas que conhecemos e que podem até mesmo tornar-se parte do segundo círculo, o das pessoas pelas quais nos importamos a maior parte do tempo.

Por fim, totalmente fora desses círculos, Hume coloca os objetos inanimados…e até mesmo as baratas.

Sacou? Uma série de círculos, de dentro para fora, que começam com quem amamos, e por quem temos toda a empatia do mundo, até as pessoas que pouco conhecemos e pelas quais poderemos ter alguma empatia.

Aquele mendigo da rua está no círculo externo e lá permanecerá até…

Durante quase 20 anos cruzei com um mendigo que morava numa praça na Avenida Pedroso de Moraes em São Paulo. Sempre sentado na praça e compulsivamente escrevendo, o mendigo tornou-se ponto de referência e de curiosidade. Meus filhos ficavam fascinados a cada vez que passávamos por lá, com aquela figura maltrapilha sentada no mesmo lugar e escrevendo…escrevendo… Quando chovia ele colocava um plástico sobre a cabeça e continuava escrevendo.

O mendigo estava no meu círculo externo de empatia. Mas muita gente colocou-o no segundo círculo, o das pessoas com as quais eles se importavam. E uma dessas pessoas, Shailla Monteiro, parou para conversar e ficou fascinada com a paz a e tranquilidade do mendigo, cujo nome era Raimundo. Shailla teve empatia imediata com Raimundo e um dia, para homenageá-lo, fez um perfil para ele no Facebook.

Raimundo veio de Goiânia para São Paulo para estudar, no começo dos anos 1960 e perdera contato com a família há mais de 20 anos. Um dia, uma cunhada sua, buscando uma foto dele para mostrar para a filha, encontrou a página no Facebook. E foi um susto.

O círculo central da empatia, o das pessoas que amamos, entrou em ação. Um irmão veio para São Paulo buscar Raimundo, que hoje vive com a família. Uma história deliciosa que você encontra no Facebook ao buscar a página de Raimundo Arruda Sobrinho, escritor. ( http://www.d1noticias.com.br/exibe_noticia/index/2555 – outras informações sobre o Raimundo).

Porque conto esta história? Porque ela demonstra como os círculos da empatia são importantes: enquanto Raimundo fez parte dos círculos externos, sua vida continuou miserável. Só quando alguém estabeleceu com ele uma relação de empatia, ele viu seu destino mudado.

Shailla Monteiro exercitou a outrospecção: viu o mundo pelos olhos de Raimundo e com isso transformou-o num indivíduo com o qual ela se importou. E deu no que deu.

Hume dizia que nosso senso de empatia com as pessoas diminuía à medida que nos afastávamos do centro, em direção a pessoas que desconhecíamos.

Mais recentemente, no entanto, neurocientistas demonstraram que todos os humanos, além de alguns mamíferos, possuem o que eles chamaram de neurônios espelho. Isso explica porque quando olhamos para outra pessoa que está experimentando uma forte emoção, como alegria o raiva, o mesmo neurônio que está sendo estimulado no cérebro dele, será estimulado no nosso. E isso explica muita coisa…

No princípio dos tempos, nossos antepassados caçadores só tinham empatia pelos membros de sua tribo e por parentes próximos. Com o tempo, com o desenvolvimento da escrita, a empatia deixou de se restringir no tempo e espaço especialmente quando as tribos e comunidades começaram a acreditar num deus comum. Tá vendo aí a importância da religião? E hoje, com desenvolvimento tecnológico, começamos a ver gente que não conhecemos como uma espécie de extensão da família. Eu e você, por exemplo…

Tudo que você podia ser
Lô Borges
Márcio Borges

Com sol e chuva você sonhava
Que ia ser melhor depois
Você queria ser o grande herói das estradas
Tudo que você queria ser
Sei um segredo você tem medo
Só pensa agora em voltar
Não fala mais na bota e do anel de Zapata
Tudo que você devia ser sem medo
E não se lembra mais de mim
Você não quis deixar que eu falasse de tudo
Tudo que você podia ser na estrada
Ah! Sol e chuva na sua estrada
Mas não importa não faz mal
Você ainda pensa e é melhor do que nada
Tudo que você consegue ser ou nada

Ôba! E então vem o Lô Borges, com TUDO QUE VOCÊ PODIA SER, mais uma das trilhas da minha vida. Essa é dele de seu irmão Marcio Borges, lá da turma do Clube da Esquina… Pois é. Você ainda pensa, e é melhor do que nada…

É então que surge a proposta para um civilização empática. Já pensou? Onde todos pratiquem a outrospecção, isto é, sejam capazes de conhecer a si próprios a partir do desenvolvimento de relações e de empatia com outras pessoas. Algo parecido com o que aconteceu entre Shailla e Raimundo.

A prática da empatia

Conheço o meu lugar
Belchior

O que é que pode fazer o homem comum
neste presente instante senão sangrar?
Tentar inaugurar
a vida comovida,
inteiramente livre e triunfante?

O que é que eu posso fazer
com a minha juventude
quando a máxima saúde hoje
é pretender usar a voz?
O que é que eu posso fazer
um simples cantador das coisas do porão?
Deus fez os cães da rua pra morder vocês
que sob a luz da lua,
os tratam como gente – é claro! – a pontapés.)

Era uma vez um homem e seu tempo…
(Botas de sangue nas roupas de Lorca).
Olho de frente a cara do presente e sei
que vou ouvir a mesma história porca.
Não há motivo para festa: ora esta!
Eu não sei rir à toa!

