Café Brasil 274 – China song

No programa da semana retomamos o tema “China conquistando o mundo”, dessa vez com um testemunho de ninguém menos que o ex-ministro Ozires Silva! Tamos mal de ouvinte? Um pouco de história da China e de umas coisinhas que o Brasil poderia fazer para enfrentar o tsunami chinês. Será que temos bala na agulha pra fazer o que tem que ser feito? Essa é a questão. E pra variar um pouco, música chinesa no programa! Na trilha sonora, Carol Welsmann, Jô de Souza com Tuco Freire, grupo Flor de Cactus, The Avalons e Lei Qiang. Apresentação de Luciano Pires.

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Bom dia, boa tarde, boa noite! O programa DING LING sobre o domínio industrial da China no mundo causou repercussão. O tema é sempre muito atraente e por isso vamos com mais um programa a respeito. Ah, o que é que você tem a ver com isso? Você é o consumidor dos bens produzidos pelos chineses, meu caro, é seu dinheiro que ajuda aquela máquina a crescer.

Pra começar um provérbio Chinês:

Podemos escolher o que semear, mas somos obrigados a colher aquilo que plantamos.

E o exemplar de meu livro NÓIS QUI INVERTEMO AS COISA esta semana vai para umas mãos que me deixam honrado. Nosso ex-ministro e eterno criador da EMBRAER, Ozires Silva, que comentou – aliás, deu um riquíssimo depoimento sobre a China – assim:

“Caro Luciano

No final de 1988, recebi uma ligação do Peter Drucker, com quem ainda não tinha tido um contato pessoal, convidando-me para integrar um grupo, liderado por ele, para ir à China a convite do Presidente Deng Xiaoping. Ele me acentuou que acompanhava meus esforços para criar uma indústria aeronáutica no país e que gostava das idéias que conduziam aquele empreendimento pioneiro. Assim, considerava que minha experiência de Brasil, ao lado das iniciativas para fabricar os aviões brasileiros, poderia muito ajudá-lo a se desincumbir do pedido do Presidente Chinês.  Deng Xiaoping queria um Plano que assegurasse à China produzir e dominar o mercado ocidental que, na época parecia distante e, para muitos, impossível.

Fomos à China em Janeiro de 1989, onde passamos um mês formulando o plano solicitado. O que nos impressionou foi a determinação do Governo em todos os escalões com os quais tivemos contato (mais ou menos uns 800 dirigentes do então Partido Comunista Chinês), para fazer com que o planejado se transformasse em realidade.

Viu o que aconteceu? Não podemos atribuir tudo ao plano que o Peter Drucker lá deixou, mas certamente podemos dizer que os objetivos que tiveram, o foco que colocaram naqueles objetivos e a disciplina para chegar lá, deram origem a esse milagre. Se compararmos com o Brasil de hoje, onde não temos objetivos, não temos foco e não temos a disciplina, podemos explicar como um país fascinante e rico como o nosso conseguiu implantar no seu território um povo pobre e, os que não o são, com esse comportamento que conhecemos

Aprendi muito naquela viagem. Também, ao longo da minha agora longa vida, aprendi um bocado. Ganhei experiência, vendo, observando e, sobretudo, errando. E na esteira dos meus oitenta anos, vendo o que aconteceu com o Brasil do passado e tentando projetar para o futuro, não consigo conter minha decepção e, mais do que isso, minha preocupação. Parece que não percebemos, apesar dos sofisticados e complexos produtos que simplesmente compramos do exterior (mostrando que muita coisa mudou), que a competência, a cultura e conhecimento mundiais estão crescendo a grande velocidade.

Ao mesmo tempo em que sentimos as consequências do nosso antigo e superado sistema educacional, comandado pelo poder político que emana do Governo Federal – claramente incompetente -, e que está em queda livre. Nossos jovens não estão contando com uma educação superlativa, daí a legião de pobres, alguns indo para a violência, por falta de qualificações para competir num mundo que avança com rapidez. (…) Precisamos de menos governo, mas se há necessidade de um Ministério da Educação, que se coloque à frente dele alguém realmente competente, um grande líder, administrador, formulador de planos e programas, e, acima de tudo, um realizador.”

Pois é… Falar o quê para alguém que recebe um telefonema de Peter Drucker, que participa de um plano estratégico para uma nação, que coordena a implementação da indústria aeroespacial no Brasil, que é ex-ministro? E ainda apor cima, bauruense? Muito obrigado mestre Ozires. Seu livro está a caminho!

