Café Brasil 314 – Maluco beleza

Bom dia, boa tarde, boa noite, bem vindo a mais um Café Brasil. Meu nome é Luciano Pires e neste programinha, num cantinho do seu radinho, tem um pouquinho de reflexão, poesia, humor e música popular brasileira.

O programa de hoje faz dobradinha com o anterior, tratando daquilo que chamo de loucura necessária. E não por acaso começo com um maluco que foi genial. Foi louco. Foi trágico. Foi humor. Foi irreverência. Foi excessivo… tudo aquilo que faz falta neste país infestado de pocotós.

É de Raul Seixas a receita pra tirar o Brasil do buraco:

A solução pro nosso povo eu vou dar
Negócio bom assim ninguém nunca viu
Tá tudo pronto aqui é só vir pegar
A solução é alugar o Brasil!

Este programa chega até você com o auxílio de quem sabe que todo artista é meio louco, mas que é essa loucura que faz o mundo evoluir. Itaú Cultural. www.itaucultural.org.br. Acesse o site e dê uma olhada no que uns loucos estão fazendo por aí. E deixe-se contaminar por eles…

E o exemplar de meu livro NÓIS…QUI INVERTEMO AS COISA desta semana, aliás, o exemplar não, os exemplares, porque são dois os premiados. O primeiro é o José, que comentou o programa passado, CERTOS MALUCOS respondendo uma dúvida que eu lancei no ar. Olha só:

“Luciano. Eu  não sei se é a mesma música mas, num texto do Luís Nassif, chamado: A presença de Radamés Gnattali, que eu achei no site www.brasileirinho.mus.br, ele diz que o próprio maestro lhe informou que o autor da valsa “A louca”, era Chico Neto, palhaço de circo que tocava cavaquinho e o arranjo para violão foi de Teodoro Nogueira.

Pronto. Meus ouvintes são o máximo!

E o outro exemplar do meu livro vai para o outro José, que comentou assim o programa TIROS EM AURORA:

“Bom dia Luciano.

Comentei no seu post “LIttle Brother” e embora não seja especialista de nenhuma área humana, neste Café gostaria de pinçar alguns pontos do teu texto :
“Na maioria dos casos estudados, familiares, amigos, terapeutas não deram importância ou simplesmente ignoraram sinais de deterioração mental que poderiam ter impedido os crimes.”

Citei no post uma participação que fiz num grupo de apoio a codependentes de drogas, que são os familiares ou pessoas que convivem com os dependentes.

A 1ª coisa que as famílias fazem quando percebem mudanças nos comportamentos dos filhos é a negação. Negam prá si o problema que se avizinha, a tensão aumenta e as pessoas se calam pensando que isso pode diminuir o problema.

E um agravante nos dias de hoje, é o isolamento a que as pessoas se submetem. Já não se sabe mais o nome do vizinho, coloca-se fones nos ouvidos prá se isolar do mundo. Ignoramos as pessoas e com isso nos tornamos ignorantes.

Outro ponto:

…”E quem não tem recursos emocionais para lidar com essa frustração canaliza suas energias para a raiva, o suicídio e a vingança”.

Recursos emocionais. Não se adquire isto nos bancos das universidades. Isso começa naquela famosa frase de Sócrates: “Conhece-te a ti mesmo”.

Na medida que vamos conhecendo nosso lado sombra e nosso lado luz, vamos aprendendo a conviver conosco mesmo. Quem não consegue trabalhar isso por si, que busque ajuda de um profissional. O uso de remédios é apenas um paliativo.

E aí vem o papel da mídia.

A meu ver o papel da mídia é divulgar a informação, e há que se ter um cuidado imenso no que se deve divulgar. Mas na busca da “audiência” quer se esmiuçar a notícia a detalhes que às vezes auxiliam a quem pretende ou tem tendência em repetir o ato.

