Café Brasil 244 – Guerrilheiro Formiga

O programa desta semana é uma aula. De música, de produção independente, de rádio, de criação, de vida de artista. E até dsobre os primórdios da internet no Brasil. Um bate papo especial com 90 minutos de duração com Mauricio Pereira. Mauricio é músico, ator e jornalista. Em 1985 criou com André Abujamra a banda Os Mulheres Negras, um dos ícones da cena musical independente de São Paulo. No início dos anos 90 participou, como cantor, do programa diário Fanzine, na TV Cultura. Entre 1995 e 2009, lançou cinco CDs e em dezembro de 1996 realizou o primeiro show ao vivo via internet no Brasil. Como a maioria dos artistas independentes brasileiros, Mauricio é um guerrilheiro. Um guerrilheiro formiga, como ele mesmo se define. Curta este programa, ele fará com que 90 minutos de seu dia sejam realmente úteis. Na trilha sonora, além do Mauricio Pereira, temos Itamar Assumpção, Miriam Maria, Antonio Marcos, Guilherme Arantes, Jacó e Jacozinho, Tim Maia, Ronnie Von e, é claro, o Mauricio Pereira.

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O programa de hoje é especial Portanto, não teremos aqui o texto completo do programa. Mas as letras das músicas e todos os artistas citados “neste cafezinho” ai estão para complementar todas as informações. Divirtam-se!

Mauricio – Bom dia, boa tarde, boa noite. Tá bom assim, gente? Bom dia, boa tarde, boa noite, bem vindo a mais um Café Brasil. Hoje vamos tricotar sobre o dia útil de um artista independente. E eu estou aqui por isso.

Luciano – Bem, alguns artistas tem uma presença constante aqui no Café Brasil. São os artistas que eu chamo de sócios.. A maioria nem sabe que o Café Brasil existe, mas faço questão de trazê-los porque admiro seu trabalho.

Hoje é um daqueles programas especiais e eu tenho um baita orgulho de ter comigo um dos sócios do Café Brasil, o Mauricio Pereira, um guerrilheiro formiga da Música Popular Brasileira Que Presta. Vamos nos divertir aqui, junto com você.

Pra começar, vou usar uma frase de Henry Kissinger:

Sempre que um exército convencional não ganha, perde.  Já a guerrilha, se não perder, ganha.

E o nosso livro de hoje, um exemplar de Nóis que invertemo as coisa, vai para…ih cara, são dois. Eles vão para a Priscila e a Ana Flávia lá de Mato Grosso, que escreveram assim:

“Bom dia, boa tarde, boa noite Luciano!
Somos alunas da professora Milena Campello, de Cáceres-MT. Ela nos passou na última aula seu podcast, o qual nos chamou muita atenção, pois vai e volta o assunto mídia e sua influência sobre as pessoas aparecem em sala de aula. Em nossa primeira aula este ano vimos com a Milena um texto sobre o mesmo tema, focando porém que grande parte dos estrangeiros resumem as maravilhas do nosso Brasil em três palavras: Carnaval, praia e futebol. São realmente coisas boas, porém não são só estas as características possitivas que possuimos, a cultura de MT por exemplo é muito rica, o nosso pantanal é maravilhoso, mas sabe quando ele passou na TV?
– Quando uma onça atacou um adolescente que estava pescando com amigos, o caso repercurtiu até no Faustão.
Isso nos mostra que a mídia trás uma porcentagem bem maior de notícias ruins. Mas por quê isso?
– Por que essas tragédias trazem mais audiência.
O que vale a pena são programas como o seu, que nos trazem todo tipo de informação e várias visões sobre cada assunto. A propósito, adoramos a músicas do Milton Nascimento, pois nos mostra o quanto correm informações de um canto a outro do país, mas as notícias de fora são tão mais empolgantes, que o povo fica de frente para o mar e de costas para o Brasil. O que com certeza irá acontecer amanhã 29/04/2011 no casamento do príncipe Willian.
Obrigada Lalá, Ciça e Luciano. Obrigada por mais informações, conhecimento e fontes de opinião para que possamos abrir nosso leque de argumentos para o vestibular e para a vida. Beijos, Priscila de Freitas Almeida e Ana Flávia de França Mangueira.”

