Café Brasil 344 – Quase

Bom dia, boa tarde, boa noite. Esta é uma semana triste para os podcasters brasileiros.  Estou gravando este programa aqui numa quarta e no domingo pela manhã, levado por um infarto fulminante, a gente perdeu um querido amigo. Foi uma daquelas notícias que pega a gente de surpresa, que deixa a gente sem saber o que pensar e vai, aos poucos, deixando um gosto estranho na boca e aquela perguntinha insistente: por quê, hein?

Bem, este programa fica sendo então uma homenagem a um amigo, o Lucas Amura.

Abençoados os que possuem amigos, os que os têm sem pedir.
Porque amigo não se pede, não se compra, nem se vende.
Amigo a gente sente!

Este programa chega até você com o apoio do Itaú Cultural, que foi criado para incentivar, inspirar e preservar a capacidade dos homens e mulheres de cri-ar. Acesse www.itaucultural.org.br e clique o ícone “explore” para mergulhar nos universos das artes visuais, cinema e vídeo, arte e tecnologia, jornalismo cultural, música, dança, teatro e literatura. É uma viagem…

E o exemplar de meu livro NÓIS…QUI INVERTEMO AS COISA da semana vai ficar na intenção. Ele vai pro Lucas Amura que contribuiu com muita gente na podosfera, contribuiu com vários programas e quase, quase contribuiu diretamente com o Café Brasil.

Então, agora a turma da Nakata está inventando moda. Vem aí uma promoção que vai deixar algumas pessoas malucas. Mas pra saber o que é, tem que acessar o facebook da Nakata, uma página repleta de informações interessantes sobre o universo automotivo. Acesse www.facebook.com/componentesnakata. Nakata sempre com K.

Arriscado é não usar Nakata. Exija a tecnologia original líder em componentes de suspensão.

Tudo azul. Tudo Nakata.

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Então … eu estava combinando com o Lucas Amura um Café Brasil especial, onde a gente trataria do mundo dos podcasts de um jeito diferente. Conversamos longamente ao telefone e eu só dependia de encontrar um terceiro componente para marcar a gravação.

Quase deu… Ah, se não fosse o quase…

Pra quem não conheceu o Lucas, eu vou reproduzir aqui um trechinho de um podcast chamado Jurassicast onde o Lucas tinha participação constante. Dentre as dezenas de homenagens qaue eu li e ouvi, foi a turma do Jurassicast, em especial o Calavera quem, na minha opinião fez a mais feliz definição do Lucas.

Pois é. O Lucas minifestava apreço pelas pessoas. E assim, despertava o que havia de melhor na gente, cara. E por isso vai fazer uma puta falta. Um abraço ao Calavera, ao Miotti e ao Brunão. Agora vocês tem o maior anjo da guarda que poderiam querer.

Mas o Lucas não vai deixar de participar no Café Brasil. Eu o conheci em 2010, quando ele me enviou um email comentando que ouvia o Café Brasil desde o lançamento, lá em 2006. O Lucas tinha um vozeirão de locutor, e me pediu permissão para ler alguns textos meus e publicar em seu blog. Me senti honrado e eu permiti, é claro. E logo meus textos estavam no ar.

Pois vou trazer um deles aqui. Um texto chamado ASSINE AQUI POR FAVOR… A trilha do fundo é do próprio Lucas…

Quase
Luiz Tatit

Desde que
Que cheguei aqui
Tive que
Que me decidir
Vou ficando
Vou vivendo
Ou devo partir
Fui ficando
Fui vivendo
Fui partir
Era muito tarde
Quase que parto
Mas estava inseguro
Quase que embarco
Num sonho maduro
Quase me curo
Quase, eu juro
Quase dou um grande salto
Para o futuro
Fiquei no caminho
Faltou só um pouquinho

Nunca estive tão perto de ser feliz
Olha! Só não deu certo porque eu não quis
Vi a sorte a um palmo do meu nariz

Só depois
Com você aqui
Só nós dois
Foi aí que eu vi
Como muda
Como fica
Bem melhor assim
Fui sentindo
Fui gostando
Quando vi
Quase estava amando
Quase que sinto
Um desejo violento
Quase que vivo
O maior sentimento
Quase me atinge
Me pega por dentro
Quase que eu me apaixono
Nesse momento
Pra desencantar
Resolvi contar

Mas você
Você não ouviu
Eu cheguei
Já cheguei febril
Murmurando
Qualquer coisa
Só que não saiu
Foi por pouco
Muito pouco
Mais um pouco
E eu diria tudo
Tudo que estava
Na minha garganta
Tudo que eu tento dizer
E não adianta
Quase que eu digo
Com toda a emoção
Quase ponho pra fora
Meu coração
Quase que me expresso
Já pensou o sucesso!