E hoje nós, usuários das ditas mídias sociais, ou antissociais? somos também divulgadores em potencial de informações, e há que se ter cuidado no que se divulga, se escreve, ou posta, pois uma simples brincadeira mal colocada pode gerar encrencas enormes.

É isso. Abraços.”

Pois é, caro José, ignoramos as pessoas, com isso nos tornamos ignorantes. E damos liberdade para que os loucos nos imponham suas loucuras.

Então. O José comentou o meu programa e o outro José comentou também, aliás, respondeu a pergunta… E vocês viram que interessante? O compositor da música era outro palhaço, justamente no programa que falava do Arrelia.

Muito bem. Os dois Josés, cada um, ganhou um livro. E você ai, hein?

E se você não quer ganhar um livro, dá pra tentar um iPod Touch, que tal hein? Se você não tem um, não sabe o que está perdendo. E é muito fácil concorrer, olha só: Acesse www.facebook.com/componentesnakata (lembre-se: Nakata sempre com K) procure o post da promoção e siga as regras. Olha só: agora são dois iPods no mês. Um pra você e outro pro mecânico que cuida do seu carro, sabia? É muito fácil!

Essa promoção é da Nakata, que se escreve com “k”: Na-ka-ta. Arriscado é não usar Nakata. Exija a tecnologia original líder em componentes de suspensão. Tudo azul. Tudo Nakata.

Em minha palestra O MEU EVEREST uso um texto que já andei trazendo aqui para o Café Brasil, mas que nunca é demais quando se fala de loucura. Chama-se ODE AOS LOUCOS. Ouça só:

“Também chamados de desajustados, rebeldes e criadores de caso. Aqueles que vêem coisas de uma forma diferente, que não gostam de muitas regras e que não respeitam o status quo. Você pode elogiá-los, discordar ou duvidar deles, endeusá-los ou difamá-los. A única coisa que não pode fazer é ignorá-los, pois eles provocam mudanças. Eles inventam. Imaginam. Resolvem. Exploram, criam e inspiram. Eles obrigam o homem a evoluir. Talvez tenham que ser loucos.

De outra forma, como alguém poderia enxergar uma obra de arte em uma tela vazia? Ou sentar em silêncio e imaginar uma música que nunca foi escrita? Ou olhar a lua e imaginar uma estação espacial?
Alguns podem vê-los como loucos, nós os chamamos de empreendedores. Pois as pessoas que são loucas o suficiente para pensar que podem mudar o mundo, são justamente as que o fazem.”

Hino Dos Malucos
Rita Lee
Fernanda Young
Alexandre Machado
Roberto de Carvalho

Nós, os malucos, vamos lutar
Pra nesse estado continuar
Nunca sensatos nem condizentes
Mas parecemos supercontentes
Nossos neurônios são esquisitos
Por isso estamos sempre aflitos
Vamos incertos
Pelo caminho
Nos comportando estranhos no ninho
Quando a solução se encontra, um maluco é do contra
Mas se vai por lado errado, um maluco vai do lado

Malucos, a nossa vida é dar bandeira
ligando a luz da cabeceira,se a água pinga na torneira
Malucos, a nossa luta é abstrata
já que afundamos a fragata,
mas temos medo de barata

Nós, os malucos, temos um lema
Tudo na vida é um problema
Mas nunca tente nos acalmar
Pois um maluco pode surtar
Os nossos planos são absurdos
Tipo gritar no ouvido dos surdos
Mas todo mundo que é genial
Nunca é descrito como normal
Quando o papo se esgota,
um maluco é poliglota
Mas se todo mundo grita,
um maluco se irrita

Malucos, somos iguais a diferença
e todos temos uma crença:
seguir a lei jamais compensa
Malucos, somos a mola desse mundo,
mas nunca iremos muito a fundo
nesse dilema tão profundo

Malucos, a nossa vida é dar bandeira,
ligando a luz da cabeceira,se a água pinga na torneira
Malucos, a nossa luta é abstrata,
já que afundamos a fragata,
mas temos medo de barata