 Olha só, cara! Duas estudantes aprendendo com o podcast Café Brasil! Que responsabilidade!

Elas ganharam dois livros só porque comentaram o programa. E você? Vai comentar ou não?

Como vocês já perceberam  o programa de hoje é especial Portanto, não teremos aqui o texto completo do programa. Mas as letras das músicas e todos os artistas citados “neste cafezinho” ai estão para complementar todas as informações. Divirtam-se!

Fico louco

Fico louco, faço cara de mau, falo o que me vem na cabeça
Não digo que com tudo isso eu fique legal
Espero que você não se esqueça
Espero ver você curtindo o reggae deste rock comigo
Grite forte, dê um jeito, cante, permaneça comigo
Fico louco, xingo, quebro o pau, só você me faz a cabeça
A gente sofre tanto, vive muito mal
Espero que você não se esqueça
Espero ouvir você dizer que gosta de viver em perigo
Considerando que eu não seja nada mais além de bandido
Fico louco, faço pelo sinal, me atiro ao chão de ponta cabeça
Me chamam de maluco, etc e tal, espero que você não se esqueça
Eu quero andar nas ruas da cidade agarrado contigo
Vivendo em pleno vapor, felicidade contigo

Imbarueri 

Imbarueri
A linha de trem
Um circo marrom 

Imbarueri
Um simples pardal
Revolver azul 

Imbarueri
Paris é New York
Tietê, Tatuí 

Imbarueri
Um índio tupi
Um lobo guará

Imbarueri
O galo cantou
O rato sorriu

Imbarueri
Um táxi feliz
Só eu e você

‘Cê num sabe o que acontece ali.
‘Cê num sabe o que acontece ali.
‘Cê num sabe o que acontece ali.

Pan y leche

Yo quiero estar contente
Eu e toda a minha gente
Yo quero
Pan y leche

Que se possa ir pra frente
Ser bonito inteligente
(sempre)
Pan y leche

E que apesar do presidente
Tenha casa escola e dente
Fartamente
Pan y leche

E que numa noite quente
Por acaso chova e vente
Que bom
Pan e leche

Bem agora derrepentre
Ter vc na minha frente
Rente
Pan y leche

E quando agente deite
Sonhe sossegadamente
Que nos somos
Pan y leche

Tchau tchau tchau arrivedeci
Yo me voy tranquilamente
Sente
Pan y leche

Anticonstitucionalicimamente
Queremos
Pan y leche

Motoboys, girassóis etc e tal

Eu tenho minha musa na calçada
Andar por São Paulo
Horas e minutos me prensam
E eu tenho tempo pra pensar à vontade
Contra a minha vontade
Assaltado por tesouros da minha cidade
Maldita variedade incrível
Diamantes brutos
Todos putos
Interrompidos
Trancados no cofre
Juniors, curumins e mirins
Que a cidade constrói

Motoboys
Girassóis
etc. e tal

Modão de Pinheiros (ou
“É por Isso que as Pessoas Mudam de Bairro”)

foi no bairro de Pinheiros
que eu me entreguei por inteiro
para uma linda moça
que descia a Rebouças

ela entrou na Henrique Schauman
eu logo perdi a calma
virando na Teodoro
eu falei: “eu te adoro”

respondeu-me “deixa disso!”
na Benedito Calixto
e eu fiquei chorando à toa
na calçada da rua Lisboa

mas a sorte foi bacana
e na Cristiano Viana
vi alguém descer contente
desde a Capote Valente

era a moça que se fora
que voltava da João Moura
nós ficamos apaixonados
fomos pra a Dr. Arnaldo

a moça então falou “vem cá que o caso é sério,
vem aqui comigo para o cemitério”
eu disse “minha pequena
comigo não tem esquema
ou nós vamos pro cinema
ou pra a Vila Madalena”

zum!!!

ela então sumiu e me deixou mal
eu desci correndo a rua Cardeal
fui me arrastando a pé…
e emboquei na Sumaré

aí eu fui pro Itaim
e nunca mais se ouviu falar em mim…

e é por isso que as pessoas mudam de bairro.

