Bom dia, boa tarde, boa noite! Você sabe o que é ironia? Sabe mesmo? É capaz de entender quando alguém usa de ironia ou é daqueles que passa batido e escreve reclamando? Pois então, este programa nasceu do acúmulo de emails que eu recebi de gente que simplesmente é incapaz de compreender as ironias, para o bem e para o mal.
Para começar, vamos com uma frase do jornalista e escritor brasileiro Berilo Neves:
A ironia é uma forma elegante de ser mau.
Este programa chega até você com o estratégico suporte de quem sabe que é investindo em cultura que o homem conseguirá evoluir na mesma velocidade da tecnologia: Itaú Cultural. Visite o www.itaucultural.com.br para conhecer os projetos interessantes que você pode usar para ampliar seu repertório. Olha lá: www.itaucultural.com.br.
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E o exemplar da semana de meu livro NÓIS…QUI INVERTEMO AS COISA vai para o Marcos César que comentou o podcast Ai Se Eu Te Pego2, que ele intitulou de OPINIÃO E CORAGEM ??? Na verdade ele não ganharia o livro, mas acabou inspirando este programa, então vamos lá.
(Nota o texto foi publicado como veio escrito, sem correções). “Luciano, bom dia, boa tarde, e boa noite, hehehehe…… Ouvi atentamente (ai se eu te pego 1 e o 2) no 1º você defende a musica (diz que o Michel Teló esta na estrada a muito tempo) e no final compara com um clássico da bossa nova, para dar um ar cult ao programa. Em nenhum momento você foi irônico nem sutil e nem tampouco havia um segundo sentido no seu comentário. Você gostou da musica, que é feita para divertir apenas os ouvidos e relachar a mente. Devido as criticas no 2º programa, na minha opinião, você não teve coragem de assumir que essa musica besterol, agrada e veio com esse papo de que é preciso, saber ouvir os seus programas(PARAAAA) Não sou defensor dessas musicas, mas também não sou ferrenho critico, também defendo a cultura, a boa musica e a necessidade do povo de começar a pensar.Vamos lembrar que o Brasil, é o país da alegria, da graça, da descontração e é natural que surjam musicas desse teor, para quebrar o gelo, para fazer rir e esquecer.Uma patria que tem a forma de um coração ,que é banhada pelo sol o ano todo, naturalmente, sugere alegria, e a musica é sinonimo de tudo isso.Cuidado com os obstinados defensores de qualquer idéia,os radicais, os pretensos pensadores, os mau humorados e os moralistas ridiculos.os hipocritas que não vivem o que pregam.(Ai se eu te pego) talvez venha para nos divertir e esquecer as desigualdades sociais, a corrupção, o desvio do dinheiro publico, o dificil acesso do povo a riqueza do Brasil, a violencia nas cidades, o descaso na saude, o jogo teatral dos politicos que afirmam que (não sabiam de nada) não viram os ladrões do dinheiro publico.Deus que é brasileiro inspira esses cantores, para nos salvar e podermos dar boas risadas ainda. POR FAVORNO, TENHA CORAGEM DE ASSUMIR QUE AS VEZES,PRECISAMOS DESCANSAR, SAIR DO PESADO JOGO DAS APARENCIAS……SEM TRAIR NOSSAS IDÉIAS , Apenas relachar a mente Abraços Marcos César LUCIA
Pois então… Vou responder ao Marcos César da seguinte forma: Marcos, eu posso mostrar para você, comentar pra você, explicar para você, criticar pra você. Mas eu não posso entender por você.
Muito bem, o Marcos ganhou um livro porque escreveu para o programa. E você aí, que tal se inspirar e escrever também?