Viu só? No programa anterior eu toquei o HINO DOS MALUCOS, de Rita Lee, Fernanda Young, Alexandre Machado e Roberto de Carvalho, com a Rita, que foi trilha do filme OS NORMAIS e que é uma delícia. Por isso você acabou de ouvir aqui, outra vez…

Quando eu era garoto eu tinha cara de nerd, embora naquela época não existissem nerds. Um par de óculos de fundo de garrafa, com moldura grossa e sempre um livro à mão. Eu lia muito… E comecei a escrever e fazer cartuns para o jornal lá em Bauru. Mudei pra São Paulo aos 19 anos de idade e sempre ia para Bauru nos finais de semana.

Um dia fiz a viagem de ônibus, com um conhecido, um sujeito que trabalhava na imprensa, não me lembro do nome dele. Ele foi sentado ao meu lado e me bombardeando de perguntas. Falou dos meus cartuns e textos, que gostava muito e num dado momento perguntou:

– Mas, vem cá: você pratica esportes? Vai a festas? Namora?

O sujeito achava que eu era anormal. Para ele um garoto da minha idade não podia ser um leitor compulsivo, gostar de escrever e fazer cartuns. O normal era ser um alienado, esportista, festeiro e preocupado com as banalidades da sociedade. Isso sim era ser normal. Como eu não era bem assim, o sujeito me achava estranho…

Fiquei puto. O cara achava que eu era louco…

Com o passar dos anos fui entendendo o que acontecia. Eu não cabia na modelagem que ele havia feito para a sociedade. Eu não me encaixava. E na falta de um lugar familiar para me colocar ele achava que eu era anormal… Pior: como ele, existiam milhares. Aliás, como ele é a maioria.

Se você sai dos padrões, vão achar que você é anormal.

Decidiu fazer um curso esquisito? Largou o emprego pra começar seu próprio negócio? Perdeu a paciência com a balconista que fazia você de idiota? Resolveu morar na Índia? Fez uma tatuagem no nariz? Botou um piercing? Cortou o cabelo moicano? Saiu descalço? Comeu com as mãos? Pois é…. Gente assim, que faz coisas que a sociedade julga que não são normais é taxada de maluco…

Maluco Beleza
Raul Seixas
Claudio Roberto

Enquanto você
Se esforça pra ser
Um sujeito normal
E fazer tudo igual…

Eu do meu lado
Aprendendo a ser louco
Maluco total
Na loucura real…

Controlando
A minha maluquez
Misturada
Com minha lucidez…

Vou ficar
Ficar com certeza
Maluco beleza
Eu vou ficar
Ficar com certeza
Maluco beleza…

E esse caminho
Que eu mesmo escolhi
É tão fácil seguir
Por não ter onde ir…

Controlando
A minha maluquez
Misturada
Com minha lucidez
Eeeeeeeeuu!…
Controlando
A minha maluquez
Misturada
Com minha lucidez

Vou ficar
Ficar com certeza
Maluco beleza
Eu vou ficar
Ficar com certeza
Maluco beleza
Eu vou ficar
Ficar com toda certeza
Maluco, maluco beleza…

Que tal, hein? Não podia faltar o clássico dos clássicos, MALUCO BELEZA, de Raul Seixas e Claudio Roberto, uma música que marcou uma era e que será eterna. Eterna como o maluco do Raul que era professor de filosofia, você sabia? Não? Então ouça só… (o áudio está em http://va.mu/Xqju).