Balagandans

É justo para se lamentar, a gente abrir mão de segundos
preciosos
Que talvez nos trouxessem direto um pro outro?
É justo que um pote de ouro venha ao seu encontro (e ao meu)
E desencadeie pânico, paralisação, desastres, desculpas?
É justo te dar um beijo na boca à margem da testa, da fala
E da escrita, de uma represa, uma festa?
é justo permitir que uma palavra desgovernada deixe minha boca
E aumente minha resistência a você?
Se uma pessoa só é uma máquina só
Se ela (provavelmente)
Canta, dança, pensa, treme
Aflita
Não será que tem respostas nas pontas dos dedos
-Dados, balangandans no pensamento-
Que costumem nos acompanhar?

O homem de Nazaré

Mil novecentos e setenta e três
Tanto tempo faz que ele morreu
O mundo se modificou
Mas ninguém jamais o esqueceu…

E eu, sou ligado no que Ele falou
Sou parado no que Ele deixou
O mundo só será feliz
Se a gente cultivar o amor…

Hey irmão, vamos seguir com fé
Tudo que ensinou
O Homem de Nazareth…(2x)

Reis e rainhas que esse mundo viu
Todo o povo sempre dirigiu
Caminhando em busca de uma luz
Sob o símbolo de sua cruz…

E eu, sou ligado no que Ele falou
Sou parado no que Ele deixou
O mundo só será feliz
Se a gente cultivar o amor…

Hey irmão, vamos seguir com fé
Tudo que ensinou
O Homem de Nazareth…(2x)

Ele era um Rei
Mas foi humilde o tempo inteiro
Ele foi filho de carpinteiro
E nasceu em uma manjedoura
Não saiu jamais
Muito longe de sua cidade
Não cursou nenhuma faculdade
Mas na vida Ele foi doutor…

Ele modificou o mundo inteiro
Ele modificou o mundo inteiro
Ele modificou o mundo inteiro
Ele revolucionou o mundo inteiro…

Hey irmão, vamos seguir com fé
Tudo que ensinou
O Homem de Nazareth (4x)

A praça

Hoje eu acordei
Com saudades de você
Beijei aquela foto
Que você me ofertou
Sentei naquele banco
Da pracinha só porque
Foi lá que começou
O nosso amor…

Senti que os passarinhos
Todos me reconheceram
E eles entenderam
Toda minha solidão
Ficaram tão tristonhos
E até emudeceram
Aí então eu fiz esta canção…

A mesma praça, o mesmo banco
As mesmas flores, o mesmo jardim
Tudo é igual, mas estou triste
Porque não tenho você
Perto de mim…

Beijei aquela árvore
Tão linda onde eu
Com o meu canivete
Um coração eu desenhei
Escrevi no coração
Meu nome junto ao seu
Ser seu grande amor
Então jurei…

O guarda ainda é o mesmo
Que um dia me pegou
Roubando uma rosa amarela
Prá você
Ainda tem balanço
Tem gangorra meu amor
Crianças que não param
De correr…

A mesma praça, o mesmo banco
As mesmas flores, o mesmo jardim
Tudo é igual, mas estou triste
Porque não tenho você
Perto de mim…

Aquele bom velhinho
Pipoqueiro foi quem viu
Quando envergonhado
De namoro eu lhe falei
Ainda é o mesmo sorveteiro
Que assistiu
Ao primeiro beijo
Que eu lhe dei…

