Por Adalberto Piotto
Falta parte da imprensa descobrir que mudou o governo, a que cobre o setor cultural, sobretudo.
Li várias reportagens perguntando apenas para artistas e produtores culturais ligados ao PT sobre as mudanças no comando da pasta da Cultura no governo Temer, iniciado na quinta, sexta.
Que respostas senão as excessivamente críticas e ideológicas esperam ouvir depois do Fla-Flu indigente que se tornou o debate brasileiro com a deletéria instituição do “Nós contra eles” do irresponsável ex-presidente Lula? E mesmo que colha opiniões enviesadas, como se nota, cadê o aprofundamento da entrevista tentando expor o opinante a algumas contradições? Há um declaratório publicado, não entrevistas.
Ao descrever nas reportagens essas opiniões sem grandes questionamentos ou contextualizações, como se representassem uma média geral do pensamento, prejudica-se o contraditório. Há muito mais diversidade de opinião acerca da cultura ou suas políticas públicas por aí do que as ligadas ao governo Lulopetista. Agenda desatualizada para novas fontes, falta de senso crítico nas redações culturais?
Além do que, esses artistas estão mais para destiladores de mágoas e partidarismos do que analistas de questões técnicas, sempre motivados pela razão partidária que parece movê-los. Como avançar no debate sob esse contaminado argumento?
Rótulos como “retrocesso” vertem em análises da profundidade de um pires e são inquestionavelmente publicadas e vendidas como definitivas acerca das políticas culturais do novo governo sem que estas ainda tenha de fato sido apresentadas. Hein?
Preconceito ou mero posicionamento político? Não importa, ambas as posições são ruins e só escancaram ainda mais o aparelhamento que o Ministério da Cultura sofreu sob Lula e Dilma.
Como hábito, esses grupos privatizaram a coisa pública e se negam a discutir qualquer mudança porque perderam a hegemonia do poder que lhes garantia a canetada unilateral.
Não há discussão honesta ou aproveitável com quem prejulga ou apenas usa a crítica para fazer política partidária em vez de cultural. Quem parece politizado se revela apenas um cabo eleitoral.
Há uma imensa parte da classe artística que discorda das políticas implementadas por Juca Ferreira, Gil, etc, e que deveria ser ouvida para ampliar o debate. O contraditório está nela, não na hegemônica e orquestrada opinião dos artistas que são preliminarmente contra o atual governo por outras razões que não a discussão necessária e verdadeira da cultura do Brasil.
Vamos realmente discutir a cultura ou nos deixar levar pelos interesses de quem, ao negar-se ao debate real, se denuncia apenas militante de partido, não da cultura?
Ministérios não são maiores que suas práticas, suas políticas. São meios, não os únicos.
Em tempo: se todo mundo de bom senso reconhece que a máquina pública brasileira é inchada e ineficiente – os números provam isso -, por que artistas “iluminados”, queridinhos da mídia culturete, e jornalistas deslumbrados, tentam transformar, a la Goebbels, a fusão do Minc com o MEC como se fosse um atentado doloso contra si mesmos?
Por que esse grau de rejeição sem tentar compreender as razões maiores da máquina do estado?
Por que corte bom é só na carne do outro? Seria isso?
Há uma hipocrisia e contradição enormes na discussão brasileira por parte desses descolados que se imaginam com cultura ou conhecimento acima dos outros. Há um egoísmo pessoal em detrimento de uma coleitva cultura patriótica de gente aparentemente incapaz de se entender apenas parte de um todo maior chamado Brasil, um país de muitas necessidades, algumas mais urgentes que outras.