Se o rádio não toca!
Raul Seixas
Paulo Coelho

Se o rádio não toca!
A música que você quer ouvir
Não procure dançar
Ao som daquela
Antiga valsa
Não! Não! Não! Não!
Não! Não! Não! Não!
Não! Não! Não! Não!…

É muito simples!
É muito simples!
É só mudar a estação
É só girar o botão
É só girar o botão…

Se o rádio não toca!
A música que você quer ouvir
Não procure dançar
Ao som daquela
Antiga valsa
Não! Não! Não! Não!
Não! Não! Não! Não!
Não! Não! Não! Não!…

É muito simples!
É muito simples!
É só mudar a estação
É só girar o botão!
É só girar o botão!
É só girar o botão!
É só girar o botão!
É só girar o botão!
É só girar o botão!…

Se o rádio não toca!
A música que você quer ouvir
Não procure dançar
Ao som daquela
Antiga valsa
Não! Não! Não! Não!
Não! Não! Não! Não!
Não! Não! Não! Não!…

É muito simples!
É muito simples!
É só mudar a estação
É só girar o botão!
É só girar o botão!…

Se o rádio não toca!
A música que você quer ouvir
Não procure dançar
Ao som daquela
Antiga valsa
Não! Não! Não! Não!
Não! Não! Não! Não!
Não! Não! Não! Não!…

É muito simples!
É muito simples!
É só mudar a estação
É só girar o botão!
É só girar o botão!
É só girar o botão!
É só girar o botão!
É só girar o botão!
É só girar o botão!…

Você está ouvindo “Se o rádio não toca”, de Raul Seixas e Paulo Coelho, gravada em 1974. Raul o músico, poeta, filósofo e ativista contracultural libertário, nascido em Salvador, em junho de 45, só teve reconhecida sua importância para a cultura brasileira após sua morte em São Paulo, em 21 de agosto de 1989. Esta música fala da suprema liberdade de escolha, nosso maior tesouro.

Se o rádio não toca a música que você quer ouvir, é muito simples: é só mudar de estação. Mudar de estação nada. Desliga essa porra em vem ouvir o Café Brasil…

Raul Seixas nunca foi candidato a nada, seu negócio era batucada! Lançou “Ouro de Tolo” em 73, auge da ditadura militar.

Em 74 foi preso, torturado e expulso do país por pregar a construção da SOCIEDADE ALTERNATIVA. Apesar de perseguido pela esquerda oficial por seus ataques ao capitalismo de estado, que os marxistas chamavam de socialismo real, da ex União Soviética, suas músicas se tornaram os hinos das primeiras ondas de greve estudantil em 77 e greves operárias em 78, culminando quando da prisão da diretoria do sindicato de metalúrgicos do ABC, na greve de 79.

O tema “MOSCA NA SOPA” foi transformado em cartaz e lema da greve.

Mosca Na Sopa
Raul Seixas

Eu sou a mosca
Que pousou em sua sopa
Eu sou a mosca
Que pintou prá lhe abusar…(3x)

Eu sou a mosca
Que perturba o seu sono
Eu sou a mosca
No seu quarto a zumbizar…(2x)

E não adianta
Vir me detetizar
Pois nem o DDT
Pode assim me exterminar
Porque você mata uma
E vem outra em meu lugar…

Eu sou a mosca
Que pousou em sua sopa
Eu sou a mosca
Que pintou prá lhe abusar…(2x)

-“Atenção, eu sou a mosca
A grande mosca
A mosca que perturba o seu sono
Eu sou a mosca no seu quarto
A zum-zum-zumbizar
Observando e abusando
Olha do outro lado agora
Eu tô sempre junto de você
Água mole em pedra dura
Tanto bate até que fura
Quem, quem é?
A mosca, meu irmão!”

Eu sou a mosca
Que posou em sua sopa
Eu sou a mosca
Que pintou prá lhe abusar…(2x)

E não adianta
Vir me detetizar
Pois nem o DDT
Pode assim me exterminar
Porque você mata uma
E vem outra em meu lugar…

Eu sou a mosca
Que pousou em sua sopa
Eu sou a mosca
Que pintou prá lhe abusar…(2x)

Eu sou a mosca
Que perturba o seu sono
Eu sou a mosca
No seu quarto a zumbizar…(2x)

Mas eu sou a mosca
Que pousou em sua sopa
Eu sou a mosca
Que pintou prá lhe abusar…

Que loucura! Um dos mais fiéis propulsores do rock no Brasil, Raul dos Santos Seixas cresceu influenciado pelos astros que surgiam na década de 50, como Jerry Lee Lewis, Carl Perkins e Elvis Presley.