Muitos anos atrás, acho que num texto do jornal O Pasquim, li um autor propondo que fosse criado um símbolo que pudesse ser usado antes do início de um texto, avisando que a pessoa ali iia ler uma ironia. Sabe como fazem os espanhóis, que antes de cada pergunta colocam um ponto de interrogação de ponta cabeça? Assim você começa a ler a frase já sabendo que se trata de uma pergunta. O mesmo deveria haver para uma ironia. Achei muito curioso aquele texto, e infelizmente não tenho como encontrá-lo. Mas nunca mais me esqueci.
Um símbolo que avisasse as pessoas sobre o uso de uma ironia… Pois é… Pedi ao Lalá que criasse uma vinheta pra gente usar aqui no Café Brasil quando pintasse uma daquelas ironias. Tá aqui, ó:
Sempre que você ouvir a vinheta, fique esperto. Em seguida vem uma ironia…
Pedi a meu amigo Minás Kuyumjian Neto, um mestre no uso da ironia, que escrevesse algo a respeito e ele me mandou o seguinte texto:
Conta-se que, por volta de 1970, período mais negro da nossa ditadura, o escritor e humorista Millôr Fernandes estava em um coquetel quando foi procurado por um general tido como truculento, que lhe disse sorrindo: “Então você é o famoso humorista? Me conta aí uma piada”. Millôr teria respondido rapidamente: “Só se o senhor der uns tiros de canhão”.
Verdadeira ou não, a anedota define com precisão absoluta o que significa ironia – mesmo que atrevida e perigosa. Porque a ironia é sempre perigosa: tem o poder de encerrar uma discussão estéril num passe de mágica, quando é compreendida – ou de iniciar uma briga de sopapos quando mal aceita por pessoas desprovidas de senso de humor. E captar uma ironia significa ler mais as entrelinhas do que as linhas. Afinal, diante de um comentário irônico e geralmente arrasador o atingido precisa ter presença de espírito e predisposição à derrota. E as pessoas estão preparadas para tudo, menos para a ironia: costumam ficar perdidas, engolir em seco e cultivar uma ira rancorosa contra o agressor.
É preciso notar, entretanto, que existe uma linha tênue que separa a ironia do sarcasmo. Porque o sarcasmo é ironia essencialmente corrosiva, que atinge tendões de Aquiles e estômagos com corrosão devastadora. Qual escolher? Depende do momento e da gravidade do confronto, mas certamente uma terceira opção fica descartada: baixar a crista e mergulhar na infindável esterilidade da situação.
Pois é… Foi o MIllôr Fernandes, um sujeito genial quem disse um dia que:
“O último refúgio do oprimido é a ironia, e nenhum tirano, por mais violento que seja, escapa a ela. O tirano pode evitar uma fotografia, não pode impedir uma caricatura. A mordaça aumenta a mordacidade.”
Homem com agá
Antonio Barros
Nunca vi rastro de cobra
Nem couro de lobislomem
Se correr o bicho pega
Se ficar o bicho come
Porque eu sou é homem
Porque eu sou é homem
Menino eu sou é homem
Menino eu sou é homem
E como sou
Nunca vi rastro de cobra
Nem couro de lobislomem
Se correr o bicho pega
Se ficar o bicho come
Porque eu sou é homem
Porque eu sou é homem
Menino eu sou é homem
Menino eu sou é homem
Eu sou homem com aga
E com aga sou muito homem
Se você quer duvidar
Pode ver pelo meu nome
Já estou quase namorando
Namorando prá casar
A Maria diz que eu sou
Maria diz que eu sou
Sou homem com aga
E como sou
Nunca vi rastro de cobra
Nem couro de lobislomem
Se correr o bicho pega
Se ficar o bicho come
Porque eu sou é homem
Porque eu sou é homem
Menino eu sou é homem
Menino eu sou é homem
E como sou
Nunca vi rastro de cobra
Nem couro de lobislomem
