Café Brasil 325 – O princípio de Poliana

Bom dia, boa tarde, boa noite. É muito comum ouvir os brasileiros criticando o Brasil, aliás, fazemos isso diariamente, não é? Afinal de contas, tirando as coisas que Deus nos deu, há muito pouco a ser comemorado, admirado e elogiado, não é? É. Mas só é se você olhar o Brasil apenas pela televisão, pelos jornais, pelas revistas…

Existe um Brasil muito maior, mais rico, mais vibrante que aquela lata de lixo que despejam no seu colo todos os dias. Mas para isso é preciso comparar com outros mundos… Vamos nessa linha hoje.

Pra começar, uma frase do maestro Tom Jobim:

O Brasil não é para principiantes…

Este programa chega até você com o apoio de uma turma que tem contribuído imensamente para a manutenção da cultura brasileira ao investir na nossa arte: o Itaú Cultural. Acesse o www.itaucultural.org.br e dê uma passeada pelo site. Você verá como é possível construir um outro mundo habitado por animais culturais, um mundo muito mais rico, provocativo e atraente que a nossa rotineira realidade. www.itaucultural.org.br. E boa viagem…

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E o exemplar de meu livro NÓIS…QUI INVERTEMO AS COISA desta semana vai para a Mônica Cabañas Guimarães – Jornalista e Coordenadora do Programa de Cooperação Sul-Sul na área de Seguridade Social da OIT – Organização Internacional do Trabalho em Brasília. A Mônica é nossa ouvinte e me mandou uma mensagem pelo Facebook tão interessante que pedi a ela que fizesse um relato mais detalhado. Ouça só:

“Luciano. Tenho 50 anos, sou jornalista de profissão e trabalho, há 30 anos, na área de seguridade social. Tenho muito orgulho de ter me apaixonado por este tema tão humano e que faz parte da vida de cada um de nós em todos os continentes e países, tanto quando se tem este direito reconhecido como quando não se tem.

Há quase três anos estou desenvolvendo minhas atividades na Organização Internacional do Trabalho e nela tive uma oportunidade impar de continuar o trabalho iniciado no Ministério da Previdência Social que é apoiar o governo de Timor-Leste no desenvolvimento do Sistema de Seguridade Social do país. Isto realmente me motiva muito e faz toda a diferença. Na realidade este trabalho é um dos meus “Campo base do Everest”.

Na verdade, sou viciada em trabalho, mas não é qualquer trabalho, tem que ter transformação, mudança, paixão. Eu sou absolutamente movida por amor ao que eu faço e se não for assim nem insiste que não rola.

Eu escolhi ser jornalista por que tinha um sonho utópico de mudar o mundo, mas a vida me ensinou que não preciso estar em um jornal, televisão, rádio ou qualquer outra mídia para atingir meus objetivos.

Apoiar a construção de uma lei, sua implementação e o reconhecimento do direito dos cidadãos timorenses não tem preço. Nestas horas tenho a certeza que a mudança efetivamente está acontecendo de forma muito mais forte e intensa do que eu poderia imaginar ou desejar.

Confesso para vocês que apesar da minha longa experiência trabalhando, no Brasil e fora dele, com seguridade social, ver a foto dos primeiros timorenses recebendo-os foi uma emoção muito forte, difícil de descrever. Como diz o Roberto Carlos: “são tantas emoções”.

Viajei para Timor-Leste em abril de 2010 e acreditem, é uma experiência única conhecer um país que passou, na sua história recente, por revoluções, guerras, ocupações e colonizações de diferentes países que fizeram com que cada família timorense tenha sofrido perdas significativas.

A última grave crise política institucional foi em 2006, o que fez o governo concentrar seus programas de proteção social na promoção da estabilidade social e no apoio às ações humanitárias. Somente após vencer este desafio foi possível desenvolver e consolidar um sistema de previdência social.