Ainda adolescente, fundou o primeiro grupo de rock de sua cidade natal, Salvador.

Descoberto pelo ídolo da jovem guarda Jerry Adriani na Bahia, Raul  mudou-se para o Rio de Janeiro e lançou-se no gênero iê-iê-iê, estreando em LP com Raulzito e Os Panteras, que incluía rocks como “Você Ainda Pode Sonhar”, versão de “Lucy in the Sky with Diamonds”, dos Beatles. No rock Raul encontrou sua forma de expressão.

Você Ainda Pode Sonhar
Raul Seixas

Pense num dia com gosto de infância
Sem muita importância procure lembrar
Você por certo vai sentir saudades
Fechando os olhos verá
Doces meninas dançando ao luar
Outras canções de amor
Mil violinos e um cheiro de flores no ar

Você ainda pode sonhar
Você ainda pode sonhar
Você ainda pode sonhar

Feche seus olhos bem profundamente
Não queira acordar procure dormir
Faça uma força você não está velho demais
Prá voltar e sorrir
Passe voando por cima do mar
Para a ilha rever
Vá saltitando sorrindo a todos que vê

Você ainda pode sonhar
Você ainda pode sonhar
Você ainda pode sonhar

Lucy In The Sky With Diamonds
John Lennon
Paul McCartney

Picture yourself in a boat on a river
With tangerine trees and marmalade skies
Somebody calls you, you answer quite slowly
A girl with kaleidoscope eyes

Cellophane flowers of yellow and green
Towering over your head
Look for the girl with the sun in her eyes
And she’s gone

Lucy in the sky with diamonds
Lucy in the sky with diamonds
Lucy in the sky with diamonds

Follow her down to a bridge by a fountain
Where rocking horse people eat marshmallow pies
Everyone smiles as you drift past the flowers
That grow so incredibly high

Newspaper taxis appear on the shore
Waiting to take you away
Climb in the back with your head in the clouds
And you’re gone

Lucy in the sky with diamonds
Lucy in the sky with diamonds
Lucy in the sky with diamonds

Picture yourself on a train in a station
With plasticine porters with looking glass ties
Suddenly someone is there at the turnstile
The girl with kaleidoscope eyes

Lucy in the sky with diamonds
Lucy in the sky with diamonds
Lucy in the sky with diamonds

Lucy in the sky with diamonds
Lucy in the sky with diamonds
Lucy in the sky with diamonds

Lucy in the sky with diamonds
Lucy in the sky with diamonds
Lucy in the sky with diamonds

Ai cara! Qualquer um que gravar isso aí, vai ficar ridículo. Mas, Raul é Raul.

E olha só. Fui me meter com o Raul e acabei fugindo do assunto. Ele tomou conta do programa, né? Quer saber de uma coisa? Eu não fugi é nada.

Eu acho que o Raul é o maluco mais expressivo que já conheci, e soube transformar sua maluques num manifesto que influenciou toda uma geração. Aliás, acho que mais de uma geração. Por isso quero pedir sua permissão para continuar falando desse maluco genial. Olha só.

Todo gênio é excessivo. E paga um preço alto por isso. Gênios afundam-se em drogas. Na bebida. Suicidam-se. Têm relacionamentos desastrosos e com o Raul não foi diferente. Tornou-se uma figura patética, corroída pelas drogas e bebidas, que destruíram seu corpo. No poema “Poesia sem título” de 1984, cinco anos antes de sua morte. Raul já demonstrava sua agonia