Quase fiz tudo certo pra ser feliz
Quase que eu fiz de tudo mas eu não fiz
Quase alcancei a glória foi por um triz
Quase!

Você está ouvindo QUASE, uma daquelas pérolas de Luiz Tatit…

Pois é… E no domigo, ao receber a notícia do falecimento do Lucas, corri para a internet para encontrar alguma informação. E achei no blog dele um comentário que me deixou assim… assim.  No começo de 2013 ele publicou isto aqui:

“Pelo lado profissional, 2012 foi um ano que começou terrível. Achei que fosse ter um infarto. Fui parar no hospital algumas vezes. Mas depois melhorou um pouco e, ainda que eu não consiga enxergar uma luz no túnel que não seja um trem vindo em sentido contrário em desabalada carreira, sinto que 2013 vai pegar mais leve que seu irmão mais velho.”

Pois é, caro Lucas, 2013 não pegou mais leve, não. Levou você, um cara do bem, deixando a gente aqui, atarantado… putz…se ao menos eu tivesse me esforçado para marcar aquele Café Brasil especial… Pois é…quase…

Busquei algo que pudesse ser dito relacionando essa sensação de perda com a do “quase deu…” e encontrei um texto daqueles, de autoria de Tati Bernardi. Fala de um amor perdido, mas tem uma abordagem do quase que é deliciosa. Não tem título, mas eu colocaria “QUASE”…

Ao fundo vamos com CHORANDO BAIXINHO, o clássico de Abel Ferreira, com Yamandu Costa e Dominguinhos…

Eu quase consegui abraçar alguém semana passada. Por um milésimo de segundo eu fechei os olhos e senti meu peito esvaziado de você. Foi realmente quase. Acho que estou andando pra frente. Ontem ri tanto no jantar, tanto que quase fui feliz de novo. Ouvi uma história muito engraçada sobre uma diretora de criação maluca que fez os funcionários irem trabalhar de pijamas. Mas aí lembrei, no meio da minha gargalhada, como eu queria contar essa história para você. E fiquei triste de novo. Hoje uma pessoa disse que está apaixonada por mim. Quem diria? Alguém gosta de mim. E o mais louco de tudo nem é isso. O mais louco de tudo é que eu também acho que gosto dele. Quase consigo me animar com essa história, mas me animar ou gostar de alguém me lembra você. E fico triste novamente. Eu achei que quando passasse o tempo, eu achei que quando eu finalmente te visse tão livre, tão forte e tão indiferente, eu achei que quando eu sentisse o fim, eu achei que passaria. Não passa nunca, mas quase passa todos os dias. Chorar deixou de ser uma necessidade e virou apenas uma iminência. Sofrer deixou de ser algo maior do que eu e passou a ser um pontinho ali, no mesmo lugar, incomodando a cada segundo, me lembrando o tempo todo que aquele pontinho é um resto, um quase não pontinho. Você, que já foi tudo e mais um pouco, é agora um quase. Um quase que não me deixa ser inteira em nada, plena em nada, tranquila em nada, feliz em nada. Todos os dias eu quase te ligo, eu quase consigo ser leve e te dizer: “Ei, não quer conhecer minha casa nova?” Eu quase consigo te tratar como nada. Mas aí quase desisto de tudo, quase ignoro tudo, quase consigo, sem nenhuma ansiedade, terminar o dia tendo a certeza de que é só mais um dia com um restinho de quase e que um restinho de quase, uma hora, se Deus quiser, vira nada. Mas não vira nada nunca. Eu quase consegui te amar exatamente como você era, quase. E é justamente por eu nunca ter sido inteira pra você que meu fim de amor também não consegue ser inteiro… Eu quase não te amo mais, eu quase não te odeio, eu quase não odeio aquela foto com aquelas garotas, eu quase não morro com a sua presença, eu quase não escrevo esse texto. O problema é que todo o resto de mim que sobra, tirando o que quase sou, não sei quem é.