Se correr o bicho pega
Se ficar o bicho come
Porque eu sou é homem
Porque eu sou é homem
Menino eu sou é homem
Menino eu sou é homem
Eu sou homem com aga
E com aga sou muito homem
Se você quer duvidar
Pode ver pelo meu nome
Já estou quase namorando
Namorando prá casar
A Maria diz que eu sou
Maria diz que eu sou
Sou homem com aga
E como sou
Nunca vi rastro de cobra
Nem couro de lobislomem
Se correr o bicho pega
Se ficar o bicho come
Porque eu sou é homem
Porque eu sou é homem
Menino eu sou é homem
Menino eu sou é homem
E como sou
Nunca vi rastro de cobra
Nem couro de lobislomem
Se correr o bicho pega
Se ficar o bicho come
Porque eu sou é homem
Porque eu sou é homem
Menino eu sou é homem
Menino eu sou é homem
Lembra dessa? HOMEM COM AGÁ, de Antonio Barros. Essa música é um primor de ironia, mas só quando cantada pelo Ney Matogrosso, sacou? Essa é de 1981…
Ironia, sarcasmo… Algumas pessoas classificam a ironia por tipos, outras dizem que são coisas diferentes. Por exemplo, o asteísmo seria a ironia quando louva. Aquela sua amiga surge mais gorda do que nunca e você diz: Maria, você cada vez mais esbelta, hein?…
O Minás citou em seu texto outro tipo de ironia, o sarcasmo: a ironia quando zomba. Exemplo: naquela festa de Natal com sua família sai o maior quebra-pau, todo mundo de cara feia e um dos convidados levanta uma taça e diz: Um brinde à harmonia em nossa família.
Outro tipo de ironia seria a antífrase, embora existam pessoas que dizem que a antífrase é apenas um meio para se chagar à ironia. Seria aquela frase que engrandece ideias funestas, erradas, fora de propósito e quando se faz uso carinhoso de termos ofensivos. Um exemplo excelente é aquele que os dirigentes do PT utilizaram quando acusados de manter um caixa 2 no partido: O caixa dois não existe, o que existem são recursos não contabilizados. Ou então quando seu irmãozinho derramou todo o leite no chão e sua mãe entra na sala e diz pra ele: Bonito, hein?…
Roela do Eno
Jovelino Lopes e
Teodoro
O Eno é meu amigo e companheiro
O Eno é um cara especial
Coleciona roelas prateadas
Tem uma coleção sensacional
Uma noite o Eno foi no forró
Dançou demais e acabou perdendo
Uma roela que pra ele vale ouro
Tá procurando, tá chorando, tá sofrendo
Quem tá com a roela do Eno
Quem tá com a roela do Eno
Quem tá com a roela do Eno
Não adianta disfarçar
Nem ficar escondendo
Quem tá com a roela do Eno
Quem tá com a roela do Eno
Quem tá com a roela do Eno
Não adianta esconder
Que eu vou ficar sabendo
Subi no palco e falei o acontecido
Ninguém deu bola, ninguém quis me ajudar
Mas quem tava com a roela do Eno
Dava pra ver quando ia dançar
Procurei no forró a noite inteira
Saí de lá tava quase amanhecendo
O meu amigo vai dar uma recompensa
Vamos pegar quem tá com a roela do Eno
Na confusão então chamaram a polícia
Que já chegou descendo o pau e batendo
Eu só sei que apanhou
Até quem não tava com a roela do Eno
Mas no tulmuto eu estava de olho
Saiu um cara que até hoje tá correndo
E a polícia tá na cola, tá achando
Que esse sujeito tá com a roela do Eno
Rararara…taí outro tipo de ironia, brincando com as palavras… São Teodoro e Sampaio com ROELA DO ENO, de Jovelino Lopes e Teodoro.
A palavra ironia vem do grego eironeia, que quer dizer hipocrisia ou ignorância fingida. Ironia é uma figura de linguagem que afirma o contrário do seu sentido literal. Sacou? O significado daquilo que foi escrito vai além do entendimento literário. Há um significado implícito, que muita gente não consegue perceber.