Em um ano e três meses eu me aposento e confesso que este trabalho que tenho realizado junto ao Timor-Leste é para mim a certeza que em qualquer fase de nossa vida profissional devemos trabalhar como se fosse a primeira vez, com aquele entusiasmo de adolescente que descobre qual a profissão que seguirá e tendo sonhos, muitos sonhos que podem se tornar realidade como, para mim, o primeiro sistema de seguridade social de Timor Leste.”

Mônica, que história legal. Quanta gente tem a oportunidade de participar de um projeto que literalmente muda a vida de outras pessoas, muda a história de um país, muda o futuro de um povo. To com invejinha… A Mônica ganhou um livro sem precisar comentar um programa. Apenas escreveu pra gente pra contar uma história legal. Ta vendo como é fácil?

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E é ao som delicioso de CAMINHO DE CASA, do mestre Nelson Ayres, com ele e seu grupo no maravilhoso CD MANTIQUEIRA,

que eu vou lembrando que em minha palestra O MEU EVEREST conto que quando estive na trilha para o campo base da montanha mais alta do mundo, compartilhei o caminho com os iaques. Iaques são uma espécie de boi que foi geneticamente modificado. Transformou-se num animal resistente capaz de sobreviver acima dos 4 mil metros de altura. Se você levar um cavalo para lá ele morre. O iaque não.

São dezenas, centenas de iaques circulando pela trilha carregando as cargas que sobem e descem pelo caminho. E os iaques não tem problema para satisfazer suas necessidades elementares: cagam pela trilha com uma sem cerimônia impressionante. E são tantos iaques cagando que em alguns momentos a trilha é um carpete de bosta…

Num dia, sobre aquele carpete, me perguntei como é que aquela gente conseguia conviver com aquela imundície, que aquilo era um absurdo, etc… mas, peraí: eu estava a 4 mil metros de altura. Num lugar que não tem árvores, não tem madeira, não tem carvão, não tem hidrelétricas, não tem diesel, não tem gasolina, não tem energia. A fonte de energia deles é bosta seca de iaque. Toda casa tem no quintal uma pilha de bosta seca de iaque de onde sai o combustível que mantém aceso o aquecedor que ficava no centro da casa. É em torno do aquecedor que gira a vida dos habitantes das montanhas. Se o aquecedor apagar a temperatura cai para abaixo de zero. É a bosta do iaque que mantém o calor necessário à vida…

Eu estava num lugar onde não havia interruptores na parede para acender a luz. Onde as mulheres tomam banho com uma bacia de água na soleira da porta da rua. Onde as crianças andam em temperaturas abaixo do zero, nuas da cintura para baixo.

O ano era 2001. Quando voltei ao Brasil, no final do mês de abril, estávamos em plena campanha eleitoral para as eleições presidenciais. E o mote era: O Brasil é um país de miseráveis. Temos 40 milhões de miseráveis. Eu ouvia aquilo e respondia:

– Pô meu, você quer ver miséria? Vá ver aquela que eu vi, com 15 abaixo de zero!

A viagem para o Everest mostrou para mim que meu país tropical é um paraíso. Cheio de problemas, quase todos causados pelos brasileiros, mas abençoado por Deus e bonito por natureza. É a comparação de nossa situação com a de outros mundos que nos dá a capacidade de avaliar e valorizar as coisas que temos. Quem nunca saiu do Brasil não sabe o que é bom e o que é ruim. Só sabe comparar as coisas que conhece…

Depois de voltar do Everest, passei a olhar meu país com outros olhos. Mais bonitos.