Falando da vida
Rodger Rogério
José Evangelista

No meio do dia não venha tentar quebrar meu encanto
Não venha chorar, por enquanto
Meus olhos de olhar, de olhar querem ver o que há
Não venha me encher de mistérios
Não vou prometer ficar sério

Não venha, não venha tentar quebrar meu encanto
Não venha chorar, por enquanto
Não venha me encher de mistérios
Não, não vou prometer ficar sério
Não venha estragar meu prazer
Não, não vou prometer
Não venha estragar
Enquanto durar

No meio da noite não posso deixar
Não posso deixar de sair
Se você quiser pode vir
Não quero mudar minha sorte
No meio da noite não posso deixar
Não posso deixar de sair
Se você quiser pode vir
Não quero mudar minha sorte

Se a morte, se a morte vier me encontrar
Ela sabe que estou entre amigos
Se a morte, se a morte vier me encontrar
Ela sabe que estou entre amigos
Falando da vida, falando da vida
Falando da vida, e bebendo num bar
Falando da vida, falando da vida
Falando da vida, e bebendo num bar

Você está ouvindo FALANDO DA VIDA, que eu já toquei e não cansarei de tocar aqui. É o Pessoal do Ceará, com a voz de Rodger Rogério de quem você, provavelmente, nunca ouviu falar…

Recentemente fui fazer uma palestra para uma grande multinacional do segmento de autopeças. Ao me apresentar, o diretor da empresa fez um comentário que me deixou espantado. Após me apresentar para a plateia, ele disse mais ou menos assim: “…mas o que o Luciano não sabe é que ele quase veio trabalhar conosco. Quando ele saiu da empresa em que trabalhava, nós sugerimos seu nome para que fosse convidado a vir para nosso grupo. Mas ele já havia trilhado outros rumos…”. Quando entrei em cena, virei para ele e disse: “Pois é, fulano…o quase é uma merda…”.

Lembra do Pelé na Copa do Mundo de 1970, quando deu um drible da vaca no goleiro uruguaio Ladislao Mazurkiewicz  e chutou para o gol? Uma jogada de uma beleza impressionante, que entrou para a galeria dos momentos clássicos da história do futebol mundial. Pois é quase foi gol…

Tenho uma conhecida que era fissurada num rapaz, e quando teve uma chance não teve coragem de abordá-lo… Um dia, 25 anos depois, o encontra já casado e com filhos e na conversa, ele pergunta se naquele dia determinado tivesse tomado a iniciativa, ela teria topado? E ela, surpresa, diz “sim…”. Pois é… quase…

Com o Lucas Amura foi também um quase. Quase gravamos um programa, quase nos encontramos para um papo gostoso, quase realizamos algo juntos…quase.

Mas porque “quase”? Porque eu defini que outras coisas eram prioritárias. Outras providências, outros encontros, outros programas,outros… E o Lucas se foi. Fiquei no quase. E te garanto: o gosto não é nada bom…

Fala
Luhli
João Ricardo

Eu não sei dizer
Nada por dizer
Então eu escuto
Se você disser
Tudo o que quiser
Então eu escuto
Fala
lá, lá, lá, lá, lá, lá. lá, lá, lá
Fala
Se eu não entender
Não vou responder
Então eu escuto
Eu só vou falar
Na hora de falar
Então eu escuto
Fala
lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá, lá
Fala

Você ouve o clássico FALA, com a autora, Luhli.

Durante muitos dos anos que trabalhei como executivo na Dana. Um dos mentores que encontrei chamava-se Enio Moura Valle. Moura Valle era um gentleman, um grande contador de histórias, daquelas figuras que a gente quer ter por perto… Moura Valle era…nutritivo.

Depois que saí da empresa perdi contato com ele, de quando em quando recebendo notícias a respeito de sua saúde que andava frágil. Quando lancei em 2012 meu livro DIÁRIO DE UM LÍDER, logo me lembrei dele. Moura Valle é um dos sujeitos ocultos do livro, e eu quis que ele soubesse disso. Consegui o telefone dele e deixei ali de lado, para ligar “quando desse…”.