A ironia é uma arma mortal. O filósofo Sócrates foi um exímio artífice da ironia, tanto que se criou a definição ironia socrática. Ele a utilizava para demonstrar a ignorância de seus interlocutores, especialmente os que se achavam o máximo.
Sócrates iniciava um diálogo e dava a entender que concordava com alguma definição do interlocutor, que ficava cheio de si. Sócrates então ia dando corda até que num determinado momento expunha uma contradição, deixando o interlocutor confuso. Quando tinha pela frente um interlocutor bem intencionado, Sócrates ganhava um admirador. Quando o interlocutor era mal intencionado, ganhava um inimigo. E isso custou-lhe a vida…
Por isso até hoje quem usa a ironia está procurando sarna pra se coçar…
Existem vários tipos mais comuns do uso da ironia. Por exemplo, a ironia verbal ou dramática, quando alguém diz uma coisa, mas quer dizer outra. Um exemplo de ironia verbal:
Não vejo a hora de ir no show do Michel Teló… Se eu, Luciano, disser essa frase, pode estar certo que é uma ironia, pois não tenho nenhum interesse de assistir ao show do Teló. Mas se a Ciça disser, ai é verdade.
Outro exemplo da ironia verbal: Aí ó mano! Apesar de eu estar usando a camisa do Corinthians eu adoraria atravessar a torcida do Palmeiras para ir buscar uma Coca Cola pra você… Dá pra perceber que o sujeito diz uma coisa, mas quer dizer outra? Ironia verbal.
Já a ironia dramática aparece quando durante uma narrativa ocorre algum evento que a audiência conhece, mas o personagem não. Existem milhares de exemplos no cinema, no teatro e na televisão. O BBB está cheio deles…
O outro tipo de uso da ironia é a ironia situacional, quando alguma coisa acontece e existe uma reversão das expectativas. A chave dessa ironia é a reversão. Por exemplo:
O prefeito asfalta todas as ruas da cidade para acabar com o barro no período das chuvas. Quando a chuva vem, com o solo impermeabilizado pelo asfalto, acontece uma imensa enchente que enche as casas de barro. A ironia foi a reversão da expectativa.
Outro exemplo: O sujeito quer ficar com o corpo malhado e para isso toma esteroides anabolizantes, que provocam uma deficiência renal e o sujeito perde peso e massa muscular, ficando esquelético. Reversão das expectativas.
Bem, seja qual for o uso que se dá à ironia, é preciso considerar que a ironia situacional nem sempre é fácil de ser definida. Ela exige interpretação, é subjetiva, confusa e depende das expectativas de quem escreve e de quem lê. Por isso achei importante o email que li no programa ai se ei te pego 2, em que o ouvinte Regis afirma que em três anos ouvindo o Café Brasil, aprendeu como ouvir o Café Brasil. O Regis ouve o programa e pensa: O que será que o Luciano quis dizer? E com base em sua experiência, compreende as ironias que a gente coloca aqui.
Já o Marcos Cesar, cujo email li no início do programa de hoje, só consegue compreender o que ouve pelo sentido literal. Talvez seja um ouvinte novo, que ainda não pegou o jeitão do programa, mas tenho certeza de que ele não é o único.
Doug Coupland, escritor norte americano, diz que pesquisas do cérebro apontam que apenas 20% das pessoas tem o senso da ironia, o que significa que 80% da população do mundo leva as coisas ao pé da letra!… Um texto, uma peça de teatro, um filme, que façam o uso da ironia correm o risco de não serem entendidos, ou serem mal interpretados.
Portanto fica o recado: ironia não é algo explícito. Exige reflexão e compreensão sobre o contexto a que se aplica. E quanto mais você conhece o autor, mais tem capacidade de compreender as sutilezas da ironia.
Não Sonho Mais
Chico Buarque
Hoje eu sonhei contigo,
Tanta desdita! Amor, nem te digo
Tanto castigo que eu tava aflita de te contar.