A gente vai crescendo
Vai crescendo
E o tempo passa
E nunca esquece a felicidade
Que encontrou
Sempre eu vou lembrar
Do nosso banco lá da praça
Foi lá que começou
O nosso amor…

A mesma praça, o mesmo banco
As mesmas flores, o mesmo jardim
Tudo é igual, mas estou triste
Porque não tenho você
Perto de mim…(2x)

Meu mundo e nada mais

Quando eu fui ferido
Vi tudo mudar
Das verdades
Que eu sabia…

Só sobraram restos
Que eu não esqueci
Toda aquela paz
Que eu tinha…

Eu que tinha tudo
Hoje estou mudo
Estou mudado
À meia-noite, à meia luz
Pensando!
Daria tudo, por um modo
De esquecer…

Eu queria tanto
Estar no escuro do meu quarto
À meia-noite, à meia luz
Sonhando!
Daria tudo, por meu mundo
E nada mais…

Não estou bem certo
Que ainda vou sorrir
Sem um travo de amargura…

Como ser mais livre
Como ser capaz
De enxergar um novo dia…

Eu que tinha tudo
Hoje estou mudo
Estou mudado
À meia-noite, à meia luz
Pensando!
Daria tudo, por um modo
De esquecer…

Eu queria tanto
Estar no escuro do meu quarto
À meia-noite, à meia luz
Sonhando!
Daria tudo, por meu mundo
E nada mais…(3x)

Cristina

Vou-me embora agora pra longe
Meu caminho é ida sem volta
Uma estrela amiga me guia
Minha asa presa se solta, eu

Vou ver cristina, vou ver cristina, vou ver cristina

E por onde vou, vou deixando
Marcas do meu peito sangrando
Vou cobrir as flores da estrada
De um vermelho amor, madrugada, eu

Preciso ver cristina, minha menina
Preciso ver cristina, minha menina
Preciso vê-la, cristina minha menina

Abrãozinho

Essa é a história do pobre Abrãozinho
Que morava longe de onde estudava
O carro do pai era muito fraquinho
E o pobre Abrãozinho sempre se atrasava
A professora fazia a chamada
E o pobre Abrãozinho nunca respondia
Ele era Abrãozinho, o primeiro da lista
Chegava tarde todo santo dia
O pai do Abrãozinho quase não dormia
Porque todo dia seu filho sofria
Vai desperdiçar tanta inteligência
Só porque o meu carro não tem mais potência
Pensou em trocar o nome do menino
Pra Zózimo, Zuza ou até Zeferino
Quem sabe se o nome começa com Z
Ele chega a tempo de respoder
Pensando melhor, trocou seu carro fraco
Por um Volkswagen que é o carro certo
Chegando na escola a partir desse dia
Mais cedo que os outros que moravam perto
O pai do Abrãozinho com seu Volkswagen
Deu uma consertada na situação
Seu filho venceu toda dificuldade
E nunc mais chegou depois da hora, não
Completanto escola, curso, faculdade
Hoje o Abrãozinho é doutor Abrão!

A loira da caravan

foi voltando pela estrada
de um show em Bauru
era quase meia-noite
e eu cansado pra xuxu
ao meu lado Paulo Freire
violeiro sem igual
testemunha incontestável
dessa história abismal

numa curva lá da serra
descendo pro rio Tietê
o carro desgovernou
sem que eu soubesse por quê
capotou 5 ou 6 vezes
achei que nós ia morrer
foi bater numa mangueira
eu só vi manga descer
…..
o Paulinho olhou pra mim
vi que ele estava bem
tocou a sua viola
que soava bem também
fui andando até a estrada
para procurar ajuda
e uma caravan parou
com uma dona cabeluda

sua voz era bonita
muito rouca e sensual
logo me envolveu com os braços
perguntou: “cê tá legal?”
a noite era muito escura
e não dava bem pra ver
mas que ela tava gelada
isso eu pude perceber
…..
eu fiquei arrepiado
bem no meio do verão
seus lindos cabelos loiros
não sentiam compaixão
eu fiz o sinal da cruz
mas aquela cortesã
já estava me arrastando
para a sua caravan