E você aí, que não é ministro, presidente de empresa e nem amigo do Peter Drucker? Topa comentar o programa? Então escreve pra nós, ô! www.portacafebrasil.com.br .

Vou aproveitar hoje que o tema permite e trazer pra vocês um pouco de música tradicional chinesa, olha só!. Ao fundo temos PICK UP THE BETAL, de Lei Qiang. Como é relaxante, não?

Em muitos blogs que publicaram aquele meu texto sobre a China, surgiram debates interessantes. Um comentário de Flavio Jose Bortolotto no blog Tribuna da Internet merece destaque para quem quer entender como se deu o processo de crescimento Chinês. Veja só:

A China é um dos Países mais antigos do mundo. Sua civilização tem mais de 5.000 anos. Foi extremamente maltratada nos séculos 19 e 20 principalmente pelas Potências Industrializadas (USA, Inglaterra, França, Alemanha, Rússia e especialmente o Japão). A dor ensina a gemer.

Após a proclamação da república liderada por Sun Yat-sen, que se elege presidente da pepública em 1912 sob o Programa dos ”3 Principios do Povo – NACIONALISMO, DEMOCRACIA e SOBREVIVÊNCIA DO POVO”, o país não consegue a união e cai em décadas de guerras civis.

Os comunistas sob a competente liderança política de Mao Tse-Tung, tendo como base de apoio a Classe dos Trabalhadores Rurais sem-terra, após décadas de lutas, assumem o poder em 1949 proclamando a República Popular da China e promulgam o “Programa Comum”, o Plano Básico do Partido Comunista Chinês.
Industrialização, produção de arma atômica e de hidrogênio, com o qual obtém “Plena Soberania” tudo sob empresas estatais.

Observando o mau estado econômico da URSS e sentindo a ineficiência do sistema, após a morte de Mao Tse-Tung em 1976, o grande líder Deng Xiaoping declara que “Não importa a cor do gato, desde que caçe ratos” e cria ao longo do litoral centenas de ZPI (Zona de Processamento Industrial) onde o capital internacional via multinacionais é convidado a investir e onde o regime é o capitalista antes do estado do bem estar social.

Os chineses são convidados a trabalhar ali sob condições Capitalistas, nas ZPI, ou continuar sua vida sob o socialismo. A maioria preferiu trabalhar sob salários aviltantes nas ZPI, talvez porque sob o socialismo estavam pior ainda. Só que todas as empresas criadas tem grande participação de empresas chinesas, muitas estatais, e o País tem SOBERANIA.

Seu Banco Central não é subordinado ao capital Internacional mas ao estado chinês, e controla todos os fluxos de capital e as políticas monetária e fscal. Nunca será um paraíso, mas dentro de duas gerações (+- 60 anos) será a eonomia mais desenvolvida da terra.

Desde 1949, nunca mais foi humilhado por nenhuma potência. Depois de dois séculos de tanto sofrimento o povo chinês descortina um grande destino. Que exemplo para nós brasileiros. Abrs e Saudações.

On a slow boat to China

I’d like to get you
On a slow boat to China
All to myself alone
To get you
And keep you in my arms evermore
Leave all your lovers
Weeping on the faraway shore
Out on the briny
With the moon big and shinny
Melting your heart of stone
Darling, I’d love to get you
On a slow boat to China
All to myself alone

Opa! No programa DING LING, anterior, mandei ON A SLOW BOAT TO CHINA numa versão instrumental, com João Donato e Paulo Moura.lembra? Pois aqui você tem a interpretação da canadense Carol Welsman, que está em seu delicioso CD The Language of Love onde ela tem uma interpretação maravilhosa de Coração Leviano, de Paulinho da Viola, que já toquei aqui. Carol Welsman no Café Brasil! (Infelizmente não encontramos nenhuma tradução da letra. Se alguém tiver alguma, agradecemos)

Pois então, o Fabio Bortolotto nos deu uma boa visão história do fenômeno chinês. Só faltou informar que o competente líder político Mao Tsé Tung matou alguns chineses. Foram poucos, só uns 70 milhões… Um preço meio alto para crescer, não é?

Agora você, ao fundo está ouvindo FAREWELL RED ARMY, sempre com o Lei Qiang.

Regis Mattos, que é economista e subsecretário de Estado de Planejamento do Espírito Santo (estado) também publicou um texto interessante sobre as ameaças ao crescimento chinês. Um trecho está aqui.