Foi um sonho medonho
Desses que, às vezes, a gente sonha
E baba na fronha e se urina toda e quer sufocar.
Meu amor, vi chegando
Um trêm de candango
Formando um bando,
Mas que era um bando
De orangotango pra te pegar.
Vinha nego humilhado,
Vinha morto-vivo, vinha flagelado.
De tudo que é lado
Vinha um bom motivo pra te esfolar.
Quanto mais tu corria
Mais tu ficava, mais atolava,
Mais te sujava. Amor, tu fedia,
Empesteava o ar.
Tu que foi tão valente
Chorou pra gente. Pediu piedade
E, olha que maldade,
Me deu vontade de gargalhar.
Ao pé da ribanceira acabou-se a liça
E escarrei-te inteira a tua carniça
E tinha justiça nesse escarrar.
Te “rasgamo” a carcaça
Descendo a ripa. “Viramo” as tripas,
Comendo os “ovo”, ai!,
E aquele povo pôs-se a cantar.
Foi um sonho medonho,
Desses que, às vezes,
A gente sonha e baba na fronha
E se urina toda e já não tem paz.
Pois eu sonhei contigo e caí da cama.
Ai, amor, não briga! Ai, não me castiga!
Ai, diz que me ama e eu não sonho mais!
E essa ai hein? Essa é o clássico de Chico Buarque, Não sonho mais, na voz de Elba Ramalho. Chico compôs essa música como trilha para o filme A República dos Assassinos, de Miguel Faria Jr, que tratava do Esquadrão da Morte. A música relata o pesadelo que a amante de um torturador teve, quando as vítimas de seu amante aparecem para dele se vingar. A ironia está na reversão de algoz para vítima. Leia a letra no roteiro deste programa em www.podcastcafebrasil.com.br . Era o Chico dando um recadinho pra quem transitava pelos porões da ditadura. Por falar em Chico, poucos usaram a ironia como ele…
Jorge Maravilha
Chico Buarque
E nada como um tempo após um contratempo
Pro meu coração
E não vale a pena ficar, apenas ficar
Chorando, resmungando, até quando, não, não, não
E como já dizia Jorge Maravilha
Prenhe de razão
Mais vale uma filha na mão
Do que dois pais voando
Você não gosta de mim, mas sua filha gosta
Você não gosta de mim, mas sua filha gosta
Ela gosta do tango, do dengo, do mengo, domingo e de cócega
Ela pega e me pisca, belisca, petisca, me arrisca e me enrosca
Você não gosta de mim, mas sua filha gosta
E nada como um dia após o outro dia
Pro meu coração
E não vale a pena ficar, apenas ficar
Chorando, resmungando até quando, não, não, não
E como já dizia Jorge Maravilha
Prenhe de razão
Mais vale uma filha na mão do que dois pais sobrevoando
Que delícia! Essa é JORGE MARAVILHA, também do Chico. Diz a lenda que era endereçada à uma de suas fãs, Amalia Lucy, filha do então presidente da república General Ernesto Geisel… Daí a ironia do você não gosta de mim mas a sua filha gosta….
Psicólogos da Universidade de Haifa em Israel, mostraram que a habilidade para entender o sarcasmo depende de uma sequência cuidadosamente orquestrada de habilidades cognitivas complexas em partes específicas do cérebro. O estudo mostrou que pessoas com dano no lóbulo pré-frontal tiveram de se esforçar para “captar” a ironia ou sarcasmo de uma determinada situação. Quem não tinha o dano no lóbulo pré-frontal estava apto a entender o contexto. Segundo o líder da pesquisa, “o sarcasmo está relacionado à nossa habilidade de entender o estado mental de outra pessoa. Não é apenas uma forma linguística, é também ligado à cognição social”.
Sacou? Deixa eu repetir.