ainda estava atordoado
pela bruta colisão
inclusive preocupado
se o Paulinho estava bom
ela me beijou na boca
“não preocupa com ele, não:
vamo namorá gostoso
nessa baita escuridão”
…..
eu achei interessante
ela me beijar sem dó
só que os beijos que ela dava
tinha gosto de jiló
porém noite igual aquela
não acontece todo dia
‘proveitei bem o momento
pra namorar a vadia

a sua pele macia
fez o meu sangue subir
suas pernas me enrolava
feito uma sucuri
fui beijar o seu pescoço
ela veio me impedir
“nunca olhe no meu olho”
ela disse para mim
…..
nós já estava no bembom
pitando um bom cigarrinho
o remorso me acordou
“xi, eu esqueci do Paulinho!”
o coitado lá no carro
no fundo da ribanceira
e eu aqui me divertindo
já passou uma noite inteira

sem querer pulei pro lado
qualquer coisa eu enganchei
e o cabelo brilhante
por acaso eu arranquei
“a mulher não tem cabeça!”
e voou pra a eternidade
o carro sumiu também
eu juro que isso é verdade
…..
mas que cena horripilante!
fui pensando no caminho
vão dizer que eu tou maluco
que é que eu falo pro Paulinho?
e é então que eu vejo ele
tocando seu instrumento
pruma moça que dançava
pulando que nem jumento

eu gritei “nossa senhora!
sai de mim alma penada!”
comé que isso é possível
se inda agora lá na estrada
vi ela sair voando
bufando descabelada
com sua caravan de prata
‘tropelando a madrugada
…..
foi então que aquela cena
outra vez aconteceu
uma corda da viola
enroscou o cabelo seu
a loira saiu voando
cabeça não tinha ali
eu fiquei de boca aberta
Paulinho também, que eu vi

nós ficamos em silêncio
empurramo o carro pra estrada
movimento se formando
já raiava a alvorada
inda sem dizer palavra
fomos voltando pra casa
com o coração por dentro
consumindo feito brasa
…..
num posto de gasolina
na cidade de Pardinho
fomos tomar um café
espertar devagarinho
de repente um sentimento
que sobrou daquela noite
foi se apresentando claro
estralando feito o açoite

não tem mesmo escapatória
capricho da natureza
ver que o destino do homem
é confrontar com a tristeza
de arrastar essa saudade
densa, turva, escura, espessa
de querer beijar a boca
de uma loira sem cabeça

Chico mulato

Na volta daquela estrada
Bem em frente uma encruzilhada
Todo ano a gente via
Lá no meio do terreiro
A imagem do padroeiro
São João da Freguesia
Do lado tinha a fogueira
Em redor a noite inteira
Tinha caboclo violeiro
E uma tal de Terezinha
Cabocla bem bonitinha
Sambava nesse terreiro
Era noite de São João
Estava tudo no serão
Estava Romão, o cantador
Quando foi de madrugada
Saiu com Tereza pra estrada
Talvez, confessar seu amor
Chico Mulato era o festeiro
Caboclo bom, violeiro
Sentiu frio seu coração
Rancou da cinta o punhal
E foi os dois encontrar
Era o rival, seu irmão
Hoje na volta da estrada
Em frente àquela encruzilhada
Ficou tão triste o sertão
Por causa de Terezinha
Essa tal de caboclinha
Nunca mais teve São João

Tapera de beira da estrada
Que vive assim descoberta
Por dentro não tem mais nada
Por isso ficou deserta
Morava Chico Mulato
O maió dos cantadô
Mas quando Chico foi embora
Na vila ninguém sambou
Morava Chico Mulato
O maió dos cantadô
A causa dessa tristeza
Sabida em todo lugar
Foi a cabocla Tereza
Com outro ela foi morar
E o Chico, acabrunhado
Largou então de cantar
Viva triste e calado
Querendo só se matar
E o Chico, acabrunhado
Largou então de cantar