O amor é o meu país
Ivan Lins

Eu queria, eu queria, eu queria
Um segundo lá no fundo de você
Eu queria, me perdera, me perdoa
Por que eu ando à toa
Sem chegar
Tão mais longe se torna o cais
Lindo é voltar
É difícil o meu caminhar
Mas vou tentar
Não importa qual seja a dor
Nem as pedras que eu vou pisar
Não me importo se é pra chegar
Eu sei, eu sei
De você fiz o meu País
Vestindo festa e final feliz
Eu vi, eu vi
O amor é o meu País
E sim, eu vi
O amor é o meu País

Você que é novinho talvez não saiba do impacto que teve Ivan Lins quando surgiu com O AMOR É O MEU PAÍS ganhando o segundo lugar na fase nacional do V Festival Internacional da Canção em 1970. Seu canto rasgado, arranjos grandiosos anunciaram que estava chegando um artista diferenciado, que está aí até hoje.

Meses atrás fui fazer palestras bem longe de casa. Em Manaus, a belíssima capital do estado do Amazonas. Ao final do evento fomos a um restaurante jantar e me chamou a atenção uma garçonete e um garçom. Gentis, cuidadosos a ponto de demonstrar até mesmo temor de cometer alguma gafe ao nos servir. Eram negros retintos, com uma beleza única e um sotaque arrastado. Perguntei de onde eram:

– Haiti, senhor.

Olhei com atenção e vi vários outros. Fui conversar com o dono do restaurante e ele explicou que aquele pessoal fazia parte de um dos muitos grupos de haitianos que entram ilegalmente no Brasil. Aqui recebem documentos e a permissão de trabalhar para ganhar o seu sustento. Ele os acolhia de bom grado.

Eram fugitivos de um país miserável que foi arrasado por um terremoto. Gente que, quando arruma um emprego – qualquer emprego – considera-se abençoada por Deus. Qualquer um deles que ganhar um salário mínimo no Brasil é considerado um milionário em comparação com seus compatriotas miseráveis.  Por isso agarram a oportunidade de suas vidas com todas as forças.

Pois é… quem compara, acha.

Em 1913 a escritora Eleanor Porter escreveu um livro infantil que transformou-se num grande clássico: Pollyanna.

Pollyanna é a personagem central do livro, uma menina órfã que tem uma filosofia de vida que consiste em sempre encontrar uma razão para ficar contente com alguma coisa, em qualquer circunstância. Ela aprendeu a lição com seu pai num Natal quando, na expectativa de encontrar uma boneca dentro de um baú recebido dos missionários, encontra um par de muletas. O pai então disse a ela que olhasse pelo lado bom das muletas: não precisamos usá-las…

Isso me lembra uma velha piada do Juca Chaves…

Essa delícia que você está ouvindo aí, é CAMINHO DO SOL, com o Nikolas Krassik e os Cordestinos.

Na psicologia existe um princípio chamado de PRINCÍPIO DE POLIANA, que diz que nosso inconsciente busca sempre o lado otimista enquanto o consciente busca o pessimista.

Há de aparecer então gente me escrevendo pra me chamar de Poliana, dizendo que estou desviando os olhos da realidade para me iludir, que o Brasil é sim esse lixo que vemos diariamente pela televisão…

Deixe-me colocar um ponto muito claro aqui: minha intenção neste programa não é apelar para aquela velha técnica de procurar alguém mais pobre, mais doente, mais desafortunado, mais miserável, mais azarado do que eu para me conformar com a minha situação. Como aquele sujeito que, quando você conta que roubaram seu celular, quer consolar dizendo que roubaram o computador dele. Conforme-se: tem alguém mais miserável que você. Não é esse o ponto.

O que estou pregando aqui é a necessidade de se conhecer as várias realidades, de ter um repertório rico de experiências, de perceber que a grama mais verde do vizinho representa uma oportunidade: se a grama dele é mais verde que a minha, significa que posso ter uma grama tão verde quanto a dele, não é que eu seja um merda, sacou?

Significa que se a grama do meu vizinho é menos verde que a minha, fiz alguma coisa melhor do que ele. E talvez eu deva compartilhar com ele meu método. Como fez a Mônica Cabañas lá no Timor Leste.