Num final de tarde, começo de noite, semanas depois, me lembrei. E liguei. Falei com ele longamente, relembrando os velhos tempos, agradecendo pelos exemplos que ele me deu. Ele estava mal de saúde, já não saía de casa, precisava do auxílio de enfermeiras e tal.  Comentei do meu livro. Peguei o endereço e no dia seguinte enviei um exemplar, com uma bela dedicatória. Me senti feliz por ter feito aquilo.

Passaram-se alguns dias e recebi a notícia. Meu amigo e mentor Ennio Mora Valle falecera.

Fiquei muito triste, chateado. Mas lá no fundo senti uma satisfação imensa por não ter deixado que o “quase” mais uma vez se colocasse entre eu e meus amigos. Dessa vez eu consegui cumprir o que desejava: falei com meu amigo, enviei o livro, agradeci por tudo que ele me deu, rimos juntos e nos despedimos. Quando ele morreu eu não pensei: puxa, quase falei com ele… quase agradeci a ele… quase mandei o livro pra ele. Dessa vez, não dei moleza pro quase. E só quem já fez isso sabe da satisfação que é a sensação de fazer o que deve ser feito.

Meu amigo Ennio Moura Valle foi, entre outras coisas, presidente da Pellegrino no final dos anos setenta… A mesmo Pellegrino Distribuidora que patrocina este nosso programa e que convida você a acessar sua página no Facebook onde além de informações legais, ainda concorre a um iPad, a um GPS e a tocadores de mp3 para ouvir o melhor da música que se faz hoje no mundo. Acesse www.facebook.com/pellegrinodistribuidora. Pellegrino com dois eles. Acesse, clique no post da promoção e boa sorte!

Pellegrino Distribuidora. Conte com a nossa gente.

É isso então, minha cara, meu caro…nada como uma perda repentina para botar a gente a pensar sobre aqueles momentos em que a gente…quase… Pare para pensar um pouco nos quases que você não deixou que se materializassem e lembre-se das consequências. Quando aquele quase-sim foi um sim… aquele quase-não foi um não… pense.

E é assim, ao som de FALA, com o Secos e Molhados que este nossa Café Brasil que é uma homenagem a um amigo, e fã, que se foi, o Lucas Amura vai saindo de mansinho.

Com Lalá Moreira na técnica, Ciça Camargo na produção e eu, Luciano Pires, na direção e apresentação.

Estiveram conosco o Luiz Tatit, Yamandu Costa com Dominguinhos, Luhli, o Pessoal do Ceará e os Secos e Molhados. E a voz inesquecível de Lucas Amura.

Este programa chega até você com o apoio de um lugar onde você quase flutua… o Auditório Ibirapuera, um templo construído para honrar a música como a manifestação da alma dos homens e mulheres que querem falar o que não se diz apenas com palavras. www.auditorioibirapuera.com.br. Acesse o site, olhe a programação, escolha um dos eventos e vá lá. E depois me conte…

Este é o Café Brasil. De onde veio, tem muito mais: www.portalcafebrasil.com.br.

Pra terminar, mais uma vez Lucas Amura:

Benditos sejam os amigos que acreditam na tua verdade ou te apontam a realidade.
Porque amigo é a direção.
Amigo é a base quando falta o chão!

* Esse trecho, bem como a frase inicial dita por Lucas Amura é um poema de Isabel Machado chamado Benditos. Abaixo a íntegra do poema.

Abençoados os que possuem amigos, os que os têm sem pedir.
Porque amigo não se pede, não se compra, nem se vende.
Amigo a gente sente!

Benditos os que sofrem por amigos, os que falam com o olhar.
Porque amigo não se cala, não questiona, nem se rende.
Amigo a gente entende!

Benditos os que guardam amigos, os que entregam o ombro pra chorar.
Porque amigo sofre e chora.
Amigo não tem hora pra consolar!

Benditos sejam os amigos que acreditam na tua verdade ou te apontam a realidade.
Porque amigo é a direção.
Amigo é a base quando falta o chão!

Benditos sejam todos os amigos de raízes, verdadeiros.
Porque amigos são herdeiros da real sagacidade.
Ter amigos é a melhor cumplicidade!

Há pessoas que choram por saber que as rosas têm espinho,
Há outras que sorriem por saber que os espinhos têm rosas