Saudosa maloca

Si o senhor não está lembrado
Dá licença de contá
Que aqui onde agora está
Esse edifício arto
Era uma casa véia
Um palacete assombradado
Foi aqui seu moço
Que eu, Mato Grosso e o Joca
Construímos nossa maloca
Mais, um dia
Nem nóis nem pode se alembrá
Veio os homi cas ferramentas
O dono mandô derrubá
Peguemo todas nossas coisas
E fumos pro meio da rua
Aprecia a demolição
Que tristeza que nóis sentia
Cada táuba que caía
Duia no coração
Mato Grosso quis gritá
Mas em cima eu falei:
Os homis tá cá razão
Nós arranja outro lugar
Só se conformemo quando o Joca falou:
“Deus dá o frio conforme o cobertor”
E hoje nóis pega a páia nas grama do jardim
E prá esquecê nóis cantemos assim:
Saudosa maloca, maloca querida,
Dim dim donde nóis passemos os dias feliz de nossas vidas
Saudosa maloca,maloca querida,
Dim dim donde nóis passemo os dias feliz de nossas vidas.

Um dia útil

de manhã eu levantei, fiz xixi
li o jornal
sem escovar o dente

tomei café com leite (como sempre correndo)
me arrumei, fui trabalhar
nem lembrei de dizer tchau pro povo lá de casa

fui tocar música com meus amigos músicos
aí eu canto (o dia inteiro eu canto)
e canto, e canto, e canto, e canto

às vezes pra ninguém porque é ensaio
às vezes pra ninguém mesmo não sendo ensaio
mas sempre junto com meus amigos músicos

e quando vai a multidão
parece que eu sou tão importante
depois acaba tudo
e eu volto quieto pra casa

e quando eu chego lá em casa
tá todo mundo dormindo
tá tudo escuro
escuro pra burro

eu fico olhando a rua pela janela de casa
é madrugada
eu sozinho com eles dormindo

desligo
a última luz da casa
vou dando trombada
até o quarto dos moleques

beijo eles, um por um
cubro eles, um por um
tropeço um bocado
pra chegar na minha cama

eu dou
um beijo leve e demorado
nos cabelos
da minha mulher que dorme

eu tiro a roupa
eu deito acordado
eu tô nu
eu me cubro
olhos arregalados numa fresta de luz no teto

e eu sonho sozinho
com meu coração pequenininho
minha compreensão também pequenininha
do conjunto das coisas todas

eu, com medo da morte, e tudo mais
sonhando sozinho, eu me pergunto
se quando a gente canta alguém presta atenção na letra

mas eu tento tentar dormir
aí vem aquele monte de dúvidas
que a gente tem quando trabalha como artista

e vem fé e vem tristeza e vem alegria
e tesão e neura e fantasia
e dionísio e ditadura

e eu não sei, não sei, não sei, não sei…
eu pego no sono
eu preciso dormir um pouco
e sonhar muito

porque se o cara não descansa ele não canta direito
e não leva sustança
pro coração do cidadão comum

e amanhã é mais um grande dia
um dia comum de muito trabalho
um dia grande
que nem um diamante

um longo dia belo
um baita dia duro e lindo
eu ganho pra estar brilhante
num dia útil

um dia útil
um dia útil
um dia útil

Trovoa

Minha cabeça trovoa
sob meu peito te trovo
e me ajoelho
destino canções pros teus olhos vermelhos
flores vermelhas, vênus, bônus
tudo o que me for possível
ou menos
(mais ou menos)
me entrego, ofereço
reverencio a tua beleza
física também
mas não só
não só