Estou sofrendo
Não compreendo nada
Nada me motiva
Tudo são repetições
Continuo bebendo
Estou infeliz
Preciso de alguém que acredite em mim
Não sei o que é ter fé
ordem , autoridade ou verdade
Respostas – perguntas
Três esposas vi partir
Não gosto de mim
não acredito em mim
Um vazio enorme
Inseguro
Solitário
Incapaz de lidar com o cotidiano
Cansado de ser
autodestrutivo
Desesperado
Tendências suicidas
Odeio meu rock`n`roll
penso em morrer…

Canto Para A Minha Morte
Raul Seixas
Paulo Coelho

Eu sei que determinada rua que eu já passei
Não tornará a ouvir o som dos meus passos.
Tem uma revista que eu guardo há muitos anos
E que nunca mais eu vou abrir.
Cada vez que eu me despeço de uma pessoa
Pode ser que essa pessoa esteja me vendo pela última vez
A morte, surda, caminha ao meu lado
E eu não sei em que esquina ela vai me beijar

Com que rosto ela virá?
Será que ela vai deixar eu acabar o que eu tenho que fazer?
Ou será que ela vai me pegar no meio do copo de uísque?
Na música que eu deixei para compor amanhã?
Será que ela vai esperar eu apagar o cigarro no cinzeiro?
Virá antes de eu encontrar a mulher, a mulher que me foi destinada,
E que está em algum lugar me esperando
Embora eu ainda não a conheça?

Vou te encontrar vestida de cetim,
Pois em qualquer lugar esperas só por mim
E no teu beijo provar o gosto estranho
Que eu quero e não desejo,mas tenho que encontrar
Vem, mas demore a chegar.
Eu te detesto e amo morte, morte, morte
Que talvez seja o segredo desta vida
Morte, morte, morte que talvez seja o segredo desta vida

Qual será a forma da minha morte?
Uma das tantas coisas que eu não escolhi na vida.
Existem tantas… Um acidente de carro.
O coração que se recusa abater no próximo minuto,
A anestesia mal aplicada,
A vida mal vivida, a ferida mal curada, a dor já envelhecida
O câncer já espalhado e ainda escondido, ou até, quem sabe,
Um escorregão idiota, num dia de sol, a cabeça no meio-fio…

Oh morte, tu que és tão forte,
Que matas o gato, o rato e o homem.
Vista-se com a tua mais bela roupa quando vieres me buscar
Que meu corpo seja cremado e que minhas cinzas alimentem a erva
E que a erva alimente outro homem como eu
Porque eu continuarei neste homem,
Nos meus filhos, na palavra rude
Que eu disse para alguém que não gostava
E até no uísque que eu não terminei de beber aquela noite…

Vou te encontrar vestida de cetim,
Pois em qualquer lugar esperas só por mim
E no teu beijo provar o gosto estranho que eu quero e não desejo,mas tenho que encontrar
Vem, mas demore a chegar.
Eu te detesto e amo morte, morte, morte
Que talvez seja o segredo desta vida
Morte, morte, morte que talvez seja o segredo desta vida

Você ouviu “Canto para minha morte”. Nessa letra, Paulo Coelho parece profetizar a morte de seu amigo: fala de uma parada cardíaca e de uma noite de uísque.

Enfrentando problemas de saúde devido à vida desregrada e já distanciado de Paulo Coelho, Raul diminuiu o ritmo de produção na década de 1980, lançando discos de pouca repercussão. Em 1988, foi reabilitado por um de seus maiores fãs, o roqueiro Marcelo Nova, da banda baiana Camisa de Vênus, com quem seguiu turnê pelo país. Da parceria, surgiu o disco A Panela do Diabo de 1989, último lançamento de Raul, que chegou às lojas quase que simultaneamente à morte do cantor, de parada cardíaca.