“O sarcasmo está relacionado à nossa habilidade de entender o estado mental de outra pessoa. Não é apenas uma forma linguística, é também ligado à cognição social”.
No programa Ai se eu te pego, eu usei um texto de meu amigo Gabriel Perissé em que ele vai comparando a letra do clássico de Michel Teló a trechos escritos por grandes nomes da literatura e da música brasileira, como Machado de Assis, Vinícius de Moraes, Castro Alves ou Mário Quintana.
Como conheço o Gabriel, saquei de cara a ironia do texto, mas quem não o conhece me escreveu louco da vida com as comparações e outros escreveram elogiando o grande elogio ao grande Teló. Mesmo que ao final do texto ele tenha escrito assim:
Mas parece que os imortais que acabo de citar não gostaram das comparações feitas aqui. Das suas tumbas erguem-se vozes, cantando em uníssono: Perissé, Perissé. Assim você nos mata!
Só esse final bastaria para dar o tom de ironia ao texto do Perissé, mas isso passou batido por um monte de gente, tanto dos que escreveram elogiando as comparações do Perissé quanto os que criticaram…
Ironia, ironia, como é difícil a ironia…
Calúnias (Telma eu Não Sou Gay)
Léo Jaime
Diz que vai dar, meu bem
Seu coração pra mim
Eu deixei aquela vida de lado
E não sou mais um transviado
(ref.)
Telma, eu não sou gay
O que falam de mim são calúnias, meu bem
Eu parei . . . . .
Não me maltrate assim não posso mais sofrer
Vamos ser um casal moderno
Você de bobs e eu de terno (ref.)
Eu sou introvertido até no futebol
Isso tudo não faz sentido
E não é meu esse baby doll (ref.)
Telma, ô Telminha, não faz assim comigo
Não me puna por essas manchas no meu passado
Já passou, esses rapazes são apenas meus amigos
Agora eu sou somente seu, meu amor
Tell me once again
B. Anderson
Give me your smile again
I’d like to be wiith you
With the things I would like to know
Darling, be happy with me
And tell me once again
That you know that i’d die
For your love tell me why
Like a dream
Be care with the words you say
My heart is open
But believe in the ways of sorrow
And try to find somebody like me
And tell me once again
That you know that i’d die
For your love tell me why
Like a dream
Sit on a chair near me
Or in a place you like to be
I will tell you something new
About life and the things that we will do
And tell me once again
That you know that i’d die
For your love tell me why
Like a dream
E é assim, ao som de Ney Matogrosso com TELMA EU NÃO SOU GAY, versão de Léo Jaime para Tell Me You Once Again, outro clássico da ironia, que o Café Brasil de hoje vai terminando de mansinho…
Com o irônico Lalá Moreira na técnica, a sarcástica Ciça Camargo na produção e eu, o asteísmico Luciano Pires na direção e apresentação.
Estiveram conosco o ouvinte Marcos César, meu amigo Minás Kuyumjian Neto, Ney Matogrosso, Teodoro e Sampaio, Elba Ramalho e…Chico Buarque. É mole?
Este é o Café Brasil, um programa que é ouvido por gente que quer algo a mais que entretenimento, gracinhas e um belo bumbum… gente que quer cultura. Vem pra cá www.portalcafebrasil.com.br
O Café Brasil tem o apoio do AUDITÓRIO IBIRAPUERA, que aos sábados e domingos apresenta uma programação com tudo aquilo que não toca no rádio, não toca na novela, não toca no rodeio, não toca: a música popular que é expressão de projetos artísticos. E o ingresso é caro,meu: custa 20 reais. Cultura ao alcance de todos. Auditório Ibirapuera www.auditorioibirapuera.com.br . Visite e conheça a programação.
Pra terminar, uma frase do poeta Mário Quintana:
A ironia atinge apenas a inteligência. Inútil desperdiçá-la com os que estão longe de seu alcance. Contra estes ainda não se conseguiu inventar nenhuma arma.
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