graças a Deus você existe
acho que eu teria um troço
se você dissesse que não tem negócio
te ergo com as mãos
sorrio mal
mal sorrio
meus olhos fechados te acossam
fora de órbita
descabelada
diva
súbita…
súbita…

seja meiga, seja objetiva
seja faca na manteiga
pressinto como você chega
ligeira
vasculhando a minha tralha
bagunçando a minha cabeça
metralhando na quinquilharia
que carrego comigo
(clipes, grampos, tônicos):
toda a dureza incrível do meu coração
feita em pedaços…

minha cabeça trovoa
sob teu peito eu encontro
a calmaria e o silêncio
no portão da tua casa no bairro
famílias assistem tevê
(eu não)
às 8 da noite
eu fumo um marlboro na rua como todo mundo e como você
eu sei
quer dizer
eu acho que sei…
eu acho que sei…

vou sossegado e assobio
e é porque eu confio
em teu carinho
mesmo que ele venha num tapa
e caminho a pé pelas ruas da Lapa
(logo cedo, vapor… acredita?)
a fuligem me ofusca
a friagem me cutuca
nascer do sol visto da Vila Ipojuca
o aço fino da navalha me faz a barba
o aço frio do metrô
o halo fino da tua presença

sozinha na padoca em Santa Cecília
no meio da tarde
soluça, quer dizer, relembra
batucando com as unhas coloridas
na borda de um copo de cerveja
resmunga quando vê
que ganha chicletes de troco

lebrando que um dia eu falei
“sabe, você tá tão chique
meio freak, anos 70
fique
fica comigo
se você for embora eu vou virar mendigo
eu não sirvo pra nada
não vou ser teu amigo
fique
fica comigo…”

minha cabeça trovoa
sob teu manto me entrego
ao desafio de te dar um beijo
entender o teu desejo
me atirar pros teus peitos
meu amor é imenso
maior do que penso
é denso
espessa nuvem de incenso de perfume intenso
e o simples ato de cheirar-te
me cheira a arte
me leva a Marte
a qualquer parte
a parte que ativa a química
química…

ignora a mímica
e a educação física
só se abastece de mágica
explode uma garrafa térmica
por sobre as mesas de fórmica
de um salão de cerâmica
onde soem os cânticos
convicção monogâmica
deslocamento atômico
para um instante único
em que o poema mais lírico
se mostre a coisa mais lógica

e se abraçar com força descomunal
até que os braços queiram arrebentar
toda a defesa que hoje possa existir
e por acaso queira nos afastar
esse momento tão pequeno e gentil
e a beleza que ele pode abrigar
querida nunca mais se deixe esquecer
onde nasce e mora todo o amor

E é assim, ao som de TROVOA, com o Mauricio Pereira que o Café Brasil Guerrilheiro Formiga com o Mauricio Pereira vai embora. Espero que a gente tenha conseguido fazer um pedacinho do seu dia útil.

Com o guerrilheiro Lalá Moreira na técnica, a guerrilheira Ciça Camargo na artilharia e eu, o comandante Luciano Pires na direção e apresentação.

Estiveram conosco Itamar Assumpção, Miriam Maria, Antonio Marcos, Guilherme Arantes, Jacó e Jacozinho, Tim Maia, Ronnie Von, as ouvintes Prscila e Ana Flávia e, é claro, o Mauricio Pereira.

Este é o Café Brasil, um programa ouvido por gente interessada em exercitar o cérebro, formadora de opinião e que influencia outras pessoas. Já pensou a sua marca aqui, mostrando que você se importa? Seja um patrocinador do Café Brasil. Custa pouco, não dói nada e você ainda ajuda a estimular as pessoas a pensar. Pensar? Pô, meu, no Brasil de hoje isso é fazer muito! Entre em contato através do www.portalcafebrasil.com.br  e junte-se a nós!

Pra terminar, uma frase do político, pensador, jornalista, filósofo, poeta e maçom cubano José Martí:

Perder uma batalha não é mais que a obrigação de ganhar outra.

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