Mas ah, se fosse assim tão fácil… Eu acho que o Brasil que a maioria das pessoas enxerga é um que poderia ter sido descrito pelo poeta Vinícius de Moraes quando ele falou de uma casa num poema que fica muito curioso quando a gente pensa nessa casa como o nosso país, olha só….

Era uma casa muito engraçada
Não tinha teto, não tinha nada
Ninguém podia entrar nela, não
Porque na casa não tinha chão
Ninguém podia dormir na rede
Porque na casa não tinha parede
Ninguém podia fazer pipi
Porque penico não tinha ali
Mas era feita com muito esmero
Na rua dos bobos, número zero

Quero então retomar aqui um trecho do email da Mônica Cabañas, ouça com atenção:

“Em um ano e três meses me aposento e confesso que este trabalho que tenho realizado junto ao Timor-Leste é para mim a certeza que em qualquer fase de nossa vida profissional devemos trabalhar como se fosse a primeira vez, com aquele entusiasmo de adolescente que descobre qual a profissão que seguirá e tendo sonhos, muitos sonhos que podem se tornar realidade como, para mim, o primeiro sistema de seguridade social de Timor-Leste.”

A Mônica teve a chance de conhecer outro mundo, com o gramado bem menos verde que o dela, e fez a diferença. Sorte dela.

Eu não pude fazer nada pelo Nepal. Nem pelo Haiti. Mas as experiências desses dois mundos me ensinaram a ver meu país de um jeito diferente, que nada tem a ver com o Princípio de poliana. Não me recuso a aceitar os fatos ruins, negativos e terríveis com os quais a todo momento me deparo em meu país. Apenas aprendi que o Brasil é uma grande cozinha, e nessa cozinha existe uma lixeira.

Mas o Brasil não é só a lixeira.

E por falar em coisas boas, vamos então à promoção de nosso novo patrocinador: a Pellegrino Distribuidora de auto e moto peças, que oferece as melhores marcas de componentes automotivos do Brasil.

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Pellegrino Distribuidora de Autopeças: conte com a nossa gente.

Então hein, sacou a jogada? Se você só conhece o seu quintal, cuidado quando falar mal dele. Dê uma olhada no quintal do vizinho. Não para se conformar, mas para poder ter a certeza de que você não é tão ruim, tão incompetente, tão atrasado, tão fracassado quanto alguns querem fazer parecer.

Caminhos incertos
Raízes Caboclas

O sol vem brilhando no leste
e a brisa desta manhã
que me traga a sorte
na rotina do meu viver
Vou desfazendo o momento
neste sentimento
em busca de um prazer

Quanta incerteza na vida
pra lutar no amanhã
Quantos caminhos incertos
jogo aberto pra começar.

Quero espinho, no caminho
sou valente, vou lutar
Tenho certeza que sou forte
com a sorte eu vou me encontrar

E é assim, então, ao som amazonense de CAMINHOS INCERTOS, com o grupo RAÍZES CABOCLAS que nosso Café – com muito orgulho – Brasil, vai saindo de mansinho.

Com o brasileiro Lalá Moreira na técnica, a brejeira Ciça Camargo na produção e eu, o tropicalíssimo Luciano Pires na direção e apresentação.

Estiveram conosco a ouvinte Mônica Cabañas, Juca Chaves, Raízes Caboclas, Vinícius de Moraes, Ivan Lins, Nikolas Krassik com os Cordestinos e Nelson Ayres. Tá bom assim?

Este programa chega até você com o apoio de uma turma que conhece muito bem um dos maiores tesouros que os brasileiros tem: sua cultura. O Auditório Ibirapuera, um templo da música, da dança, das performances artísticas que você tem que conhecer. Acesse www.auditorioibirapuera.com.br, dê uma olhada na programação e vá lá. Você não vai se arrepender…e vai sentir um baita orgulho por ser brasileiro.

Para terminar, que tal uma frase do grande Max Nunes?

O Brasil precisa explorar com urgência sua riqueza, porque a pobreza não aguenta mais ser explorada.

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