Ao contrário dos outros tigres, a China vive um regime opressor e contraditório.

Investimentos em educação convivem com a falta de liberdade, obstáculo ao crescimento intelectual. Na medida em que a população se torna mais culta, aumentam as demandas por liberdade e democracia. O governo tem dificuldades para conter a insatisfação, o que atrasa reformas e aumenta o custo dos investimentos.

Soma-se a isso problemas com as províncias, excessos burocráticos, corrupção e concentração de crédito nos poucos bancos estatais. E o fato notável de que nenhuma nação cresceu tanto por tanto tempo no passado recente, o que pode demonstrar a improbabilidade deste crescimento se perpetuar por muitos anos.

Por outro lado, a China tem estratégia, compromisso com a estabilidade das regras e, cereja do bolo, sabe como aplicá-las. Até aqui, as autoridades chinesas têm demonstrado competência em calibrar o crescimento econômico, contendo bolhas e insatisfações.

José Roberto Mendonça de Barros, em artigo recente, afirma que o crescimento chinês continuará vigoroso nos próximos três anos. Mas, e depois?

Tortura chinesa

Chuvisquinho no canto do olhar
Luz molhada na pele e no dia
Acordei vendo o tempo chorar
Chuva fina de lágrima fria
Chuva fina de lágrima fria
Chuva escura no teu lindo olhar
Luz molhada na pele do dia
Acordei vendo o tempo chorar
Cada  gota tua ausência ainda vai me afogar
E esse gosto de derrota na garganta
A saudade é uma doença que doi de matar
Dor de tortura chinesa
Goteja a tristeza no mesmo lugar
No mesmo lugar
Tristeza que não para de pingar
No mesmo lugar
Tristeza que não para de pingar
No mesmo lugar

Ei, que tal essa? TORTURA CHINESA, com Jô de Souza e Tuco Freire, de seu CD VOCÊ E EU. Nessa faixa estão os irmãos Paulo e Jean Garfunkel. Não podia faltar um pouquinho de música popular brasileira aqui né?

E no www.valor.com.br, um post publicado por Cristiano Romero também é muito interessante.

Voltando pra China, vamos com TEA HARVEST ao fundo.

Era janeiro de 2008 quando o economista Antônio Barros de Castro, que foi presidente do BNDES durante o governo Itamar Franco, apresentou à cúpula do governo parte de suas reflexões sobre o fenômeno chinês e seus impactos no mundo e no Brasil.

Especialista no tema, o professor impressionou o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao mostrar que a China está protagonizando o deslocamento do centro de gravidade da economia mundial, como fizeram os Estados Unidos no início do século XX. O professor alertou que há três formas de reação possíveis à onda chinesa. A primeira é o simples “entrincheiramento”, ou a adoção de medidas de proteção a atividades industriais ameaçadas pelos produtos chineses. A segunda é formular uma estratégia “adaptativa” e a terceira é aproveitar o momento para transformar-se.

Na opinião de Barros de Castro, há espaço para as três estratégias, mas ele sugeriu que a primeira – o protecionismo – não seja a preponderante. “Não é uma resposta à altura do desafio e, sobretudo, não gera futuro”, recomendou o professor num documento de cinco páginas, intitulado “No espelho da China”, que ele distribuiu ao primeiro escalão do governo.

Barros de Castro defendeu a ideia de que os setores público e privado se unam para criar “frentes estratégicas”, além de um Sistema Nacional de Inovação, para posicionar o Brasil diante do fenômeno chinês, cujas oportunidades e ameaças são frequente e rapidamente redefinidas, o que obriga todos a atirar em “alvos móveis”.

Dissemina-se a ideia de que o mundo caminha para um eixo no qual a China será a fábrica, o Brasil a grande fazenda e a Índia, o prestador de serviços. O professor Barros de Castro sustentou que esta é uma visão equivocada, uma vez que o agronegócio brasileiro é extremamente sofisticado e o país tem uma diversidade industrial comparável, no mundo emergente, apenas à da China e da Índia. Ele advertiu, no entanto, que cabe ao Brasil definir sua estratégia de inserção num mundo cada vez mais “sinocêntrico”.

Não há tempo a perder.

