2015

Tinha um ano quando a distopia de Stanley Kubrick em seu filme “2001 – Uma Odisséia no Espaço” anunciava uma nova existência nos acordes de “Assim Falou Zaratustra” de Richard Strauss. A conquista de um novo mundo, do espaço, do futuro. A maravilha do simbólico, do mistério, do enigma. O eterno estrangeiro que nos habita na essência do absurdo que somos, daria porre a Camus, todavia fez a promessa do futuro não ser tão previsível assim. E o que é nosso mundo hoje?

Hoje vivemos em um mundo totalmente instável. O permanente flutua sem rumo certo. 2015 é demarcado pelo burlar de regras, mutabilidade extrema, nada nem ninguém são eternos. O que vale é o agora e não vale a pena perder tempo com passado ou futuro. Ficar é mais importante que ser. Prudência e previdência palavras ermas em desuso. Hoje quem quer sobreviver tem de ser flexível e estar pronto a mudanças.

As ideologias em 2015 foram substituídas pelo capitalismo especulativo. Valem apenas quando o indivíduo quer se dar bem.  Esquerda e direita confundem se em uma orgia satânica. Sobreviver em 2015 implica em não se arraigar a nenhuma ideologia seja ela política, racial, religiosa. Para sobreviver é necessário desconfiar.

Em 2015 é vergonhoso ser honesto. A corrupção ganha regras claras que aviltam o juízo. Roubo torna se comum, naturalizado. O valor do trabalho relegado ao quanto o estado pode retirar do contribuinte, sempre visto como sonegador. Impostos em alta, usados para o enriquecimento lícito de políticos. Inflação escondida rouba a pujança. Sobreviver implica em rolar dívidas, aprender a viver na corda bamba, a apertar o cinto por que o piloto sumiu.

Os valores invertidos são a essência de 2015. O errado feito de certo e vice versa. O mundo feito de mutabilidade que cheira a volatilidade.”O pra sempre, sempre acaba” dá ao ar de 2015 uma eterna finitude, a certeza de que o fim esta próximo, fim este que jamais chega. Viver bem em 2015 é sair do negativismo, da apatia, do pessimismo.

Freud se vivo teria de reescrever sua teoria do desejo em 2015. O marketing e a vida plastificada, retirou do ser humano seu potencial criativo e de  desejo. A vontade é pensada nas estratégias de mercado. A escolha manipulada pela publicidade fazem a satisfação ter ar de comédia do absurdo. Ser feliz é propaganda de margarina. Viver bem em 2015 é resgatar a essência e reencontrar a própria identidade substituída pelo arbítrio e manipulação dos meios.

2015 é demarcado pelo fanatismo e superficialidade. A imagem documenta a realidade no extremo da ficção. Nada tem valor se não for registrado em aparência. Pose mais importante que ser. A essência em crise evidenciam o novo rumo dos anos vindouros: doença ou resgate da individualização…

(continua na próxima semana)