Fique você com a mente positiva que eu
quero a voz ativa (ela é que é uma boa!)
pois sou uma pessoa.
Esta é minha canoa: eu nela embarco.
Eu sou pessoa!
(A palavra “pessoa” hoje não soa bem –
pouco me importa!)

Não! Você não me impediu de ser feliz!
Nunca jamais bateu a porta em meu nariz!
Ninguém é gente!
Nordeste é uma ficção! Nordeste nunca houve!

Não! Eu não sou do lugar dos esquecidos!
Não sou da nação dos condenados!
Não sou do sertão dos ofendidos!
Você sabe bem:
Conheço o meu lugar! (4x)

E ai? Conhecia essa? Acho que não… É Belchior com CONHEÇO MEU LUGAR. Prestou atenção na letra?

Muito bem, você sacou como nesta sociedade do confronto estamos anos luz distantes da civilização empática que se propõe? Se não conseguimos nem mesmo suportar alguém que tem uma visão diferente da nossa, que dirá tentar enxergar o mundo com os olhos desse alguém?

Vamos lá de novo: empatia é a habilidade de colocar-se no lugar de outra pessoa, buscando entender seus sentimentos e perspectivas, e usando essa compreensão para guiar suas ações.

Parece uma missão impossível. Mas será? Roman Kzrnaric lista em seu blog alguns hábitos que podem nos ajudar a buscar a empatia. Não é caga-regras nem coisa de guru, é simplesmente a velha e boa lógica pra te provocar a imaginar se todos fossem iguais a você…

Primeiro ele fala em cultivar a curiosidade sobre outras pessoas. Pessoas que praticam a empatia conversam com estranhos, mas não apenas para saber as horas ou a temperatura. Elas buscam entender o mundo dentro da cabeça da outra pessoa. É preciso coragem e cuidado para abordar um estranho nestes dias em que todo mundo desconfia de todo mundo, mas vale tentar. Podem pintar surpresas.

Ele também fala em desafiar seus preconceitos e buscar pontos em comum. Pessoas empáticas buscam por pontos em comum, mais do que discordâncias. Eu e a Ciça, por exemplo. Estamos em extremidades opostas do espectro político! Mas ela me ama…o Café Brasil nos une!

Outra dica: tente experimentar a vida de outra pessoa. Olhaí Ciça! Você que é Palmeirense roxa, porque não experimenta um dia assistir um jogo junto com os corinthianos? Lá no meio da Fiel? Cantando “aqui tem um bando de loucos”? Vai te dar outra dimensão da vida, rarararra…

E por falar em empatia, olha só a Pellegrino mandando bala na sua página do Facebook. O que? Você acha que a Pellegrino é apenas uma distribuidora de auto e moto peças? Que nada, meu. Eles estão interessados em outras coisas também… Dê um aolhada no www.facebook.com/pellegrinodistribuidora e veja o monte de dicas legais por lá.

Pellegrino Distribuidora. Conte com a nossa gente.

Então vamos lá… Falamos hoje da necessidade de se colocar no lugar do outro como uma ferramenta para a convivência harmônica. Empatia. E contei para você que quem consegue se entender a partir das experiências de outras pessoas, pratica em vez da introspectiva a outrospectiva. Que interessante, não é?

Ah, sim, e tem mais. Isso tudo não é apenas uma questão de não fazer para os outros aquilo que você não quer que façam com você. Tem mais a ver com o que escreveu Bernard Shaw: Não faça aos outros o que você gostaria que eles fizessem com você. Eles podem ter gostos diferentes.”

Pois é. Empatia é descobrir que gostos são esses.

Ah ! Se eu fosse você
Claudia Barroso

Ah se eu fosse você…
Não tomaria esta decisão
Pra depois ter que sofrer
Curtir sozinho uma desilusão

Ah se eu fosse você…
Tudo faria pra não me perder
Acontece que eu sou eu,
Não sou eu quem vai sofrer
Foi você quem me perdeu
Tanto eu falei …
Abre os olhos meu amor
Vendo tal situação,
Juro dói me coraçao,
Sinto pena de você
Riu tanto de mim …
Conseguiu me derrubar
Vou vencer se Deus quiser …
Pois eu sou muito mulher !
Pra saber me levantar …

E é assim então, ao som de AH! SE EU FOSSE VOCÊ, de Cláudia Barroso, com ela mesma, que o Café Brasil que sabe do que você gosta vai saindo de mansinho.

Com o introspectivo Lalá Moreira na técnica, a empática Ciça Camargo na produção e eu, o outrospectivo Luciano Pires na direção e apresentação.

Estiveram conosco o ouvinte Isaias Silva da Costa, Nonato Luiz, Tetty, Abdias dos 8 Baixos, Lô Borges, Belchior e Claudia Barroso.

O Café Brasil chega até você com o apoio sempre importante do Auditório Ibirapuera, que sabe muito bem como criar condições para que as pessoas enxerguem o mundo pelos olhos das outras. Se você ainda não sentou naquela plateia e se deixou levar pela visão de mundo de outras pessoas, não sabe o que está perdendo. Acesse www.facebook.com/auditorioibirapuera e vá até lá. Eu juro que é imperdível!
Este é o Café Brasil. De onde vem tem muito mais, inclusive um pessoal querendo saber o que você acha. www.portalcafebrasil.com.br.

Pra terminar, uma frase de Mehmet Oz, o Dr. Oz da televisão:

O oposto da raiva não é a calma. É a empatia.

[/dmSSlideDown]

 

[fcomment]