Raulzito Seixas
Sérgio Sampaio

Meu nome é Raulzito Seixas
Eu vim da Bahia
Vim modificar isso aqui
Toco samba
E rock, morena
Balada e baioque

Esse é outro maluco beleza, o Sérgio Sampaio, que um dia vai ter um programa Café Brasil só pra ele…

Muito bem. Pouco antes de morrer, Raul foi entrevistado pelo Jô Soares. Estava debilitado, com a voz pastosa… mas as idéias a mil. Ouça o trecho em que ele fala de seu encontro com ninguém menos que John Lennon… (http://www.youtube.com/watch?v=sNQuN6xgBNo)

Não era um maluco?

Ouro de Tolo
Raul Seixas

Eu devia estar contente
Porque eu tenho um emprego
Sou um dito cidadão respeitável
E ganho quatro mil cruzeiros
Por mês…

Eu devia agradecer ao Senhor
Por ter tido sucesso
Na vida como artista
Eu devia estar feliz
Porque consegui comprar
Um Corcel 73…

Eu devia estar alegre
E satisfeito
Por morar em Ipanema
Depois de ter passado
Fome por dois anos
Aqui na Cidade Maravilhosa…

Ah!
Eu devia estar sorrindo
E orgulhoso
Por ter finalmente vencido na vida
Mas eu acho isso uma grande piada
E um tanto quanto perigosa…

Eu devia estar contente
Por ter conseguido
Tudo o que eu quis
Mas confesso abestalhado
Que eu estou decepcionado…

Porque foi tão fácil conseguir
E agora eu me pergunto “e daí?”
Eu tenho uma porção
De coisas grandes prá conquistar
E eu não posso ficar aí parado…

Eu devia estar feliz pelo Senhor
Ter me concedido o domingo
Prá ir com a família
No Jardim Zoológico
Dar pipoca aos macacos…

Ah!
Mas que sujeito chato sou eu
Que não acha nada engraçado
Macaco, praia, carro
Jornal, tobogã
Eu acho tudo isso um saco…

É você olhar no espelho
Se sentir
Um grandessíssimo idiota
Saber que é humano
Ridículo, limitado
Que só usa dez por cento
De sua cabeça animal…

E você ainda acredita
Que é um doutor
Padre ou policial
Que está contribuindo
Com sua parte
Para o nosso belo
Quadro social…

Eu que não me sento
No trono de um apartamento
Com a boca escancarada
Cheia de dentes
Esperando a morte chegar…

Porque longe das cercas
Embandeiradas
Que separam quintais
No cume calmo
Do meu olho que vê
Assenta a sombra sonora
De um disco voador…

Ah!
Eu que não me sento
No trono de um apartamento
Com a boca escancarada
Cheia de dentes
Esperando a morte chegar…

Porque longe das cercas
Embandeiradas
Que separam quintais
No cume calmo
Do meu olho que vê
Assenta a sombra sonora
De um disco voador…

E é assim, ao som do hiper super ultra clássico OURO DE TOLO, lançada em plenos anos de chumbo como um manifesto a favor da loucura e contra o conformismo, que nosso Café Brasil termina.

Pensa que o assunto maluquice e loucura terminou aqui? Engano seu. Vem mais aí.

Com o maluco Lalá Moreira na técnica, a doida Ciça Camargo na produção e eu, o chefe do manicômio, Luciano Pires na direção e apresentação.

Estiveram conosco hoje o ouvinte José, o outro ouvinte José, Rita Lee. Sérgio Sampaio e Raul Seixas. Precisa mais?

Este programa chega até você com o apoio de quem sabe muito bem que a música pode ser o idioma da loucura: o Auditório Ibirapuera. www.auditorioibirapuera.com.br . Acesse a página e dê uma olhada na programação. Cara! Eu queria ter visto o Raul Seixas tocando lá…

Este é o Café Brasil, que às vezes larga o script pra virar tiete, afinal, de louco todo mundo tem um pouco, né?

E pra terminar, que tal aquele Raul e Claudio Roberto, no auge?

Este caminho que eu mesmo escolhi
É tão fácil seguir / por não tem onde ir
Controlando a minha maluquez
misturada com minha lucidez
Vou ficar ficar com certeza
maluco beleza

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