Espiral do tempo

Antes da china
O bicho da seda
Depois do homem
O sabor o metal
Antes de todos
Formiga e abelhas
João e Maria
A asa a paz
Ávido pássaro
Brilho de prata
Bico de ponta
Sede de amar
Ávido pássaro
Brilho de prata
Bico de ponta
Sede de amar
O sol das américas
O cio da África
A energia que muda
As quatro estações
O pendão do trigo
A mão dos padeiros
A lã dos carneiros
O mar os sertões

Ah, essa eu acho que você não ouviu ainda.Esse é o Flor de Cactus, em 1980 com ESPIRAL DO TEMPO, de Geraldo Azevedo e Carlos Fernando. O For de Cactus foi formado no Rio Grande do Norte e fez algum sucesso no começo do anos oitenta especialmente junto aos bichos-grilos. O quê? Não sabe o que é bicho-grilo?

Ah, deixa pra lá… Vamos voltar pros chineses…

Agora você ouve PICKING FLOWERS, sempre com o Lei Qiang. É legal. Mas já tá começando a encher o saco, sabe?

Bem, e quem ouviu o programa DING LING sabe que publiquei uma parte da carta de um ouvinte mexicano, o Rodolfo Torres. Aqui vai a outra parte que não usei, quando ele chama atenção para problemas que precisamos resolver com urgência por aqui:

– É necessário em nosso países bananeiros perto de 200 dias para constituir uma empresa. (a minha no Brasil demorou seis meses)

– A carga tributaria para as empresas dos países de nossa região geralmente são proibitivas estimulando a sonegação por sobrevivência. (no Brasil a carga tributaria pode chegar a 45% do lucro)

– Para gerar emprego em nossos países, o empresário passa de imediato a ser uma espécie de inimigo público ficando nas mãos do sistema judiciário que vai “proteger” o interesse do empregado. (A empresa sempre perde)

– Dentro do custo de fabricação do produto a mão de obra é um componente básico mas raramente chega a representar mais do 30% do custo total do produto…  O custo do resto: matéria prima, energia e tecnologia é mais ou menos a mesma para todas as empresas do planeta.

– O governo chinês de fato é muito rígido com o povo chinês.  Delitos como narcotráfico, furto, seqüestro, homicídio etc. são punido com MORTE. O governo chinês evidentemente reconhece que o povo precisa de empregos e a solução e gerá-los.

– Convido a você visitar a sede da representação comercial da China no av. Consolação em São Paulo onde vai constatar o esforço do governo chinês para vender os produtos das empresas chinesas.  Literalmente você sai com enormes catálogos gratuitos de empresas e produtos chineses do que você quiser.

Então. O Rodolfo que escreveu essas linhas que acabo de ler, é mexicano…

Olha só: a intenção desse programa de hoje foi jogar mais lenha na fogueira da discussão sobre o que temos que fazer para nos dar bem nesse novo mundo sinocêntrico.

Temos que melhorar nossa habilidade para diferenciar e diversificar suas exportações explorar nossas vantagens geográficas, particularmente a proximidade com o mercado dos Estados Unidos.

Temos que nos especializar em bens cuja proporção entre preço e custo (especialmente na logística) sejam altas e requeiram entregas rápidas. E temos que impulsionar o crescimento da produtividade e acabar com a cascata de impostos para reduzir as desvantagens dos custos trabalhistas… Ufa!

Sabe quando?

E é assim, a som de CHINA ROCK, de DUDU, com o grupo paulista The Avalons em 1959 que o Café Brasil que tratou da China e do Brasil vai seguindo em frente.

Pois é… Não há tempo a perder. Mas será que temos competência para reagir? Sinceramente? Acho que temos sim. Mas vamos ter que tirar os interesses políticos domésticos e especialmente, os entraves ideológicos, da frente.

Com Lalá Moreira e sua paciência chinesa na técnica, Ciça Camargo e sua cultura chinesa na produção e eu, Luciano Pires, com minhas torturas chinesas na direção e apresentação.

Estiveram conosco o mestre Ozires Silva, Flávio Bortolotto, Regis Mattos , Cristiano Romero, Rodolfo Torres, Lei Qiang, Carol Welsman, Jô de Souza com Tuco Freire, o grupo Flor de Cactus e The Avalons.

Este é o Café Brasil, um programa ouvido por uma turminha aí que está preocupada em se preparar para o futuro fazendo uma coisa que está ficando fora de moda: pensar.

Junte-se a nós: www.portalcafebrasil.com.br

E pra terminar, outro provérbio Chinês:

Antes de começar o trabalho de modificar o mundo, dê três voltas dentro de sua casa.

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